Eles nasceram na Paraíba, mas foi no Núcleo Rural de Tabatinga, no Distrito Federal, que eles se conheceram, em 1997. Os agricultores familiares Idaiane Cristine de Matos, de 34 anos, e José Barbosa de Araújo, de 50, filhos de produtores rurais nordestinos, seguiram o caminho dos pais e hoje veem seus filhos trilharem o mesmo caminho.
No início, os dois trabalhavam em terrenos arrendados e produziam verduras. Nessa época, tiveram dois filhos: Thaian Sarmento de Araújo, hoje com 16 anos, e Willian Sarmento de Araújo, de 13. Desde criança, os garotos ajudam os pais e acompanham de perto o sonho de ter a própria terra. Em 2011, eles chegaram no assentamento do Pipiripau, há 50 km de Brasília (DF), onde conseguiram ter a posse de um terreno de 7,5 hectares. O terceiro filho, Rian Andrei Sarmento de Andrade, de 5 anos, já nasceu no espaço conquistado pela família.
Na plantação da nova propriedade, o casal começou com o maxixe e foi acrescentando outras culturas até chegar na diversidade atual: couve-flor, brócolis, pimentão, pimenta-de-cheiro, maracujá, limão, abóbora, repolho, entre outros. Os filhos não só ajudam os pais na produção, como também têm um espaço para os seus próprios cultivos. O mais velho, Thaian, cultiva brócolis, pimenta e pimentão. Já Willian produz feijão de corda. Idiane acredita que os filhos se interessaram pela produção porque sempre viram os pais trabalhar para conquistar o que queriam. “Eles nos viram plantando e sempre gostaram de semear e ver os alimentos crescerem, se multiplicarem. E, claro, eles gostam ainda mais de receber pelo que fazem”, conta a mãe.
“Eu comecei a gostar da agricultura vendo meus pais plantarem e gosto do que faço. Ganho dinheiro com isso e invisto na minha produção. Eu gosto cada vez mais de estar no campo. Já até consegui comprar um carro e uma moto com o meu esforço”, comemora o mais velho.
Para seu José Barbosa, trabalhar em família é bom porque um ajuda o outro. “Trabalhamos todos juntos, eu o ajudo na plantação dele e ele nos ajuda na nossa”. Além do investimento na produção, a família está construindo uma casa que ficará de herança para os filhos. “A gente pretende viver daqui e dar melhoria para os filhos”, conta José.
Comercialização
A produção da família é vendida nas feiras de Planaltina, às terças e sextas-feiras, e de Formosa, aos domingos. Mas o grande retorno financeiro é com a entrega dos produtos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do qual os produtores participam há dois anos. “Com o dinheiro que recebemos pelo PAA, nós investimos na produção com irrigação, melhoramos bombas. Ano passado, conseguimos vender um total de R$6,5 mil”, conta o pai.
Sucessão Rural
De acordo com o Censo de 2010, o Brasil possui 8 milhões de jovens no campo, ou seja, mais de um quarto da população rural do país tem entre 15 e 29 anos. Desse número, grande parte pertence a comunidades tradicionais, indígenas ou são jovens assentados da reforma agrária.
Leonardo Taveira, analista técnico da Secretaria da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), diz que o êxodo rural vem diminuindo com o tempo, mas ainda continua acontecendo. Ele avalia que se os jovens não permanecerem no campo, o futuro da agricultura familiar está em risco.
“A sucessão rural envolve a sucessão das propriedades e da profissão de agricultor familiar. E estamos falando também da soberania e da segurança alimentar, já que a agricultura familiar é a grande responsável pela produção de alimentos saudáveis. Sem a sucessão rural, a gente coloca em risco a alimentação do país”, explica Leonardo.