Ela tem um nome imponente, bem de acordo com a importância do papel que desempenha na propriedade. A cadela Estampa da Recoluta é responsável por tocar o rebanho de bovinos e de ovelhas da fazenda de Marcelo Silveira Mota, em São Francisco de Paula (RS). Ela nem precisa receber comandos do dono, pois conhece bem as rotinas da fazenda, desde que era filhote. Além de competente na lida diária, o animal também se dá bem com as crianças. “A gurizada mexe na orelha, abre a boca, olha os dentes, olha a orelha… Parece um cachorrinho de pelúcia“, conta Mota.
Estampa é uma legítima representante da raça ovelheiro gaúcho, surgida na Metade Sul do estado e no norte do Uruguai, provavelmente através de cruzamentos entre o collie escocês e o cão da Serra da Estrela, de origem portuguesa. Os primeiros relatos sobre o ovelheiro datam de 1889, mas a raça só foi oficialmente reconhecida em 2004.
A presidente da Associação dos Criadores de Ovelheiro Gaúcho, Ellen Nunes Garcia, afirma que os exemplares da raça são extremamente inteligentes, com muita iniciativa e dispensam um treinamento formal para que atuem na pecuária. “Não se treina (o ovelheiro), mas se diz o que fazer, e com isso se mantém sua individualidade, iniciativa e inteligência”, diz ela.
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A versatilidade é outra característica marcante da raça. Sempre atento e preocupado com a segurança dos donos, dificilmente algo estranho acontece sem que ele dê o alarme.
O pecuarista Mota conta que já teve outras raças de pastoreio na propriedade, mas há quatro anos optou pelo ovelheiro gaúcho. E confirma as informações da presidente da associação de criadores. “Eles não aprendem a te obedecer, eles aprendem a fazer o serviço. Se uma rês fugiu, não precisa mandar trazer para a mangueira: eles vão lá buscar aquele rês que fugiu”, afirma.
Como a raça só foi registrada recentemente, ela ainda não é muito conhecida e nem facilmente reconhecida. De acordo com Ellen Garcia, para um leigo, o ovelheiro se assemelha morfologicamente a outros cães pastores. Mas há uma característica que o distingue de outras raças de trabalho.
“O border collie trabalha através do olhar; enxerga os animais e trabalha com eles. O ovelheiro não precisa disso, trabalha em campo limpo, tira gado do mato ou de áreas alagadas, sem precisar enxergar os animais, porque tem um fao aguçado”, informa.
