No Dia do Vinho, produtores tentam aumentar consumo no Brasil

Consumo médio do brasileiro é de 1,8 litro por ano, bem abaixo do europeu e de países vizinhos como Argentina e Uruguai

No próximo domingo, dia 5, será comemorado o Dia Nacional do Vinho e o setor vinícola brasileiro faz um grande esforço para atrair mais consumidores no mercado interno. Apesar de bastante conhecido, o consumo per capita de vinho no Brasil ainda é baixo se comparado com países da Europa e vizinhos como Argentina e Uruguai.

Em São Roque, interior de São Paulo, o charme das vinícolas antigas que convidam o consumidor a conhecer as curiosidades da produção, e é claro a degustar um bom vinho. Localizada a uma altitude média de 750 metros, a estrada que leva ao Roteiro do Vinho lembra muito o Vale dos Vinhedos, berço nacional da bebida, no Rio Grande do Sul. Nessas terras, ainda na época da colônia, os moradores da região- descendentes de portugueses e italianos – começaram a produção de vinhos, atividade que as gerações levaram adiante e acabaram transformando em um dos destinos mais charmosos do interior do estado.

“Tudo começou com o vinho na região, a produção de vinho. Daí veio crescendo o turismo, veio crescendo a cultura de visitar a produção de vinhos, ver como se engarrafava e o crescimento da gastronomia. Hoje, a gente tem o roteiro que é composto por 34 estabelecimentos entre vinícolas, restaurantes e áreas de lazer”, falou o presidente do Roteiro do Vinho, Túlio Patto.

Durante o passeio, o visitante é convidado, a cada quilômetro do roteiro, a conhecer os segredos das vinícolas.  O produtor de vinhos Gustavo Borges, que é da quarta geração de vinicultores em sua família, disse que a produção comandada pelo seu bisavô teve início entre o final da década de 1920 e o início da década de 1930. “A gente não tem o registro muito exato, mas nosso bisavô começou a elaborar vinho nessa época”, disse.

A partir da década de 1940, porém, já é possível encontrar na propriedade registros valiosos, como uma caderneta com informações ainda em nanquim sobre os detalhes da produção da época.

Evolução

O vinho produzido hoje por Gustavo é bem diferente do oferecido pelos seus antepassados. Há três anos surgiu a ideia de investir na fabricação de rótulos finos, nominados assim por causa do uso de uvas diferenciadas, as que não podem ser consumidas in natura. Quase toda a matéria prima usada na fabricação anual é comprada de parreiras da região e a produção acontece de janeiro a março, o que explica todos os equipamentos desligados neste período do ano.

“Chegando a uva , ela é desengaçada, vai pras fermentações, estabilizações em tanques, depois engarrafados. Depois fica um tempo na cave e parte para o consumidor final. Nisso, a gente está falando em 18 meses”, disse o produtor.

Hoje a vinícola produz dez rótulos e está em busca constante por novos sabores que atraiam o público, ainda resistente e pouco informado sobre os tipos e gostos do vinho nacional. Dados recentes do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) indicam que o consumo tem se mantido estável, mas não passa de 1,8 litro per capita ao ano.

“A gente até comenta dentro da profissão da enologia que uma outra função que o enólogo no Brasil tem, diferente de um enólogo de outros países já tradicionais, é que, além da produção, você tem que se dedicar também à divulgação e educação de um consumidor que, até pouco tempo atrás, não tinha contato com essa bebida e começa a querer aprender mais”, analisou Fábio Laner Lenk ,  enólogo e professor do  Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.

Na tentativa de tornar a bebida mais popular, muitas vinícolas apostam em cursos de degustação para quem quer entender a diferença entre os rótulos e saber harmonizar a bebida com pratos e ocasiões. Um momento que lembra uma roda de conversa entre amigos, mas que tem um objetivo audacioso, formar consumidores exigentes e fiéis ao vinho.