Déficit hídrico trará prejuízo de R$ 1 bi na Bahia

Para a soja, a previsão de produtividade média inicial era de 56 sacas por hectare e o rendimento acabou fechando em 35 sacas por hectare, ante 49 sacas por hectare no ano passado

Fonte: Carlos Burin/Arquivo Pessoal

O clima desfavorável ao longo de toda a temporada 2015/2016, que se encerra em junho, reduziu as perspectivas de produção de soja, milho e algodão no oeste da Bahia, gerando prejuízo de R$ 1 bilhão para a região, apontou o assessor de Agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). 

“Todas as três principais culturas sofreram bastante”, assinalou Stahlke. “O acumulado no lugar em que mais choveu foi de cerca de mil milímetros, sendo que a nossa média é de 1.400 mm, então houve déficit de pelo menos 400 mm ante a média regional.”

Para a soja, a falta de chuvas começou já no plantio, realizado a partir de novembro no oeste baiano. “Foi muito diferente dos outros anos em que, por mais tempo de seca que a gente tivesse, o plantio sempre era bem feito. Nesta safra não teve este cenário”, disse Stahlke. 

A soja foi plantada em 1,53 milhão de hectares, abaixo dos 1,60 milhão de hectares inicialmente previstos, porque áreas novas, consideradas de maior risco, não foram ocupadas. Ainda assim, a área superou à observada no ano passado, de 1,42 milhão de hectares. Com a média de 500 mm a 600 mm de chuva registrada em janeiro, a aparência das lavouras melhorou mas, quando chegou fevereiro, no enchimento de grãos, parou de chover e foram registradas temperaturas elevadas. “A planta sofreu, as folhas começaram a queimar, não encheu o grão, então aí começou o declínio.” 

A previsão de produtividade média inicial, que era de 56 sacas por hectare, não se confirmou. O rendimento acabou fechando em 35 sacas por hectare, ante 49 sacas por hectare no ano passado. “Se aquelas áreas novas tivessem sido plantadas, teria caído ainda mais”, afirmou o assessor.

No caso do milho, 80% do plantio foi feito também em novembro. As lavouras sofreram com falta de chuva em dezembro, o que foi determinante para o rendimento. “Não adiantou a chuva de janeiro, porque já tinha tido problema de produtividade, por isso que o milho caiu da média prevista de 165 sacas por hectare para 115 sacas por hectare no final”, destacou. No ano passado, o rendimento médio ficou em 135 sacas por hectare. A área plantada com o cereal em 2015/2016 foi de 135 mil hectares, ante 165 mil hectares há um ano. “Além de o custo estar mais alto do que a soja, o milho não tem tanta liquidez na região e depende de colher para vender. Produtor consegue vender a soja verde (comercialização antecipada), é um mercado mais fácil para ele.”

Quanto ao algodão, o plantio foi dificultado pela estiagem de dezembro e, em janeiro, o excesso de chuvas prejudicou o crescimento de parte das plantas. “Quando veio fevereiro, mês em que seriam feitas as coberturas com adubo para o desenvolvimento, não choveu, aí ficou um algodão de porte baixo, com poucas maçãs”, destacou Stahlke. “Ainda teria uma recuperação se tivéssemos chuva no fim de fevereiro para março, só que não ocorreram mais chuvas”, disse. 

A previsão de produtividade, que inicialmente era de 270 arrobas por hectare, agora está em 180 arrobas por hectare, com perspectiva de baixa, segundo o assessor da Aiba. Em 2014/2015, a média foi de 260 arrobas/hectare. A área semeada totalizou 227 mil hectares. 

Próxima safra

Produtores já começam a fechar o pré-custeio da temporada 2016/2017, que começará oficialmente em julho, principalmente para a soja, porque o custo de produção da oleaginosa na região é mais baixo e é possível negociar o grão antecipadamente com tradings, o que não ocorre com o milho, destinado principalmente ao mercado interno, apontou Stahlke. 

Mesmo assim, a área destinada ao cereal pode aumentar. “O milho tem tido muitos problemas do risco climático e investimento alto mas, com o preço elevado que está, vai ser realmente um incentivo grande para quem não plantou no ano passado plantar. Muitos produtores que historicamente sempre cultivam áreas grandes de milho não semearam por causa da dificuldade do início do plantio”, assinalou.

Stahlke acredita que, apesar dos problemas climáticos em maior ou menor grau nos últimos cinco ciclos, produtores devem manter os investimentos em 2016/2017. “Eles não gostam de arriscar plantar em uma área jogando a semente sem adubo, em uma situação que possa prejudicar o desenvolvimento da planta. Até acontece plantio sem adubo, mas em áreas em que se fez a análise de solo e se comprovou que têm fertilidade necessária para se plantar”, destacou. “No mínimo, o produtor mantém o nível adequado de investimento para ter uma boa produtividade.” 

Já em termos de área, a tendência é de que terras mais novas sejam ocupadas por culturas de cobertura, como milheto ou feijão caupi, mas o assessor assinala que isso dependerá da previsão do tempo para a época do plantio. “Às vezes o produtor não está programado para semear soja numa área nova, mas a condição de plantio está tão boa que ele pensa em plantar.”