Safra de soja bate recorde, mas não garante renda em MT

Mesmo com média histórica de 55 sacas/ha, custos de produção, baixa rentabilidade e dificuldade de comercialização frustram agricultores

Fonte: Luiz Henrique Magnante/Embrapa

A safra de soja 2016/2017 de Mato Grosso é recorde em todos os sentidos. A colheita, que está praticamente finalizada, será de 31 milhões de toneladas e uma média histórica de 55 sacas por hectare. Apesar disso, o aumento dos custos de produção, a baixa rentabilidade e dificuldades de comercialização acabam frustrando os agricultores. “É uma super safra, mas o volume de renda é pior”, afirmou o presidente da Aprosoja/MT, Endrigo Dalcin, em entrevista ao programa Direto ao Ponto. Outro fator que continua pesando no bolso do produtor é a falta de infraestrutura e logística para compra de insumos e escoamento dos grãos.

Dalcin informou que quase 40% da safra de soja de Mato Grosso ainda não foi comercializada. Com custos de produção de R$ 3,4 mil por hectare e o preço da saca em R$ 54, a rentabilidade da atividade esse ano ficou aquém do esperado e virou a grande preocupação do setor local.

Um fator decisivo para o aumento de custos do produtor é a falta de infraestrutura adequada para a compra de insumos e o escoamento da safra. “A logística é uma vergonha. Não evoluiu como a nossa produção. Vemos a BR 163 sem asfalto, fila de atoleiro. É a nossa indignação, pois a resposta pública é muito lenta. A logística é nosso principal gargalo”.

Terras para estrangeiros

O presidente da Aprosoja/MT também opinou sobre propostas em tramitação no Congresso Nacional que mudam as regras para o acesso à terra por pessoas de fora do país ou empresas brasileiras com maioria de capital estrangeiro. A entidade é contra a abertura total do território nacional e afirma que o Brasil tem capacidade de expandir sozinho a produção. “Somos o último país com terras disponíveis. A preocupação é que grandes grupos comprem terras e resolvem, em certo ano, não plantar. Um grupo nacional comprar muita terra também é ruim. Valores da terra e do arrendamento sobem, aumenta o custo de produção”. Dalcin ressaltou que é preciso impor limites no tamanho dos terrenos que poderão ser adquiridos e também restrições à compra por fundos soberanos. “50% dos produtores de Mato Grosso têm até mil hectares, presamos por isso”.

Agroquímicos

A luta para desmistificar alguns rótulos colocados na agricultura brasileira continua árdua. Um deles é o de que o Brasil é o maior consumidor de agroquímicos do mundo. Segundo Dalcin, isso não é verdade. “É um contrassenso. Uma batalha para mostrar que trabalhamos corretamente, que usamos as melhores práticas. A polêmica sempre vai existir. Não somos os maiores consumidores, somos o 6º e isso não é contabilizado por hectare. Estamos nessa posição por causa do tamanho da área que plantamos e a quantidade maior de defensivos que usamos”.

Soja convencional

A área plantada com soja convencional deve ultrapassar os 10% do total cultivado em Mato Grosso na próxima safra. No ciclo atual, 8% das lavouras foram plantadas com esse tipo de material. O prêmio de R$ 15 por saca estimulou o aumento da procura. Na China já existe um porto para compra exclusiva de soja convencional. Esse cenário tem favorecido a busca por sementes não transgênicas, mas aí também mora um problema. “Não tem semente. A Monsanto atua para que o agricultor produza Intacta. Por isso a importância da Lei de Proteção de Cultivares”, opinou.

EUA e Austrália

A Aprosoja participou de uma conferência internacional recentemente nos Estados Unidos. Segundo Endrigo Dalcin, os produtores de lá já estão preocupados com a formulação da próxima Farm Bill, a lei agrícola americana. Diferentemente do Brasil, a legislação é plurianual, proporcionando um planejamento maior. Mesmo assim, os agricultores já discutem mudanças, principalmente, sobre seguro de renda, biotecnologia e custos de produção.

A questão da perda de eficiência de materiais BT têm preocupado os produtores americanos. Lá, apenas o milho leva essa tecnologia. A soja não. A legislação da Austrália também proíbe esses eventos em todas as culturas. Segundo Dalcin, o Brasil também precisa discutir se esse é o melhor caminho a seguir. Aqui, soja, milho e algodão têm variedades assim.

Outra observação feita pelo presidente da Aprosoja Mato Grosso é que o Brasil está a frente dos EUA quanto à sucessão rural. “Agricultura americana está envelhecendo, pois não seguram os filhos na atividade. Essa é a nossa diferença. Temos muitos jovens empresários e vamos evoluir da porteira para dentro”, concluiu.