Setor leiteiro gaúcho precisa de apoio

Maior parte da atividade é conduzida por pecuaristas de pequeno porte 

A base do setor leiteiro do Rio Grande do Sul é constituída por empreendimentos familiares e elas precisam receber apoio governamental e das entidades de classe para continuarem na atividade. A constatação foi feita durante o painel Fórum Canal Rural: Desafios da cadeia do leite no Rio Grande do Sul, organizado pelo Canal Rural e o Instituto Gaúcho do Leite (IGL), como parte da programação do Dia da Agricultura Familiar na Expointer 2015, em Esteio.

No começo das discussões, o presidente do IGL, Gilberto Piccinini, apresentou os dados do Levantamento Socioeconômico da Cadeia Setorial do Leite, relatório produzido em parceria com a Emater-RS e que traz informações sobre diversos ângulos da cadeia leiteira gaúcha. Os números apontam que dos 198,467 mil produtores de leite do estado, a maior parte é composta de pequenos produtores, com 45,3% dos produtores entregando até 100 litros por dia a indústrias e queijarias.

O Rio Grande do Sul produz 4,59 bilhões de litros de leite por ano, fazendo o estado ocupar a segunda posição no ranking de produtores nacionais, ficando atrás de Minas Gerais. A atividade tem peso fundamental na economia de 94% dos municípios gaúchos.

– Essa radiografia é importante, porque traz aspectos claros. Um deles é a importância da cadeia do leite para o Rio Grande do Sul. Ela está em quase todos os municípios. Outra é que ela é muito forte na agricultura familiar, a grande maioria dos produtores é da agricultura familiar – afirmou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, um dos integrantes do painel.

Segundo ele, o setor gaúcho possui plena capacidade para se tornar o principal produtor de leite do país, por ter espaço para aumentar o rebanho e disponibilidade de água. Algumas questões, porém, ainda precisam ser resolvidas, como o sistema de proteção financeira governamental, que ainda é fraco, os custos altos e os baixos preços pagos aos produtores, e problemas na regra de falências, que faz com que muitos pecuaristas fiquem anos sem receber por leite entregue a indústrias que deixaram de funcionar.

Outro panelista, o presidente da Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Apil), relatou que a presença de pequenos produtores no setor leiteiro está recuando nos últimos anos devido à dificuldade de muitos produtores em adaptarem suas propriedades às necessidades técnicas da atividade, junto com o envelhecimento de muitos produtores e a falta de interesse dos herdeiros em seguir adiante.  

– Estamos excluindo de forma muito rápida a metade dos produtores, devido à idade e à falta de investimento. Metade das propriedades não cumpre a regra e elas precisam de investimentos para se adequar à legislação. Elas requerem investimentos significativos – disse Wladimir Dal’Bosco.

Para o presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), Ernesto Krug, o pequeno proprietário precisa contar “assistência técnica agregadora de valor, que faça a diferença durante a visita à propriedade”. Ele também levantou a questão de que a produtividade dos pecuaristas é prejudicada pela falta de capacitação, seja deles ou de seus funcionários.

A falta de eficiência da mão de obra foi citada pela maioria dos produtores (46%) como sua principal dificuldade, segundo o levantamento do IGL e da Emater-RS. A questão dos herdeiros ficou em segundo lugar (41,9%) no ranking de problemas.  

Segundo o gerente técnico da Emater-RS, Valmir Netto Wegner, algumas das dificuldades podem ser resolvidas com a melhora no processo de gestão. Ele recomenda que os pecuaristas reservem parte dos ganhos que fazem em épocas de preços bons para realizar investimentos e aguentarem os períodos em que o mercado está adverso.

– Temos trabalhado para que o produtor nesse período de bons preços faça uma reserva, porque a atividade é cíclica. O produto tem que estar preparado para enfrentar estes períodos críticos de preços – disse.

Comércio exterior e sanidade

A concorrência com produtos vindos dos países do Mercosul foi outro ponto citado pelos panelistas como problemática para a cadeia leiteira, que reclamaram que a situação está levando os produtores brasileiros a perderem espaço no mercado doméstico.

Todos concordaram que a saída é exportar mais, visto que as vendas a mercados de fora representam menos de 1% da produção total.

– Nós precisamos, no mínimo, equilibrar essa balança comercial, exportamos menos de 1% da produção. Se exportarmos no mesmo nível que importamos, já estaria bom – afirmou Piccinini.

Para isso, o Brasil precisa melhorar a sua vigilância sanitária, melhorando a fiscalização da produção leiteira.

– Se a gente não resolver a questão da sanidade interna, não temos como colocar nosso produto nos mercados externos – afirmou Dal’Bosco.