Cervejas artesanais terão gosto de fruta nativa da agricultura familiar

Cervejaria produz rótulos em parceria com cooperativas extrativistas e sustentáveis do Norte e Nordeste do país, descobrindo novas receitas para frutas nativas

Fonte: Divulgação/MDA

A ideia de produzir uma cerveja que valoriza as frutas nativas brasileiras, cultivadas dentro da estrutura ecoextrativista com fortalecimento do pequeno produtor rural, deu origem a dois tipos de cervejas artesanais no estilo ‘saison’ com sabores do campo: umbu e murici.

A Saison de Umbu foi lançada em março de 2015, no Festival de Uauá, no município de mesmo nome do evento, no sertão na Bahia. É nessa localidade que está a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos Uauá e Curaçá (Coopercuc), que forneceu 300 quilos da polpa da fruta. “Nada mais justo de lançarmos a cerveja junto às pessoas que cultivam o umbu”, salienta o pernambucano Artur Schuller, um dos três proprietários da cervejaria mineira Experimento Beer.

No primeiro lote do sabor umbu foram produzidos 1,5 mil litros de cerveja. No segundo, entre agosto e dezembro, mais seis mil litros e o terceiro deve sair em breve. “Os produtores familiares da região também ajudaram a vender a cerveja. Estimo que do total produzido, eles venderam 80% da primeira produção e 40% da segunda”, conta.

Conforme Jussara Dantas de Souza, gerente de projeto da Coopercuc, o umbu é uma fruta que só existe no nordeste brasileiro e é pouco conhecida. “A ideia de lançar uma cerveja com a fruta contribui para a sua divulgação. Atualmente, 30% da renda dos agricultores familiares da região são do umbu. Com ele, são produzidos vários alimentos, como compotas, doces cremosos e geleias”, comenta.

A Coopercuc conta com mais de 500 cooperativados, que vivem principalmente do beneficiamento de frutas nativas.

Saison de Murici

Já a Saison de Murici foi apresentada no início deste ano em São Paulo. As frutinhas amarelas têm origem no ecoextrativismo, na região do Bico do Papagaio, e foram fornecidas pela Cooperativa de Produção e Comercialização dos Agricultores Familiares Agroextrativistas e Pescadores Artesanais do município de Esperantina (Cooaf-Bico), localizada no norte de Tocantins.

A diretora-presidente da Cooaf-Bico, Maria Senhora Carvalho da Silva, conta que os produtores familiares da localidade não tinham muito interesse em cultivar a frutinha por falta de mercado. “Nesse primeiro lote, 15 agricultores forneceram 40 quilos de murici. Porém 30 produtores têm condições de fornecer a fruta, se as vendas deslancharem”, adianta.  A expectativa de Maria é que a bebida caia no gosto dos cervejeiros, assim a renda dos produtores poderia aumentar em até 40%.  Segundo ela, tem muito murici na região. 

Por ter um sabor marcante, não é usada uma grande quantidade de murici na produção da cerveja. No primeiro lote, foram fabricados 1,2 litros da bebida e sobrou 2/3 da fruta no estoque. Para o assessor técnico da ONG Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins (Apa-TO), João Palmeira, filho de agricultores familiares, a quantidade vendida da fruta, neste primeiro momento, não é o mais importante. Ele fala que a cervejaria abriu uma nova possibilidade de comércio para esses produtores e para a valorização dessa frutinha que pode ser extinta no futuro. “Além de ajudá-los a se organizarem para fornecerem o produto dentro da lógica do mercado”, acrescenta.

Acerveja aproxima o campo da cidade, acredita Palmeira. “Cria uma interação importante entre a agricultura familiar e o meio urbano. Ao comprar a cerveja, o consumidor colabora com o equilíbrio do ecossistema, pois estimula esses agricultores a preservarem as frutas nativas, ao invés de substituí-las por outro tipo de produção, que não seja da região. A agricultura familiar tem um papel muito importante na preservação da biodiversidade”, explica.

Mais três sabores no mercado

Para 2016, a Experimento Beer aposta em três novos sabores, que já estão prontos para serem apresentados ao mercado cervejeiro. Todos dentro da mesma lógica de fabricação das atuais cervejas, com frutas nativas fornecidas pelas cooperativas. Os próximos rótulos trazem na receita o coquinho azedo (parecido com butiá), da região do Norte de Minas Gerais; o caju desidratado, proveniente da Serra do Mel, no Rio Grande do Norte; além do pau-santo, uma espécie de madeira cultivada no Peru – única que não é de fruta nativa do Brasil.