Qual a importância do glifosato para a agricultura brasileira?

Dois especialistas falam sobre usos, plantas resistentes, segurança e o que acontece se a molécula for banidaDiante do pedido do Ministério Público Federal (MPF) para o banimento do herbicida glifostato no país, o Canal Rural ouviu um especialista e o representante da principal distribuidora do produto no Brasil, para entender a importância do produto no manejo de lavouras e como ficaria a oferta de produtos para controle de plantas daninhas caso o glifosato seja banido.

Fonte: Jecson Schmitt / Arquivo Pessoal

• Entenda a ação do MPF contra o glifosato

O professor do Departamento de Produção Vegetal da Esalq-USP Pedro Jacob Christoffoleti e o diretor de regulamentação da Monsanto, Geraldo Berger, explicam a vinda do produto ao país, sua utilização, as culturas que mais utilizam e o que está em xeque nesse imbróglio.

Uso do glifosato

O glifosato é utilizado no país desde a década de 1970, principalmente para plantio direto. O produto é aplicado para dessecar a pastagem antes do plantio. O herbicida foi revolucionário quando chegou, lembra o professor da Esalq.  

O “boom” do produto ocorreu a partir de 1996 nos EUA e em 2006 no Brasil, com o lançamento das cultivares transgênicas, que possuem resistência ao glifosato.  Cristoffoleti relata que muitos produtores adotaram essas plantas e trocaram os diversos herbicidas pelo glifosato, o que gerou economia e também melhorou a produtividade de culturas como o milho, a soja e o algodão.

– O glifosato é um herbicida que foi desenvolvido há praticamente 40 anos, mas continua muito moderno. Por quê? Ele tem baixo perfil toxicológico e tem uma alta eficácia no controle de plantas daninhas – reforça o gerente de regulamentação da Monsanto.

Excesso de aplicação

O pesquisador não acredita que exista uso excessivo do produto, mas reconhece que há uma utilização intensiva pelos produtores, o que gera plantas daninhas mais resistentes. Ele acredita que o caminho é incentivar o uso racional do glifosato.

– Os produtores precisam ter mais consciência e tentar outros tipos de manejo para evitar o uso irracional – explica Cristoffoleti.

• Glifosato não tem substituto caso seja banido

Geraldo Berger, da Monsanto, orienta que é importante que o agricultor introduza rotação de moléculas, com o objetivo de manter a eficácia do produto dentro do sistema produtivo.

– O glifosato é um herbicida que tem ação na parte aérea da planta. Ele não tem efeito residual. Então, normalmente você combina com outra molécula que tem o efeito residual para garantir que o produtor tenha uma eficácia cada vez maior no controle das plantas daninhas na sua lavoura – ressalta.

São utilizados três quilos ou cinco litros de glifosato por hectare de soja plantada no Brasil, atualmente.

Glifosato em outros países

O professor Pedro Cristoffoleti afirmou que há países na Europa, como França e Alemanha, que não aceitam produtos transgênicos, indiretamente eles não recebem produtos tratados com glifosato. Mas o uso do produto para culturas perenes nesses países é autorizado.

• É possível agricultura sem glifosato?

O diretor da Monsanto ressalta que o herbicida possui registro em 160 países, todos sem restrição de uso ligada à toxicologia ou a meio ambiente. Geraldo Berger reforça que o uso correto é fundamental.

– Isso já é um atestado, por si só, demonstrando que os usos registrados deste produto são seguros pro meio ambiente, pra saúde animal e pra saúde humana, desde que seja utilizado dentro da sua recomendação técnica, das doses e épocas adequadas, logicamente para seus usos registrados – comenta.

Plantas daninhas resistentes

O especialista disse que existem estudos que apontam cinco plantas daninhas resistentes no país. Cristoffoleti listou as duas principais: buva e amargoso. A buva é a que possui mais resistência. Para conhecimento, o pesquisador também listou que nos EUA há 12 plantas resistentes, e na Argentina sete plantas resistentes.

– Existem algumas espécies aqui no Brasil, que se desenvolveram ao longo dos últimos anos. Em especial eu diria que a buva é uma das principais delas – afirma Berger, confirmando a análise do professor da Esalq.

Culturas que mais utilizam

O pesquisador da Esalq lista soja, milho e algodão em culturas transgênicas. Laranja e eucalipto nas culturas perenes.

– Eu diria que uma das grandes contribuições do glifosato é o estabelecimento do plantio direto na palha no Brasil. É o Brasil é um líder mundial neste sistema de cultivo conservacionista – lembra o diretor da Monsanto.

Banimento do glifosato

Pedro Cristoffoleti afirma que seria um retrocesso de décadas na pesquisa e melhoramento genético, já que os produtores teriam que voltar a usar produtos antigos e mistura de outros princípios ativos para garantir o controle das plantas daninhas.

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Segundo ele, muitos melhoramentos genéticos feitos poderiam ser perdidos e poderia desestimular as empresas que trabalham com cultivares transgênicas, que possuem resistência ao glifosato. Resultado: menos produtividade e uso de mais produtos.

– O que eu posso dizer é que eu estou surpreso [com o pedido de banimento]. Em especial, pelo fato do glifosato ter sido recentemente reavaliado do ponto de vista toxicológico pela União Europeia, pelo Canadá, demonstrando que não havia questionamento do ponto de vista toxicológico pra este produto, sendo que seus usos foram todos reconfirmados – protesta o diretor de regulamentação da Monsanto, Geraldo Berger.