"Sistema político brasileiro está na UTI", diz cientista política

Especialista acredita no fortalecimento das instituições apesar da crise no país

Fonte: Fernanda Farias/divulgação

A crise política que atinge diretamente o núcleo duro do governo de Michel Temer e que afeta a economia brasileira em cheio tem um lado positivo, segundo a cientista política Deborah Celentano: mostra o fortalecimento das instituições do país e a maior transparência no combate à corrupção. “Existe uma fragilidade momentânea, mas um benefício a longo prazo”, afirma a especialista em entrevista ao programa Direto ao Ponto deste domingo, 25 de junho. Para ela, o sistema político brasileiro está na UTI, contaminado pela corrupção e pela politicagem, mas existirá uma mudança gradual. A especialista afirma ainda que acreditar em candidatos “heróis”, personagens de grande empatia com o público, para salvar o Brasil é uma visão infantil da situação.

Segundo a cientista política, leis que já existiam há décadas começaram a ser cumpridas e os crimes de colarinho branco estão finalmente sendo punidos. Por isso, ela acredita que o presidente da República não vai chegar até o fim do mandato, em dezembro de 2018. Mas uma provável queda de Temer não significa que o rumo da política brasileira vá mudar. Para Deborah, nessa hipótese, se houver eleição indireta, o Congresso Nacional vai eleger alguém com viés ideológico e político semelhante ao do atual chefe do Executivo. Ele complementa afirmando que candidatos radicais, tanto de direito quanto de esquerda, não se elegem no país, seja direta ou indiretamente.

Fortalecimento das instituições

Com toda a crise, Deborah acredita que as instituições, como o Ministério Público Federal e o STF, ganham força e que isso possibilita um amadurecimento do eleitorado brasileiro, o que pode garantir melhorias a longo prazo nos representantes eleitos. “Uma parcela do povo está estupefata, achou que a corrupção era questão de um partido e agora mudou”. Ela também afirma que todos os desdobramentos da Operação Lava Jato demonstram que não há perseguição política, mas sim um combate mais incisivo à corrupção em geral. “Não é caça seletiva. A principal reforma do país é o combate à corrupção”.

Por outro lado, acreditar em uma mudança radical com a eleição de um personagem tido como “herói” é uma infantilização da política. Para Deborah, é preciso apostar nas instituições e não nas pessoas.