Contratação de crédito cresce 14%: bom para quem?

Segundo analistas, é uma boa oportunidade de investimento para os médios e grandes produtores, mas para a agricultura familiar o cenário continua desfavorável

Fonte: Mapa/divulgação

Com o clima favorável à produção de grãos, as contratações de crédito cresceram cerca de 14% em comparação aos primeiros seis meses do plano safra 2016/2017. Boa oportunidade de investimento para os médios e grandes produtores, mas para a agricultura familiar o cenário continua desfavorável

De julho a dezembro de 2017 foram contratados quase R$ 79 bilhões em crédito rural, 14% a mais que no mesmo período de 2016. Alguns programas ganharam destaque nesta temporada, como as contratações do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), que quase dobraram no período, movimentando mais de R$ 400 milhões. Outro programa no qual os desembolsos cresceram foi o Moderinfra, que financia a instalação de equipamentos de irrigação, com R$ 260 milhões acessados, o que representa quase o dobro da temporada passada.

“São programas que estamos priorizando, reduzindo a taxa de juros de 8.5% para 6,5% e o resultado esta aí, com o campo a todo vapor e previsão de supersafra novamente. Isso se deu bastante pelos fatores internacionais, que não são tão favoráveis como o que foram no ano passado”, disse o secretário de Política Agrícola, Neri Geller.

O crédito rural beneficiou os médios e grandes produtores, mas na agricultura familiar os números seguem um ritmo igual ao da safra passada. O acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi de quase R$ 14 bilhões, número semelhante ao de 2016. O total ofertado no programa é 170% menor que o valor disponibilizado aos médios e grandes produtores neste plano safra.

“A concessão de crédito estacionou nos R$ 30 bilhões. Os juros do crédito pronaf reduziram, mas como eles temos a obrigação de contratar seguros, que acaba ficando bem mais caro que a Selic. Hoje, se você somar 5,5% de taxa máxima da agricultura familiar com os 5% de custo da contratação do Proagro, você chegou a uma taxa de 10% que está bem acima da Selic, hoje em 7%”, disse o consultor de agronegócio César Clímaco.

De acordo com o secretário do Ministério da Agricultura , a queda na taxa Selic não inviabiliza o crédito rural oficial, mas, para o consultor, é preciso criar uma nova forma de financiamento que traga benefícios à agricultura. “A realidade da Selic é muito boa para o país, mas ela vai criar uma nova agricultura e uma nova forma de financiamento. O governo tem que pensar na agricultura como um todo”, disse Clímaco.

A previsão para os próximos seis meses, de acordo com o Ministério da Agricultura, não é de mudanças, mas abre espaço para uma possível redução da taxa de juros. “O governo ainda tem um custo bastante elevado. Obviamente que, com a redução da taxa Selic para o próximo plano safra nós teremos espaço para discutir uma redução dessa taxa de juros. A agricultura empresarial vai muito bem, mas a agricultura familiar está pedindo socorro”, falou Geller.