Novos mercados decidirão futuro de aves e suínos

Setor de aves está em um bom momento no país e no mundo, diz presidente da BRF

Fonte: MPT-RS/Divulgação

Representantes das principais cadeias de proteína animal do país debateram nesta quarta, dia 29, no Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura (Siavs), em São Paulo (SP), os rumos das atividades no segundo semestre do ano e no início do ano que vem. O bom momento da avicultura, que surpreendeu nas exportações, foi destaque.

Nos últimos dois meses, o Brasil embarcou aproximadamente 800 mil toneladas de frango. Boa parte dessa demanda era suprida antes pelos Estados Unidos, que já sacrificou 50 milhões de animais por causa de um surto de gripe aviária. O setor tem comemorado o aumento repentino dos embarques e principalmente a possibilidade de abertura de novos mercados.

O presidente da BRF, Pedro Faria, afirmou que a abertura de novos mercados para exportação de aves e suínos deve determinar o futuro do setor. Ele discursou em um painel que debate a próxima década do setor. Faria esteve no mesmo painel com os presidentes da JBS e Aurora, Wesley Batista e Mario Lanznaster, respectivamente. Segundo ele, o setor de aves está em um bom momento no país e no mercado internacional. Com o aumento do consumo global, no entanto, o Brasil precisa investir mais na abertura de novos mercados para que o segmento possa se expandir.

– O consumo de frango vai continuar ganhando espaço. É uma proteína que vence todas as barreiras culturais e se beneficia de ser bastante competitiva – afirmou.

De acordo com o presidente da BRF, a empresa tem perspectivas de parcerias na Indonésia.

– Mas a abertura de mercado é algo ainda bastante distante – disse.

Ele, no entanto, avaliou como positivo o esforço dos últimos anos.

– Pudemos acessar mercados que estão crescendo nos últimos anos e estamos em países bastante sofisticados, como é o caso do Japão e Rússia – afirmou.

Segundo ele, a perspectiva é que o Brasil tornou-se bastante competitivo para ganhar espaço global. Mas há ainda questões internas que seguram um pouco o produtor, como os tributos e o valor cobrado pela energia elétrica.

– Na questão de energia elétrica, ficamos no último lugar na competitividade externa – disse.

Ele elogiou os esforços do governo federal em relação à segurança sanitária do agronegócio.

– A segurança sanitária é a única coisa que poderia nos tirar o trem do trilho – disse. 

Suínos

Em sua fala, o presidente da Aurora Alimentos disse que é preciso incentivar o consumo da carne suína no Brasil.

– É preciso mudar a visão de como a carne é produzida hoje – afirmou Lanznaster.

Segundo ele, é preciso apresentar para o consumidor que a questão sanitária na criação e processamento de suínos hoje é muito mais avançada. Diferentemente da demanda de aves no Brasil, que segue crescente, a perspectiva de consumo de carne suína em 2015 é de 14,67 quilos per capita, queda 0,27% em comparação com 14,71 quilos por habitante em 2014.

Para Lanznaster, em relação às exportações, o Brasil ainda é muito dependente da Rússia e é preciso diversificar, inclusive com a abertura de novos mercados. A Rússia é o maior comprador com 38,5% do total dos embarques (118 mil toneladas), seguido de Hong Kong com 22,9% (110 mil toneladas).

– O Brasil é um país fadado a produzir e exportar alimentos para o mundo inteiro – disse.

Para ele, o país tem capacidade e competitividade para atuar nos principais consumidores globais. 

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as exportações brasileiras de carne suína devem terminar o ano com um total de 507 mil toneladas embarcadas, avanço de 3% na comparação com o registrado no ano passado. As exportações de carne suína totalizaram 228,4 mil de toneladas no primeiro semestre de 2015, desempenho 5,3% inferior ao registrado no ano passado. A receita em dólar recuou 21,8%, para US$ 552,2 milhões. Apenas em junho foram embarcadas 47,34 mil toneladas, volume 5,5% superior a junho de 2014. 

“Custos invisíveis”

Os presidentes da JBS, BRF e da Cooperativa Central Aurora Alimentos reclamaram que problemas de infraestrutura e “custos invisíveis” prejudicam o setor de proteína animal. Pedro Faria, CEO da BRF, disse que a crise energética não é um problema tão premente, já que a indústria consegue investir para obter maior eficiência neste setor.

– Hoje me preocupam mais os custos invisíveis, como falsas barreiras sanitárias, morosidade nos portos e burocracia. Fala-se pouco também da questão de crédito no Brasil, que é muito relevante – afirmou.

O presidente global da JBS, Wesley Batista, ressaltou que há problemas conhecidos no Brasil, como a pequena malha ferroviária e a dificuldade de escoar a produção nos portos, mas que outros desafios limitam a competitividade do país.

– Infraestrutura o dinheiro resolve; fazemos um porto e resolvemos o problema. Mas há questões no Brasil que são crônicos – disse.

Segundo ele, ações trabalhistas devido à insegurança jurídica são um problema que mina o valor de acordos coletivos. Batista também cita a necessidade de continuar a reforma tributária para a “desburocratização do Brasil”.

Já Mário Lanznaster, da Aurora, destacou que as empresas precisam manter “uma banca dos melhores advogados do Brasil para entender” o sistema tributário e que o país precisa investir em ferrovias.

– Não dá para termos menos ferrovias que a Holanda e a Alemanha, que são países muito menores – disse.  

Mercado interno

Nas discussões sobre o abastecimento interno, o setor de ovos foi destaque. Além das aves e dos suínos com um primeiro semestre de bons resultados, a proteína tem sido opção para o consumidor que diminuiu o consumo da carne vermelha.

– O ovo aparece como uma ótima estrela, uma fantástica estrela no mercado interno, aumentando muito o consumo interno. Nós estávamos consumindo muito abaixo da média mundial e também com grande perspectiva da gente abrir mercado para o ovo fértil, material genético e até ovos comerciais. Há problemas sanitários e, para nós, abriu-se uma chance de ampliar muito as vendas para o Japão, ovo comercial, genético e chance de a gente vender ovo em escala comercial para os Estados Unidos – projetou o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco Turra.