Para aumentar exportações, Brasil precisa importar mais

Quem explica e defende a medida é o secretário de Relações Internacionais do Ministério, Odilson Ribeiro

Fonte: Arnaldo Alves / ANPr

A meta ambiciosa de aumentar as exportações agropecuárias brasileiras em US$ 10 bilhões nos próximos cinco anos, colocada pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, depende da quebra de alguns paradigmas. O principal deles é importar mais. Quem explica e defende a medida é o secretário de Relações Internacionais do Ministério, Odilson Ribeiro, entrevistado deste domingo do programa Direto ao Ponto.

“Nenhum país grande exportador só exporta. Eles importam também. Não pode chegar em um parceiro comercial e querer apenas vender. Para o Brasil crescer mais ele precisa exportar”, ressaltou Odilson. Para ele, é necessário equilibrar a balança comercial, já que hoje o país detém o maior saldo positivo entre os exportadores. Ou seja, ainda importa pouco, o que também pode gerar restrições para aumentar as vendas.

Outro paradigma a ser quebrado, segundo o secretário, é conseguir agregar valor aos produtos. Ele citou o exemplo da China, que deve passar o Brasil ainda este ano em participação no mercado internacional. “Eles compram produtos primários, agregam valor dentro do país e exportam com preços maiores. Compram vinhos, por exemplo, a granel do Chile e engarrafam lá. E vendem para o principal mercado hoje, que é o mercado asiático”.

Café robusta

A importação de produtos que são cultivados aqui, no entanto, desagrada determinados setores, como é o caso do café robusta atualmente. Com esse exemplo, Odilson Ribeiro mostra como são as negociações e quanto o país perde ao se negar a importar determinados produtos. O Brasil tem potencial de exportar carnes, rações e lácteos, principalmente, para o Vietnã. Os negócios giram em torno de US$ 1 bilhão. Mas o país asiático pede para exportar para cá o café robusta, o que até agora ainda não é liberado.

Com a quebra de safra e o desequilíbrio dos preços, a indústria de café solúvel tem insistido para liberar a importação, mas o setor produtivo não aceita. “Se destruir a indústria de café solúvel, no final quem vai pagar é o produtor que ficará sem as empresas. Tinham 15 empresas no país, hoje são cinco. Se não puder importar e tendo quebra de safra, não teremos mais essas empresas”, destacou. Uma das alegações dos cafeicultores brasileiros é que a entrada do café vietnamita pode trazer pragas e doenças ao país. O secretário, no entanto, reiterou que a análise sanitária é rígida e as medidas estão prontas para permitir a importação.
    
Oportunidade

O Brasil detém hoje 6,9% do mercado internacional de produtos agropecuários e o objetivo é chegar a 10% nos próximos cinco anos. Em 52% desse mercado, no entanto, o país não é competitivo, pois representa menos de 1% daquilo que é comercializado em todo o mundo.

Um dos setores citados pelo secretário com grande potencial de expandir a produção e a exportação é a piscicultura. Uma das carências do segmento é a de grandes empresas, como existe na avicultura. Segundo Odilson, faltam indústrias para fazer integração e participar da produção, industrialização e transporte dos produtos. Para conseguir essa expansão, governo e setor privado precisam caminhar juntos. Atualmente, os pescados brasileiros não são competitivos no mercado mundial, representam apenas 0,2% do comércio internacional.