Melão da Embrapa surpreende pela doçura e resistência a doença

Variedade Araguaia está sendo testada nas principais regiões produtoras do país; resultados indicam maior produtividade

Imagine produzir um melão amarelo que, além da boa produtividade e resistência a doenças, ainda apresenta um grau de doçura maior? Pois estas são as características destacadas por produtores para a variedade lançada pela Embrapa.

Resultado do programa de melhoramento genético de melão da Embrapa, a BRS Araguaia está sendo testada nas principais regiões produtoras do país: o Vale do Açu, no estado do Rio Grande do Norte, e o Vale do São Francisco, nos estados de Pernambuco e Bahia.

Na média, o rendimento gira em torno de 40 toneladas de frutos comerciais por hectare. O híbrido também resiste bem ao fungo oídio, uma das principais doenças que atingem a cultura e apresenta doçura maior e distribuída de forma homogênea em todo o fruto.

“O mercado é muito dinâmico e competitivo, por isso foi fundamental entregar um material com produtividade equivalente aos híbridos comerciais, mas que, além disso, tivesse uma vantagem adicional que é a resistência ao oídio”, reforça o pesquisador da Embrapa Valter Rodrigues Oliveira, responsável pelo melhoramento genético da cultivar.

Aprovado pelo produtor

No fim de julho, o produtor Joaquim Tanaka plantou o melão BRS Araguaia em uma parcela experimental, em Porto Esperidião, município no sudoeste de Mato Grosso, e constatou que o híbrido apresenta um desempenho melhor que outras variedades comerciais. “Ele teve melhor uniformidade de frutos. Houve incidência de fungo na lavoura, mas ele sofreu menos ataques que as outras variedades de melão”, conta.

Quando chegou a colheita, nos meses de setembro e outubro, Tanaka ficou surpreso com a produtividade: “O BRS Araguaia produziu dois frutos a mais por planta, com média de 1,6 kg cada fruto”, relata o agricultor.

Embora a produção nacional de melão esteja concentrada em grandes áreas e empresas, ainda há pequenos e médios produtores de melão amarelo, principalmente na região do Vale do São Francisco. Como não necessariamente o melão do tipo amarelo precisa entrar na cadeia do frio logo após a colheita (ao contrário dos melões nobres, como Gália e Cantaloupe), o agricultor sem estrutura de beneficiamento e armazenagem consegue produzir e escoar os melões.

Produção no Brasil

Quase a totalidade da produção brasileira de melão está concentrada no Nordeste, devido às condições ambientais mais favoráveis que permitem o cultivo durante o ano todo, apesar de haver maior dificuldade nos plantios de verão. De um modo geral, essa regra vale para todas as espécies de hortaliças.

Do ponto de vista da logística, a região também é favorecida pela proximidade com portos que escoam os frutos para países da União Europeia entre os meses de agosto a março — período de entressafra das lavouras espanholas, que lideram o fornecimento para o bloco econômico. Segundo Oliveira, no mercado europeu, o melão brasileiro somente é competitivo até abril, quando então a safra da Espanha se inicia e inviabiliza as exportações brasileiras por causa das tarifas de importação.

Nos outros meses, a produção se volta para o mercado interno, mas geralmente os produtores iniciam os plantios em maio já pensando no mercado de exportação, uma vez que o ciclo do melão gira em torno de 60 dias. Em virtude desse contexto, os frutos devem apresentar bom desempenho e resistência após a colheita, visto que vão enfrentar duas semanas em navios para cruzar o Atlântico e chegar aos portos europeus.

“A cultivar BRS Araguaia apresenta um padrão que atende às exigências do mercado: frutos com peso médio de 1,7 kg, vida útil de 30 dias e elevado teor de açúcares e demais sólidos solúveis”, ressalta o agrônomo. Ele afirma que, durante a pesquisa, os frutos foram submetidos a situações drásticas de armazenamento, em câmaras frias de laboratório, e que as condições de mercado seriam mais favoráveis para obtenção de valores ainda melhores.

Segundo Rodrigues, que acompanha os ensaios de validação do híbrido, o melão apresenta excelentes características após a colheita, como a boa formação de casca que resiste à mancha-chocolate. Esse distúrbio está relacionado ao escurecimento do fruto, tornando-o impróprio para comercialização, e sua ocorrência é frequente nas condições de transporte de melão no Brasil.

Apesar de os frutos atenderem mais aos padrões do mercado nacional, Oliveira considera que o híbrido BRS Araguaia é um melão de dupla aptidão porque também pode ser direcionado para o mercado externo. Contudo, devido à ampla adaptação às condições da região Centro-Oeste (em especial, noroeste de Goiás) e do Nordeste (com foco no vale do São Francisco), a estratégia principal para o melão BRS Araguaia é entregar mais qualidade para os consumidores brasileiros que, em regra, consomem frutos de qualidade inferior aos exportados para a Europa.

Continuação das pesquisas

Altas temperaturas, escassez hídrica e salinidade são fatores abióticos que compõem a equação que as pesquisas com melhoramento genético de melão devem solucionar nos próximos anos. Por outro lado, entre os fatores bióticos, permanecem as buscas por resistência às principais pragas e doenças como oídio, mosca-minadora e vírus-do-amarelão.

“A qualidade pós-colheita também será essencial para expandir a vida útil e permitir que os melões cheguem a novos mercados como a Ásia”, analisa o pesquisador Valter Oliveira. O programa de melhoramento genético da Embrapa já tem planos de, a curto prazo, lançar uma nova variedade de melão amarelo destinada à exportação e, assim, fazer a genética nacional ganhar o mundo.

Em validações da empresa na macrorregião de Petrolina (PE), os produtores elogiaram a boa cobertura foliar, crescimento vigoroso e a capacidade produtiva, além da firmeza e da doçura da polpa. Segundo Rodrigues, a estratégia vai ser posicionar a cultivar para atender o mercado interno com frutos firmes, excelentes para transporte, e com elevado teor de açúcares. Ele revela que houve interesse no licenciamento porque a empresa busca novas genéticas para atuar em mercados maiores, como o segmento de híbridos que está em crescimento.

“Geralmente, o que se cultiva no Brasil são materiais genéticos importados, de empresas estrangeiras que desenvolveram o híbrido de melão fora do nosso país. Por isso, ver a genética nacional sendo inserida nesse mercado é uma conquista que representa ganho de qualidade para produtores e consumidores”, avalia Oliveira ao comentar que ainda é necessário desenvolver a parte de fitotecnia para o híbrido BRS Araguaia alcançar todo o potencial.