Déficit de armazenagem de grãos no país é de 40 milhões de toneladas por ano, estima Conab

Silos brasileiros têm capacidade para 146 milhões de toneladas; safra 2013/14 deve alcançar 190 milhões de toneladasOs silos brasileiros estão lotados nesta época do ano, mas boa parte da produção agrícola não tem onde ser armazenada. Nos últimos anos, a infraestrutura de armazéns não acompanhou o crescimento do agronegócio no país. A estimativa é de que a cada safra, 20 bilhões de dólares sejam perdidos no processo de produção do campo à cidade. O Rural Notícias começou a exibir nesta sexta, dia 18, uma série de reportagens sobre os desafios da armazenagem no Brasil.

Os silos espalhados pelos campos brasileiros têm capacidade estática para armazenar pouco mais de 146,3 milhões de toneladas de grãos, segundo dados do Ministério da Agricultura (Mapa). Não é o suficiente para a produção, que nesta safra deve alcançar 190 milhões de toneladas. De acordo com a Fundação das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o ideal é que os países tenham capacidade para armazenar 120% do que produzem.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) admite que pelo menos 40 milhões de toneladas ficam fora dos armazéns todos os anos, porque falta espaço. O déficit é maior na região Centro-Sul, passando de 35,3 milhões de toneladas. Depois o Norte e Nordeste, com 5,6 milhões de toneladas.

Segundo levantamento de 2013, 86,44% da capacidade estática dos armazéns brasileiros estão fora da porteira.  Dos 17.384 mil silos, 13.850 mil são de empresas privadas, as tradings. As cooperativas têm 3029 armazéns, o que representa 20,57% da capacidade nacional de armazenagem e é insuficiente para absorver toda a produção dos cooperados.

O engenheiro Renato Pavan tem 35 anos de experiência na área de infraestrutura e transportes e diz que a deficiência de armazenagem no campo atinge toda a cadeia produtiva, causando perdas na colheita e encarecendo o transporte e a entrega do produto tanto no mercado interno quanto na exportação.

– O que acontece hoje: colhe, põe no caminhão e vai para o silo coletor, porque não tem armazenagem. Enfrenta fila e esse milho começa arder, perdendo recursos, desvalorizando. Os Estados Unidos produzem 500 milhões de toneladas de grãos, 66% é armazenado na fazenda. No Brasil, nós temos apenas 15%. Então, nós temos apenas 30 milhões toneladas na propriedade. Se a gente tem uma safra de 180 milhões, temos um déficit de 150 milhões de toneladas na fazenda – afirma Pavan.

O engenheiro responsabiliza o governo pela situação e diz que, apesar da liberação de R$ 5 bilhões de recursos anunciada no ano passado, há 20 anos o setor não tinha qualquer incentivo e o sistema de armazenagem público não atende a demanda.

– Na Conab, que é a armazenagem reguladora, tem um problema sério, eles consideram 44% da safra como Conab, mas acontece que tem armazéns de sacaria, silos mal localizados… Então, a Conab precisa de mais de 1 milhão de toneladas espalhados estrategicamente pelo Brasil para resolver – aponta o engenheiro.

O governo garante que está atento a esta situação. O investimento neste ano deve chegar a R$ 500 milhões para construção de 10 armazéns e reforma dos que já existem. Com isso, a capacidade estática da Companhia vai ter um acréscimo de 900 mil toneladas. Hoje, os armazéns da Conab respondem por 4% do total da capacidade estática do país.

– A Conab está se preocupando, para que a gente possa construir armazéns dentro da nova realidade logística brasileira. No traçado das ferrovias, das novas rodovias, enfim, da malha logística brasileira, e com isso vamos ter sempre armazéns da Conab em locais estratégicos, que possam realmente facilitar o escoamento da produção – explica o ex-diretor de abastecimento da Conab, Marcelo Melo.

A cooperativa dirigida por Walter Pitol, no Estado do Paraná, é uma das maiores do Brasil, tem quase 5 mil cooperados e emprega mais de 7 mil pessoas. Os silos da cooperativa têm capacidade para receber até 180 mil sacas de milho por dia e de armazenar 600 mil toneladas. No planejamento para os próximos anos, a meta é aumentar a capacidade para 900 mil, R$ 160 milhões vão ser investidos na modernização e ampliação dos armazéns.
 
– Você fazer investimentos, altos investimentos sem a participação do governo é muito difícil – comenta Pitol.

Especialistas defendem que os ganhos de quem armazena são maiores. Estima-se que o investimento num silo tem retorno em quatro, no máximo cinco anos. Eduardo Costa Cassiano percebeu a diferença logo que instalou armazéns na propriedade. O produtor planta soja e milho no oeste do Paraná e tem dois silos, ambos cheios. Um com milho, outro com soja. São 50 mil sacas que ele reserva, para negociar na entressafra.

– No segundo semestre há um deslocamento de preços, do preço da lousa, da cooperativa para o preço disponível no mercado. A rentabilidade aumenta em torno de 6%, até 10% – explica Cassiano.

O investimento foi de R$ 250 mil em cada armazém, mais R$ 700 mil para a parte onde estão os equipamentos. O negócio tem sido tão bom, que o produtor rural estuda a construção de outros dois silos, prevendo gastar pelo menos R$ 1 milhão na estrutura.

– Estamos buscando financiamento do governo. Não fosse isso, não daria – reforça Cassiano.

Na reportagem de segunda, dia 21, você vai ver o quanto o Brasil perde pela falta de armazéns. Em Mato Grosso, o Estado que mais produz grãos no Brasil, produtores são obrigados a deixar boa parte da colheita a céu aberto.

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