Baixo consumo e preço impedem crescimento da fruticultura brasileira

Problemas fitossanitários, acondicionamento e transporte das frutas também são entraves para a produção do país

Fonte: Pixabay/divulgação

Apesar de o Brasil ser o terceiro maior produtor de frutas do mundo, o consumo do produto dentro do país fica aquém em torno de 40% do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Hoje, o brasileiro come cerca de 57 quilos de frutas, quando na verdade deveria consumir 115 quilos. 

De acordo com o secretário-executivo da ABRAFRUTAS e assessor técnico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Eduardo Brandão, a justificativa para esses dados está na falta de hábito e no preço. “Em sua grande maioria, o consumidor prioriza as proteínas e as hortaliças em detrimento das frutas, quando tem dinheiro”, explica. A estatística foi fruto de um estudo de preferências dos hábitos alimentares do brasileiro feito pela CNA. 

O levantamento revelou ainda que o país tem suas frutas básicas de consumo: banana, maçã e laranja. Além disso, segue a sazonalidade de comprar sempre as da época, por conta do preço. “Há uma tendência de quanto maior o pode aquisitivo da família, maior a variedade de compra também”, revela Brandão, entrevistado do Direto ao Ponto do dia 9 de julho. 

De 2012 para cá, de acordo com o assessor técnico, houve um aumento do consumo em função da “vida fitness”, de “alimentação saudável e academia”. “Se você pensa em emagrecer, automaticamente você relaciona isso ao consumo de frutas e hortaliças”, diz Brandão. 

Por isso, ambas as entidades estão trabalhando numa campanha promocional mostrando as vantagens do consumo de frutas e hortaliças. “Estamos conversando com o governo, porque com o maior consumo de frutas, menor índice de doenças e menor gasto com a saúde pública”, reitera. 

Ações e desafios

Brandão explica também que de toda a produção do país, somente 3% é exportado. O resto fica no Brasil, sendo que 47% segue para o processamento de sucos e geleias, por exemplo. “Se o Brasil consumisse o que foi recomendado, nós teríamos que produzir em torno de três vezes mais do que fazemos. O problema é que o brasileiro não compra. E o aumento de produção fica estagnado por conta desse escoamento.”

Para chegar ao patamar de produção da China e da Índia, o Brasil ainda tem muito o que se preocupar, afirma Brandão. Um dos maiores problemas da cadeia é o desperdício provocado pelo mal acondicionamento das frutas e transporte precário. “Estamos fazendo um estudo para mensurar. Mas já sabemos que a menor preocupação é da porteira pra dentro. A situação fica complicada no transporte, no varejo e nas zonas de distribuição”, fala. 

Segundo o entrevistado, um exemplo prático de compreensão é o transporte do abacaxi, feito à granel, no caminhão. A última camada da fruta sempre é desperdiçada porque os de cima amassam os debaixo. As caixas de madeira também arranham as frutas, que ficam impróprias para o consumo. A solução, de acordo com Brandão, pode vir por um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional para regulamentar o acondicionamento do produto. “Pelos itens estabelecidos pela lei, poderemos reduzir em torno de 30% da perda.”

Outro gargalo para o produtor brasileiro é o fitossanitário. “No Brasil, a grande maioria das frutas é considerada como pequenas culturas com uma grade de defensivos muito pequena. A gente fica numa situação difícil quando estes agroquímicos não têm registro na cultura. E se você produzir com um produto não registrado, automaticamente terá uma análise de resíduo e se esse resíduo ultrapassar o limite máximo permitido, nós vamos ser punidos por isso e fecharemos o mercado”, defende. 

Esta situação leva parte dos produtores brasileiros a ilegalidade voluntária, aponta Brandão. “Porque se vê obrigado a usar um produto registrado para outra fruta porque não tem outra alternativa, e usa porque necessita, não porque quer.” Assim, a maior bandeira da Confederação e da Abrafrutas é a aumentar a grade de defensivos, tanto incentivando com outras entidades a desburocratização de regras por parte do governo, quanto conversando com as empresas revendedoras, além de fazer um trabalho junto à ANVISA na fiscalização da produção.  “Nosso grande trunfo é mostrar que nossos produtos são seguros para o consumo”, finaliza.