Nordeste ainda está fora do mapa do seguro rural no Brasil

Entidades apontam o paradoxo, já que a região é a mais afetada pela seca extrema 

Fonte: divulgação

Há um consenso da importância do seguro agrícola, por ser a agricultura uma atividade de risco elevado, mas fundamental para a economia do Brasil. Seja por falta ou excesso de água, o produtor sofre com perdas na produção. É o que está ocorrendo no Ceará, com a interrupção da produção e frutas e flores devido à suspensão da água para as atividades rurais. 

“O seguro é uma atividade complexa, cara, que tem que ser operado por vários atores: setor privado, setor público e a indústria do seguro”. Foi o que disse Antônio Márcio Buzinain, da Universidade Estadual de Campinas-SP, no encerramento do Fórum o Futuro do Seguro Rural no Brasil, realizado nesta quinta-feira, dia 8, no auditório do Sebrae-CE, pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pela Federação da Agricultura e Pecuária  do Estado do Ceará ( FAEC).

O professor da Unicamp observou que a história do seguro rural ainda é muito recente no Brasil e, que, atualmente, apenas 10 seguradoras estão cadastradas no Ministério da Agricultura e regulamentada pela SUSEP.  

Porém, um dos pontos mais relevantes do evento foi o fato do Nordeste estar praticamente fora do mapa do seguro, uma vez que a região se configura onde há mais necessidade de proteção ao produtor que passa por seca extrema. A CNA e as Federações de Agricultura dos Estados estão se articulando para tentar encontrar uma solução para o produtor rural do nordeste. 

Segundo dados do Ministério da Agricultura, em 2014 gastou-se no Brasil  quase 700 milhões com 118 mil apólices de seguros, em uma área de 10 milhões de hectares. Em 2015 foram gastos apenas 182 milhões, um corte de 70% dos recursos. 

As subvenções do governo por Unidade da Federação representam: 28% para o Estado do Paraná, 25% para o Rio Grande do Sul, 12% para São Paulo e 8% para Santa Catarina. No  Nordeste  apenas estados da Bahia, representando 2%; e o do Piaui, com 1%, receberam subvenções do governo para cobrir perdas de safra.

“O agricultor entende que o seguro agrícola é um instrumento de proteção da gestão de seus recursos. Nós seguradoras temos que nos preparar para dar mais ofertas para esses produtores. Hoje, o Brasil já tem quase 15% da sua área plantada segurada. Nós tínhamos, em 2006, menos de 1% da área plantada assegurada. Houve uma evolução muito grande, principalmente uma evolução na  consciência do agricultor”, ressaltou Wadir Cury , presidente da Comissão Nacional de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros. 

Segundo ele, o seguro agrícola não repõe bens, mas quando começou, em 2006, o governo federal colocou 80 milhões de subvenção  ao seguro, e a Comissão Nacional do Seguro Rural só conseguiu assegurar 30 milhões, pois a cultura do seguro agrícola ainda não existia no Brasil. Hoje, situação é inversa. Em 2015, o prêmio de seguro caiu em torno de 70% e faltou recursos do governo na contrapartida, quando muitos produtores deixaram de receber o seguro rural, assegurado pelo Proagro.

“Temos que refletir muito sobre isso. Nós, seguradoras, temos que preencher a oferta do seguro em outras partes do Brasil, como na região Nordeste. A logística ainda é analógica para cobrir estas áreas. Isso requer investimentos das seguradoras. Temos que desenvolver tecnologia. Podemos ser competidores, mas os produtores têm que ser cooperativos. O seguro rural está diretamente relacionado à cadeia da produção de alimentos e da segurança alimentar no mundo. Os produtores precisam gerir melhor seus negócios dentro de uma visão integrada de gestão de risco com o apoio do seguro rural”, finalizou Wadir Cury , presidente da Comissão Nacional de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros. 

Gustavo Bracale, representante da secretaria de política agrícola do Ministério da Agricultura, reconhece que precisa haver uma maior integração entre os programas do Governo e da Federação Nacional de Seguros. “Por isso apoiamos essa iniciativa da CNA em debater condições de ajudar a criar novos mecanismos e soluções para alocar melhor os recursos públicos. O planejamento está disperso e precisamos estabelecer uma parceria público-privada. O Estado sozinho não tem como arcar com o seguro rural”, alertou. 

José Carlos, do MB Agro, informou que a restrição do orçamento dificulta o desenvolvimento do seguro. “No Paraná, tudo começou com uma discussão da realidade é só depois dessas discussões foi possível  desenvolver o seguro  rural. Mas com conhecimento, tudo é possível”, disse. 

Em sua apresentação, José Carlos informou que é preciso promover a concorrência entre as seguradoras e estimular as seguradoras no desenvolvimento de novos produtos. 

Mais detalhes

O Fórum Nacional “O Futuro do Seguro Rural no Brasil” é uma iniciativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA e  da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará – FAEC , com o apoio institucional do Banco do Nordeste e da Federação Nacional de Seguros Gerais. O evento aconteceu em Fortaleza e contou com a participação de especialistas da CNA, Universidade de Campinas- SP, Ministério da Agricultura e Pecuária e de diversas seguradoras.