Pesquisa desenvolve cultivar de arroz voltada à culinária japonesa

Resultado de dez anos de pesquisa da Embrapa Clima Temperado (RS) e da Embrapa Arroz e Feijão (GO), semente produz grão mais pegajoso, perfeito para sushis

Fonte: Pixabay

No típico prato de arroz com feijão brasileiro, a tradição pede um grão mais soltinho. Mas um aspecto mais pegajoso é bastante valorizado, por exemplo, pela culinária japonesa. Com foco nesse mercado crescente, a Embrapa lançou no último fim de semana, durante a 39ª Expointer, em Esteio (RS), a BRS 358, cultivar de grão curto e com baixo teor de amilose – qualidade que o deixa mais pegajoso após o cozimento.

“Com essa característica é possível comer usando o palitinho, o hashi”, diz um dos pesquisadores responsáveis pela nova cultivar Ariano Magalhães.

A nova planta é resultado de mais de dez anos de trabalho dos pesquisadores da Embrapa Clima Temperado (RS), da Embrapa Arroz e Feijão (GO) e de outros centros de pesquisa ligados ao programa de melhoramento de arroz especial da Embrapa.

“A vantagem da BRS 358 é que ela tem os mesmos padrões de qualidade de grãos do material nipônico tradicional, mas com uma planta agronomicamente moderna”, afirma o pesquisador, referindo-se ao porte baixo da planta, o que a torna resistente ao acamamento, e a arquitetura de planta com folhas eretas. Isso significa maior capacidade fotossintética, conferindo maior potencial produtivo.

A partir de uma linhagem introduzida do Egito em 1999 pela Embrapa Arroz e Feijão, a cultivar foi selecionada entre 2002 e 2004 em ensaios conduzidos em diferentes estados brasileiros, inclusive no Rio Grande do Sul. Como resultado, ela se destaca com produtividade média de 8,6 mil quilos por hectare (peso médio de 23 gramas para mil grãos), alto perfilhamento, resistência à mancha-dos-grãos, além de ter ciclo precoce (115 dias no Rio Grande do Sul).

Demanda

Segundo os pesquisadores, os materiais para a culinária japonesa utilizados hoje no País – em torno de cinco cultivares – são antigos e ainda pouco adaptados às condições nacionais, não apresentando boa produtividade, além de terem porte mais elevado, o que os torna sujeitos ao acamamento.

Essas variedades chegaram ao Brasil com os colonizadores e deram início ao cultivo de arroz no país. As cultivares americanas, de grão longo e fino, só foram introduzidas na década de 1970.

Os pesquisadores contam ainda que a produção desse tipo de grão especial existe apenas em pequena escala no Brasil, principalmente porque existem poucos produtores de sementes certificadas interessados em atender mercados específicos. “Em geral, quem produz também cultiva a própria semente para se autoabastecer. É um mercado pequeno ainda, mas que tem crescido muito”, destaca.

Expansão

De acordo com dados do último Censo nacional, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população asiática – os autodeclarados amarelos – girava em torno de mais de dois milhões de pessoas em 2010. “Mas o consumo de comida oriental não está restrito apenas aos descendentes”, argumenta Magalhães.

O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão José Colombari Filho, atual coordenador desse programa de melhoramento de arroz especial, também chamou atenção para o fato de que essa nova cultivar poderá trazer diferentes oportunidades de negócios, com outras formas de consumo, como arroz-cateto para o típico prato carreteiro ou na forma integral em pratos da alta gastronomia e, portanto, com maior valor agregado. “Uma indústria já demonstrou interesse e está testando o produto para alimentos infantis orgânicos, como papinhas para bebês”, diz Colombari.

A limitação ligada à falta de produtores certificados para a produção de sementes também foi suprida com a nova cultivar. A empresa Josapar, situada em Pelotas (RS), está certificada e também já cultivou a BRS 358 na última safra para comercialização de grãos, que se encontram em processo de beneficiamento para sua linha de tipos especiais. A previsão é de que o produto esteja nas prateleiras logo após o lançamento.