Brasil vai precisar importar milho dos EUA

O Ministério da Agricultura está tentando aprovar medidas para estimular e facilitar ainda mais as importações para amenizar o problema de abastecimento

Fonte: Pedro Revillion/Palácio Piratini

Em tempos de falta de milho brasileiro, o diretor da consultoria FC Stone da Argentina, Gonzalo Torracini, afirma que o Brasil vai precisar importar o grão dos Estados Unidos. Segundo o analista, o Brasil já realizou compras de cerca de 300 mil toneladas da Argentina, mas a programação de embarques dos navios do país vizinho já está cheia. A solução encontrada seria importar o grão dos americanos. “Para alguns destinos do Brasil, por exemplo o nordeste, o milho americano é mais competitivo e viável economicamente”, disse.

Ainda segundo Torracini, as chuvas atrapalharam a colheita da soja na Argentina e muitos produtores rurais optaram por deixar o milho em segundo plano e privilegiar o milho. 

Importação mais que dobrou

O Brasil importou 243,67 mil toneladas de milho entre janeiro e abril deste ano, mais que o dobro do volume recebido em igual intervalo de 2015, quando foram importadas 117,16 mil toneladas. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços. O maior fornecedor do grão no período foi o Paraguai, com 123,74 mil toneladas. O segundo principal exportador para o Brasil foi a Argentina, com 119,9 mil toneladas. O total de lotes adquiridos dos Estados Unidos já somam 19,55 toneladas.

 Os recebimentos vêm aumentando a cada mês, sendo que 105,94 mil toneladas chegaram ao Brasil em abril, e 94,35 mil toneladas, em março. Mesmo com o aumento das compras externas, o volume adquirido fica muito aquém do total exportado pelo Brasil nos quatro primeiros meses deste ano, de 12,224 milhões de toneladas.

As fortes exportações do País nos primeiros meses do ano, estimuladas pelo câmbio, absorveram grande parte dos estoques internos, o que resultou em um cenário de abastecimento apertado no mercado doméstico. Assim, criadores de aves e suínos vêm relatando dificuldades em encontrar lotes disponíveis para entrega imediata, além do forte aumento dos custos do cereal. O indicador Cepea/Esalq para o preço do cereal acumula alta superior a 43% este ano.

Para a Scot Consultoria, as cotações do grão importado tiveram vantagem ante o produto brasileiro nos primeiros meses deste ano. “É justamente essa maior competitividade do produto importado, em relação ao nacional, que tem levado grandes empresas integradoras de aves e suínos a importarem milho de países do Mercosul”, afirmou a consultoria, em relatório divulgado nesta terça-feira.

Outra questão importante que tem incentivado as compras de milho de outros países é a falta do cereal no mercado doméstico. “O ponto principal, além do preço, é a disponibilidade nos países vizinhos, cenário diferente do brasileiro onde em curto e médio prazo a expectativa é de estoques reduzidos.”

De acordo a levantamento da Scot, com base nos números divulgados pelo ministério, “a demanda firme no Brasil fez os preços subirem nos países vizinhos” no período analisado. Mesmo assim, o cereal de origem paraguaia ainda chegava ao País a preços competitivos ante os praticados no mercado interno. De acordo com o cálculo, o preço da saca de milho do Paraguai no mês passado equivaleria a R$ 44,21 no médio norte de Mato Grosso.

Para amenizar o problema de abastecimento, o Ministério da Agricultura está tentando aprovar medidas para estimular e facilitar as importações. Em abril, a Câmara de Gestão de Comércio Exterior (Camex) aprovou a isenção de imposto na importação de milho, o que beneficia, em especial, países de fora do Mercosul.

O efeito da isenção ainda não foi sentido – o recebimento do grão norte-americano foi registrado em janeiro. Outra proposta era a isenção do PIS/Cofins nas compras do cereal, mas o pedido, enviado pela então ministra da Agricultura Kátia Abreu, foi rejeitado pela Receita Federal em abril.

Nos quatro primeiros meses deste ano, a maior parte do milho importado chegou ao Brasil por rodovias até cidade de Santa Helena, no Paraná, perto da fronteira com o Paraguai, com 72,97 mil toneladas. A segunda principal rota de entrada foi pelo porto de Recife (PE), com 59,61 mil toneladas, seguida pela rodovia de Foz do Iguaçu (PR) (34,16 mil toneladas).

Nos dados do Ministério, aparecem também o porto de São Francisco do Sul (SC), com 31,6 mil toneladas, e o porto de Fortaleza (CE), com 23,1 mil toneladas.

Com informações da Agência Estado