Genética para exportação movimenta R$ 400 milhões

Melhoramento genético brasileiro chama atenção pela eficiência produtiva; especialistas defendem que receita só não é maior devido à burocracia 

Fonte: Gabriel Jabur / Agência Brasília

A primeira exportação oficial de material genético bovino brasileiro foi em 1997. Desde então, o mercado atrai produtores de todo país que investem no melhoramento do rebanho para conquistar importadores, principalmente de clima tropical. Agora, a novidade é a produção de embriões.

Mesmo com os entraves dos protocolos sanitários o mercado tem movimentado no Brasil cerca de R$ 400 milhões de reais por ano. Amauri Gouveia é considerado referência nacional em genética de manejo. Na fazenda que tem em Avaré, no interior de São Paulo, a grande aposta é a cria e recria de touros e vacas da raça nelore para venda de animais e de sêmen, coletados em centros especializados. 

“Temos seis touros em centrais. Eles dão retorno e ainda tem a chancela de você ser carimbado por um programa sério. Isso faz com que as pessoas que vão comprar saibam a procedência, um critério de seleção”, conta Gouveia. 

Além da eficiência produtiva, o melhoramento genético dos planteis brasileiros abriu portas para exportação de materiais com sêmen e agora embriões. Um mercado que só em 2016 movimentou R$ 400 milhões no Brasil e tem tudo para conquistar mais mercados. 

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial, Sérgio Saud, a genética zebuína brasileira tem crescido bastante nos últimos anos. 

“Raças como Gir, Girolando e Nelore têm gerado demanda, se mostraram como raças eficientes para ambientes desfavoráveis, como países de clima tropical e temperatura elevada. Então, países como Colômbia, Bolívia, Equador se destacaram”, conta. 

Uma central de coleta, inaugurada há três anos, em Itatinga, também no interior de São Paulo, deve produzir um milhão de doses de sêmen bovino para o mercado nacional e exportação para nove países. 

Com 150 clientes de todas as regiões do país, a sede aloja 190 touros. Em cada procedimento como este é possível retirar uma média de 500 doses de sêmen, que passam por exames de qualidade e sanidade antes de seguirem viagem. 

De acordo com o diretor-presidente da Seleon, Bruno Grubisich, o mercado está em plena ascensão. 

“O câmbio favoreceu. O fato do real se desvalorizar frente ao dólar atrai investidores que pagam em dólar. Então, percebemos que está aumentando a demanda e nós estamos nos organizando para atender uma demanda cada vez maior”, comenta. 

Além da produção de sêmen, o grupo investe na produção ‘in vitro’ de embriões. A tecnologia é ideal para grandes programas de reprodução. Ainda na fazenda, um veterinário retira os óvulos que vão ser fertilizados e que podem ser preservados por até 200 anos. 

 Toda a exportação do material é acompanhada pelo Ministério da Agricultura e segue um protocolo no país importador. Grande parte das certificações é dada pelos centros de coletas habilitados pelo governo. Mas em muitos casos as doses vão para o Instituto Biológico de São Paulo, único credenciado para testes de sanidade 

“Fazemos análises de estomatite vesicular, leucose bovina, rinotraqueíte infecciosa bovina, e diarreia viral bovina. O resultado tem uma programação de cinco dias úteis. A capacidade do laboratório para um mês seria por volta de umas 12 mil amostras”, conta Eliana de Stefano, pesquisadora do instituto. 

Prontas as certificações, sêmens ou embriões bovinos chegam a despachantes aduaneiros. Celso Squassone trabalha com mercados internacionais há 30 anos e acredita que o número de exportações brasileiras só não é maior pela burocracia nos protocolos sanitários. 

“Tem protocolos que são formados em uma semana, outros em um ano. Tudo depende dos meios de comunicação entre os dois países. Às vezes a comunicação ela é feita direta de ministério para Ministério ou indiretamente passando por vários órgãos federais. Torna-se burocrático e demorado”, afirma.