Plano Safra é 'modesto', diz Federarroz. Confira avaliação de entidades

Apesar de julgar volume de recursos adequado, federação de arrozeiros considera que valores e condições estão abaixo das necessidades do setor

Fonte: Pixabay/divulgação

O Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018, apresentado pelo governo federal nesta quarta-feira, dia 7, é considerado modesto na avaliação do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles. Os recursos anunciados para a próxima safra são de R$ 190,25 bilhões, o que foi considerado adequado pelo dirigente.

Entretanto, conforme Dornelles, apesar de o plano estar coerente com a dificuldade que o país atravessa atualmente, ainda seria insuficiente para o contexto da agricultura, que vem sendo o principal impulsionador da economia brasileira neste momento de turbulência no país. “Além disso, o produtor passa por dificuldades extras da atividade, como as questões de logística e de transportes, que são problemas para a competitividade do setor”, afirma.

Sobre o corte dos juros, o presidente da Federarroz avaliou que, apesar da redução de um a dois pontos em determinadas linhas, ainda é pequeno para a necessidade dos produtores.

Para Dornelles, a agricultura brasileira neste ano passará a ter um ritmo de aceleração menor. Atividades como o cultivo de arroz, que vem enfrentando diminuição de plantio na maioria das regiões, deveriam ter uma política mais específica. “Talvez a intenção do governo federal seja administrar a bonança, dando indicativo da agricultura não avançar, pois poderá estar correndo o risco de acúmulo de estoques”, explica.

Farsul

Na avaliação do vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Silveira Pereira, o valor de R$ 550 milhões para subvenção ao prêmio do seguro rural, anunciado para Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018, é insuficiente para atender às demandas do setor. “R$ 550 milhões para seguro agrícola está longe do necessário”, disse.

Para ele, o valor ideal supera R$ 1 bilhão. “Precisaríamos de R$ 1,2 bilhão para subsidiar o prêmio do seguro rural, que ainda é caro no Brasil”, disse ele. “Isso é fundamental para o setor, aumentar os recursos para subsidiar o prêmio”, complementou.

Segundo auxiliares do presidente Michel Temer, o montante foi alterado entre ontem e hoje com a inclusão dos R$ 550 milhões para subsídios ao Programa do Seguro Rural, valor que ainda não está garantido e só deve ser ratificado no Orçamento de 2018, bem com o R$ 1,4 bilhão extra para a comercialização. 

Fecoagro-RS

O Plano Safra 2017/2018 foi o “possível” para o atual momento do país, avaliou o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), Paulo Pires, em nota. 

Para o dirigente, a redução dos juros de 1 a 2 pontos percentuais poderia ser mais acentuada, por causa da inflação. “O juro real é bem maior do que o do ano passado”, comentou. Ele reconheceu, entretanto, que houve empenho por parte do Ministério da Agricultura, já que, por causa da atual crise, não há espaço para quedas maiores. “Nos juros dos investimentos, por exemplo, se fez o possível. Como estava antes era impossível realizar qualquer investimento”, sinalizou Pires em nota.

Já em relação ao seguro rural, o dirigente avaliou que o valor, mesmo maior do que os R$ 400 milhões da safra passada, ainda é pouco para as necessidades dos produtores. “Esta é uma política que deveria ser prioridade, pois se trata de um item estruturante e estratégico. Esperamos que o recurso esteja disponível o quanto antes”, comentou.

Agora, Pires espera que os recursos estejam “o mais rapidamente possível” à disposição dos produtores, para que eles possam planejar melhor a safra.

Abrapa

A queda nas taxas de juros estão alinhadas com o que esperávamos, e são coerentes com a tendência geral da economia, de baixa da inflação e redução de juros definida pelo Conselho Monetário Nacional, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Arlindo de Azevedo Moura. “As novidades ficaram por conta do volume maior de crédito e de um substancial aumento nos recursos destinados ao seguro rural. Isso prova que o governo está consciente da importância, cada vez mais evidente, do agronegócio para a economia brasileira”, diz Moura.

Fórum Nacional Sucroenergético 

O Fórum Nacional Sucroenergético divulgou nota nesta quarta-feira em que comemora a decisão do governo de tornar permanente a linha do Prorenova, para renovação de canaviais, dentro do Plano Safra 2017/2018. De acordo com a entidade, essa era uma “antiga reivindicação” do segmento. 

O Prorenova terá linha de R$ 1,5 bilhão. Nas safras anteriores, o setor tinha de negociar com o governo o montante e a forma de financiamento para esse programa, que agora se torna permanente. O Prorenova é operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com custo de TJLP mais 3,7% ao ano, com 18 meses de carência e seis anos para pagamento.

Em nota, o presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha, disse que a novidade demonstra um melhor cenário de relacionamento com o governo, que também discute a implementação do RenovaBio, programa de expansão dos biocombustíveis até 2030. “As medidas anunciadas hoje são sem dúvida nenhuma positivas, porque representam um avanço para o setor”, resumiu Rocha.

CNA

O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, afirmou que os juros do Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018 poderiam ser menores que os anunciados pelo governo federal. As taxas dos principais programas de crédito agrícola, com maior volume de recursos, como custeio e comercialização, caíram 1 ponto porcentual ante 2016/2017, em um cenário de queda na inflação e na taxa básica de juros (Selic).

“O juros baixaram 1 ponto porcentual, mas a redução poderia ser maior. Se o governo está dizendo que chegaremos ao fim do ano com inflação de 3,5% e Selic em 8,5%, o juro real para a safra vai ser de 4,5% a 4,7%, o que será muito alto”, disse Martins. Ele considerou o volume de recursos liberados, de R$ 190,25 bilhões, como “razoável” para o crédito agrícola no período a ser iniciado em 1º de julho. 

Mesmo sem a garantia da subvenção pública ao seguro rural, Martins elogiou “a sinalização do governo” de aumentar de R$ 400 milhões para R$ 550 milhões a estimativa de recursos para o programa. “Tentamos mostrar ao governo que com o seguro rural teremos facilidade de buscar recursos nos bancos particulares com spread mais baixo”, disse. No entanto, o presidente da CNA lembrou que dos R$ 400 milhões previstos para 2016/2017, 90% foram contingenciados, e apenas R$ 40 milhões liberados, valor que chegou a R$ 90 milhões com novos aportes.

Para Martins, o governo viu que a agropecuária pode ajudar na recomposição da economia. “O presidente Temer não é burro e está vendo que se o governo colocar 10 na agricultura devolvemos com aumento de produção e queda de preços”,  concluiu.

Ocepar

O corte nas taxas de juros menor do que o desejado pelo setor agropecuário pode desestimular, “em um primeiro momento”, o produtor rural a acessar as linhas do Plano Safra 2017/2018, de acordo com o gerente técnico-econômico do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Flávio Turra. “Como consequência, poderíamos visualizar um período de menor uso de tecnologia no campo”, destacou.

Para ele, a redução deveria ser de, “no mínimo”, três pontos porcentuais. O governo, contudo, diminuiu as taxas de juros em um a dois pontos porcentuais. “Foi pouco, porque a Selic e a inflação estão caindo.”

Turra também avaliou como insuficientes os R$ 550 milhões para subsídio ao Programa do Seguro Rural. “Deveria ser o dobro disso”, destacou. Mas o gerente técnico-econômico da Ocepar viu com bons olhos o aumento de recursos totais do Plano Safra, bem como as taxas de juros mais baixas para os programas de armazenagem e inovação.