Milho: preço ruim e custo alto desanimam produtores em São Paulo

Agricultores dizem que o preço do cereal não remunera bem e que gastos com produção estão cada vez mais elevados

Fonte: VisualHunt/divulgação

A produção de milho primeira safra vai ser menor que a da última safra, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e com consultorias de mercado. Há produtores do interior de São Paulo investindo bem menos na cultura. Eles dizem que o preço não remunera bem e que os custos estão cada vez mais altos.

A consultoria Safras & Mercado divulga que o plantio do milho verão já atingiu 81% da área estimada no país. A cada dia vai sendo confirmada a área menor destinada ao cereal na primeira safra.

Produtor de Boituva, no interior de São Paulo, Celso Galvão só plantou milho verão para rotacionar uma área de cana. Ele acredita que o custo da cultura é muito alto e ficou com receio de ter prejuízo.

“Nós estamos reduzindo a área de plantio porque não cobre os custos. Se o tempo não ajudar, a situação piora, como no ano passado. Aconteceu um veranico, e a produção não cobriu os custos”, diz o produtor.

A Conab confirma a redução da área cultivada com o milho primeira safra. A queda pode ser de até 11% em comparação com o último cultivo de milho verão. E a previsão é de que a produção seja de até 25 milhões de toneladas, queda de mais de 15% em relação à primeira safra 2016/2017.

Mas a produção menor não preocupa. Ainda tem muito milho estocado. A comercialização da safrinha está em torno de 61% no país, de acordo com a consultoria Safras & Mercado.

“A gente tem um cenário de estoques elevados, bem diferente do cenário que a gente viu no ano anterior. A gente vai passar, de acordo com os dados da Conab, ao redor de 19,1 milhões de toneladas, enquanto no ano passado a gente tinha um estoque de 7 milhões. Esse milho está na mão do produtor, que está cadenciando o ritmo do mercado”, afirma Douglas Coelho, sócio da Radar Investimentos.

Os estoques estão elevados, apesar do aumento das exportações de milho neste ano. De janeiro a outubro, o Brasil exportou quase 22 milhões de toneladas do grão, crescimento de 9% em relação ao mesmo período do ano passado.

Mas o preço pago ao produtor, abaixo de R$ 33 a saca, vem desestimulando a produção. Douglas Coelho não vê mudança de cotação no curto prazo, mas afirma que o preço pode subir nos próximos meses.

“Se esse recuo de área e uma elevação do câmbio acontecerem de fato, a gente pode ficar até um pouco mais otimista para o segundo semestre de 2018”, diz ele.

O produtor Ademir Caltana plantou um pouco de milho-pipoca e deu preferência para a soja na primeira safra. Mas, como o plantio está atrasado, ele ainda não sabe se vai ser possível fazer a segunda safra do cereal.

“O ideal para a gente seria produzir o milho segunda safra. Como agora a janela da soja está avançando muito, então vamos ver se na época a gente vai conseguir plantar alguma coisa”, diz.