Algodão brasileiro será rastreado para garantir espaço no exterior

Setor investe em tecnologia e convida potenciais compradores para participar de missões empresariais

Fonte: Antonio Alencar/Canal Rural

A produção de algodão brasileira vai ser rastreada para garantir maior espaço no mercado internacional e o investimento em tecnologia é uma das estratégias adotadas pelos produtores brasileiros para ampliar essa participação. Essa empreitada para a valorização do produto brasileiro tem ocorrido por meio de missões empresariais, como a que terminou no último final de semana e recebeu representante de seis países da Ásia.

Representantes do Vietnã, Tailândia, Taiwan, China, Coreia do Sul e Bangladesh visitaram fazendas, indústrias de beneficiamento e laboratórios dos principais estados produtores de algodão do país. Os seis países asiáticos são considerados os maiores compradores da pluma e a intenção é aumentar as exportações brasileiras, estimadas em 810 mil toneladas, já na próxima safra.

“Nós estimamos que, após essas missões que nós estamos realizando, nos próximos doia ou três anos possamos implementar cerca de 30% nas vendas para os países que estão aqui. Somente os compradores que estão aqui consomem 750 mil toneladas de algodão comprado em todo o mundo”, analisou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), João Carlos Jacobsen. 

Tecnologia

Além de trazer os compradores pra conhecer todas fases de produção, a Abrapa aposta na rastreabilidade. O algodão vai ser analisado e certificado, provando que atende às exigências do mercado internacional. Os compradores vão poder acompanhar todo esse processo online, segundo a entidade.

O investimento é de R$ 50 milhões, recurso obtido com o contencioso do algodão, em que os Estados Unidos precisaram ressarcir o Brasil pelas perdas causadas pelos subsídios dados aos produtores americanos. “Nós vamos inaugurar, nos próximos meses, o nosso centro de referência em análise de algodão, que vai auditar os laboratórios de análise do país inteiro. Estamos, também, implantando um software que vai captar as análises e, a partir do momento que entram no nosso sistema, elas ficam invioláveis. O produtor brasileiro vai poder oferecer uma chave de acesso ao cliente, onde ele vai escolher os fardos de melhor qualidade que ele queira comprar”, disse Jacobsen.

O presidente da Associação dos Produtores de Algodão de Goiás, estado que planta 30 mil hectares da pluma e que perdeu produtividade na última safra por causa do clima, concorda que o investimento em pesquisa e tecnologia é fundamental.  Luiz Renato Zapparoli explica que o desafio é aumentar o preço pago pelo produto brasileiro, que hoje é o mais baixo entre os países produtores, com a arroba custando cerca de R$ 67, enquanto que nos EUA, sai por mais de R$ 70.

“Uniformizando o lote, o fiandeiro receberá esse algodão e começará a pagar num futuro breve, um prêmio melhor. Assim, nós recuperaremos um campo perdido”, falou Zapparoli.

Praga

Outra questão que ainda precisa ser enfrentada no Brasil é a falta de produtos registrados no país para combater a lagarta helicoverpa armígera. Desde 2013, os estados que decretam situação de emergência por conta da praga podem importar o benzoato de emamectina, único inseticida que tem sido eficaz nas lavouras de soja, milho e algodão. O produto não é registrado no país e, por isso, o governo autorizou o uso por meio de um decreto há três anos. Mas, um pedido do Ministério Público Federal pediu à Justiça a suspensão desse decreto, o que preocupa todo o setor produtivo. 

A Abrapa lembra que a agricultura perdeu mais de R$ 14 bilhões só em 2013, quando o benzoato ainda não era permitido. Hoje, os estados da Bahia, Mato Grosso, Goiás, Maranhão e Piauí estão autorizados a usar o inseticida, que já é comum em lavouras de mais de 60 países. “Nós vamos ter que repensar a cultura do algodão, porque é quase impossível conviver com a helicoverpa sem o uso do benzoato de emamectina hoje. Até que surja um produto alternativo, novo, que venha a ser registrado no Brasil e que faça esse papel de controle”, avaliou o diretor-executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero.