Conheça técnica que produz embrião sem laboratório

Transferência Intrafolicular de Ovócitos Imaturos (Tifoi) é parecida com a fecundação in vitro e resulta em produtos mais resistentes

Fonte: Claudio Bezerra Melo/Embrapa

O Brasil, que já é líder em produção de embriões, agora também é o pioneiro no desenvolvimento de técnica de produção sem uso de laboratório. A expectativa é de que o avanço das pesquisas eleve a qualidade do trabalho de fecundação no país.

Uma técnica desenvolvida pela Embrapa possibilita a fecundação de embriões sem sair da fazenda. A tecnologia, chamada de Transferência Intrafolicular de Ovócitos Imaturos (Tifoi), é parecida com a fecundação in vitro, mas com diferenças. A técnica não precisa do uso de laboratório e resulta em embriões mais resistentes ao congelamento. Outra diferença é que o embrião é produzido dentro de uma fêmea, o que torna a qualidade muito superior em relação ao de laboratório in vitro. 

“Os embriões sendo de melhor qualidade aumentam as taxas de gestações. E uma das limitações da FIV é que o embrião sendo produzido em laboratório e a qualidade ser inferior tem problemas para serem criopreservados. Então, os resultados da criopreservação não são tão bons”, afirma a pesquisadora da Embrapa, Margot Dode. 

A nova biotécnica eleva a capacidade de aumentar o número de descendentes de uma vaca por meio e um processo mais próximo ao desenvolvimento natural de um embrião. A Alemanha já havia testado o método, porém com partes feitas em laboratório. O Brasil é o primeiro a obter êxito realizando a Tifoi, e do novo método já nasceram três bezerros na Fazenda da Embrapa, localizada em Brasília.

“Nós já tivemos bezerros nascidos dessa técnica. Então, isso mostra que, apesar dos índices ainda não serem muito bons, eles ainda são relativamente baixos, o fato de a gente ter conseguido não só os embriões, mas também os bezerros isso nos encoraja a tentar melhorar esses índices e trabalhar mais na técnica”, conta Dode. 

Para ter ideia do potencial das biotécnicas utilizadas no melhoramento genético animal no Brasil, a inseminação artificial permite o nascimento de um bezerro por ano. a transferência clássica de embriões é realizada uma vez por mês, enquanto a Fecundação in vitro e a Tifoi são capazes de produzir um bezerro por semana. Na Transferência Intrafolicular, os embriões são obtidos no organismo da fêmea a ser multiplicada. Os ovócitos da vaca são aspirados ainda imaturos e os melhores são selecionados e injetados na fêmea ovuladora, onde os ovócitos serão maturados naturalmente.

“Nós vamos aproveitar toda a questão fisiológica da fêmea. Esses ovócitos são transferidos para o folículo, esse folículo tem que está próximo da ovulação, então no mento em que essa fêmea ovular, que normalmente iria acontecer, ela vai ovular o ovócito dela própria e os outros que nós vamos colocar lá dentro”, explica Dode. 

Os ovócitos vão ser fecundados por inseminação artificial e, depois de sete dias, os embriões são retirados da fêmea e vão ou para a criopreservação ou transferidos para as receptoras, as conhecidas barrigas de aluguel. Para a pesquisadora, que orientou os estudos sobre a técnica, o principal desafio é garantir que os ovócitos sejam ovulados no momento do rompimento do folículo. 

A tecnologia foi divulgada em novembro de 2016. Agora, a Embrapa vai aperfeiçoar a técnica. Maurício Peixer, um dos pioneiros em fecundação in vitro no país, vê com bons olhos o processo, e ressalta que ainda precisa atingir resultados interessantes para o mercado. 

“Se comparado a fecundação in vitro, esse embrião produz maior gestação, menor perda e maior eficiência do trabalho. Entretanto a Tifoi ainda não é aplicável comercialmente. Por quê? Porque o resultado ainda está aquém do esperado, do comercial. Vejo que a Tifoi tem um grande potencial para o futuro um grande potencial para a produção massiva de embriões se comparado a fecundação hoje in vitro”, analisa Peixer. 

Mesmo com desafios, Maurício reconhece que os resultados mostram a qualidade do trabalho desenvolvido no Brasil, maior produtor de embriões do mundo, com volume chega a 450 mil por ano.

” Não tenho duvida que esse trabalho que a Embrapa está fazendo mostra para o mundo que o Brasil não está estagnado. Mostra que o Brasil está em plena evolução de produção de embriões”, completa.