Gado indubrasil quer recuperar a popularidade

Formada pelo cruzamento de gir, guzerá e nelore, raça já representou 80% do rebanho nacional e tem aptidão para carne e leite 

De cruzamentos entre os zebuínos gir, guzerá e nelore iniciados na década de 1930, surgiu uma raça que, no passado, chegou a representar 80% do rebanho nacional: o indubrasil. Inicialmente chamada de induberaba, induaraxá, indubahia, ela teve seu primeiro registro na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) em 1938, ficando conhecida pelo nome mantido até hoje.

A história da raça está guardada na casa centenária da fazenda da família Caetano Borges, em Uberaba (MG). Ali estão fotografias e registros dos primeiros cruzamentos que deram origem ao indubrasil. Rodrigo Caetano Borges é bisneto do pioneiro da raça, que foi buscar exemplares na Índia para “montar” o animal que considerava ideal. “Um gado de orelha maior, mais pesado, muito rústico, porque naquela época a gente não tinha a tecnologia de pastagens que temos hoje”, diz o criador.

O cupim acima do dorso lombar, as orelhas compridas em formato de lança e os chifres são características marcantes do indubrasil. A raça zebuína foi ganhando  espaço em vários estados, principalmente na Região Nordeste. Tornou-se muito difundida no rebanho brasileiro e chegou a ser exportada até para os Estados Unidos.

A abertura de novas fronteiras e a expansão no nelore acabaram diminuindo a popularidade da raça forjada no país, afirma o diretor da Associação Brasileira do Indubrasil, Henrique Figueira. Além disso, diz ele, os criadores da raça valorizavam o tamanho das orelhas, por exemplo, mas não se preocupavam com as características funcionais.

Ao longo do tempo, muitos pecuaristas abandonaram os trabalhos de seleção e liquidaram os plantéis. Isso quase levou a raça á extinção. “Mas essa redução do rebanho foi benéfica, havendo uma seleção natural dos melhores exemplares, em criatórios no Sul, em Minas Gerais e em São Paulo”, conta Figueira.

A qualidade dos animais que restaram nos pastos chamou a atenção do mercado pecuário e nos últimos três anos o indubrasil voltou a se destacar no cenário nacional.  No ano passado, a venda de material genético da raça triplicou e hoje há quatro touros em centrais de inseminação. O Brasil voltou a exportar animais e genética do indubrasil, que está presente em mais de 20 países, como México, Guatemala e Índia.

De acordo com o presidente da associação, o novo indubrasil chamou a atenção porque muitos dos problemas que eram atribuídos à raça foram sanados. “Hoje, a gente vê uma bezerrada que nasce e já mama sozinha, uma bezerrada saudável, os touros com correção de bainha, prepúcio, então esses problemas foram sanados e as qualidades vieram mais à tona”, diz Henrique Figueira.

O maior mercado para o indubrasil está concentrado no Centro-Sul do país. A raça tem dupla aptidão e pode ser utilizada para a produção de leite e de carne. Rodrigo Caetano Borges afirma que os criadores querem mostrar que o indubrasil pode ser utilizado em vários cruzamentos. “Tanto com o gado holandês, para a produção de leite, e também com gado europeu, para a produção de carne”, diz.