Chacina em MT: trabalhadores foram torturados, afirma a polícia

Perícia confirma que os assassinatos aconteceram um dia antes de os corpos serem encontrados. Pelo menos dois deles foram mortos com golpes de facão e enxada.

Após as primeiras perícias nos corpos dos nove trabalhadores rurais assassinados na região de Colniza, no Mato Grosso, os técnicos da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), constataram que as vitimas foram amarradas e violentamente torturadas.

Outro fato revelado, é que os corpos já apresentavam avançado estado de decomposição, o que indicaria que a morte aconteceu por volta da tarde do dia 19 de abril, ou seja, na quarta-feira, um dia antes de serem encontrados pelas autoridades.

A polícia ainda informou que dos 9 assassinados, sete morreram devido a tiros de uma arma calibre 12, e outros dois a golpes de facão e enxada. Um dos trabalhadores foi decapitado, outro foi encontrado com um facão atravessado no pescoço, uma barbárie comenta a polícia.

Sete dos assassinados eram de Rondônia, um era de Alagoas e um de Mato Grosso. Oito deles já foram identificados: Izaul Brito dos Santos (50 anos), Ezequias Santos de Oliveira (26 anos), Samuel Antônio da Cunha (23 anos), Francisco Chaves da Silva (56 anos), Aldo Aparecido Carlini (50 anos), Edson Alves Antunes (32 anos), Valmir Rangeu do Nascimento (55 anos) e o pastor Sebastião Ferreira de Souza (57 anos). O nono ainda passará por análise de DNA, para ser identificado com precisão, mas acredita-se que seja de Fábio Rodrigues dos Santos (37 anos).

Os corpos já foram liberados para que as famílias possam fazer o sepultamento. Um foi enviado para Rondônia, no município de Cerejeira, três foram para Guariba (MT) e o restante ficou em Colniza mesmo. O caminhão usado para o transporte dos corpos foi cedido pela prefeitura municipal de Colniza. E as equipes que trabalharam no caso receberam o apoio da pastoral liderada pelo bispo Dom Neri.

Pressão por uma apuração rigorosa

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do estado, sediada em Cuiabá, divulgou uma nota repudiando os acontecimento e cobrando uma apuração rigorosa dos fatos, já que tudo leva a acreditar que a chacina está relacionada a disputa de terras.

Leia a nota na integra:

A Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT) lamenta profundamente o episódio ocorrido no distrito de Taquaruçu do Norte, em Colniza, na última quinta-feira (20) quando nove pessoas foram brutalmente assassinadas.

A Ordem, por meio da Comissão de Direitos Humanos, acompanhará toda a investigação cobrando uma apuração rigorosa e correta do caso. Ainda, a entidade solicitará à Polícia Federal que atue conjuntamente com as forças policiais do Estado no procedimento investigatório.

Isso porque há muito tempo a questão agrária e fundiária, especialmente na região Norte de Mato Grosso, deixou de ser palco de disputa de terras para se tornar um cenário de violência constante e descontrolada.

Não se pode admitir, nos dias de hoje, que a que episódios brutais como estes se transformem em estatísticas. Não vivemos numa terra sem leis e não podemos admitir que se pense o contrário.

Como advogada da sociedade, a Ordem preza pela boa administração da Justiça e, neste caso, a apuração rigorosa de todos os fatos é imprescindível. Por isso, a OAB-MT envidará todos os esforços para que os fatos sejam esclarecidos e processados nos termos da lei.

Entenda o caso

Um conflito por terras no município de Colniza, em Mato Grosso, teria deixado trabalhadores rurais mortos nesta quinta-feira, dia 20, segundo informou a Secretaria de Segurança Pública do estado. Devido à dificuldade de acesso ao local e sinal de telefonia precário, o número de mortos não era preciso.

De acordo com testemunhas, homens encapuzadas invadiram uma gleba em uma área denominada Taquaruçu do Norte e assassinaram os moradores locais, incluindo crianças e idosos. A área do conflito, onde vivem cerca de 120 famílias, é um assentamento irregular que não pertence ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), segundo a polícia.


Vista aérea de onde foram encontradas as vítimas.