Brasil encolhe por três trimestres seguidos e amplia recessão

PIB do país reduz 1,7% de julho a setembro, em relação a período anterior, conforme IBGE

Fonte: Ueslei Marcelino/ Reuters

A economia brasileira encolheu mais do que o esperado no terceiro trimestre deste ano sobre os três meses anteriores, com destaque para a fraqueza dos investimentos, sinal de que uma recuperação ainda está longe. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu 1,7% de julho a setembro contra o período imediatamente anterior, no terceiro trimestre seguido de contração, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça, dia 1º de dezembro.

Essa sequência de quedas é a maior desde o início da série histórica do IBGE, em 1996. Sobre o terceiro trimestre de 2014, o PIB despencou 4,5%, também o maior tombo histórico na comparação anual.

O país vive profunda crise econômica e política, em meio ao cenário de inflação de dois dígitos, que tem abalado profundamente a confiança de agentes econômicos e colocado desafios cada vez maiores para a presidente Dilma Rousseff, sobretudo no campo fiscal.

No terceiro trimestre, a atividade encolheu em praticamente todos os setores, com forte destaque para os investimentos produtivos. Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixa (FBCF) despencou 4% no trimestre passado, comparado com os três meses anteriores, nono trimestre seguido de queda, também maior sequência no vermelho registrada pelo IBGE.

O consumo das famílias recuou 1,5% na mesma base de comparação, enquanto o consumo do governo teve leve crescimento de 0,3% – único segmento que não caiu no terceiro trimestre sobre o imediatamente anterior.

“Olhando para a frente, não há nada que permita visualizar cenário positivo. Nossa avaliação é que o atual quadro recessivo deve prolongar-se ao longo do restante do ano e do próximo”, afirmou o economista-chefe do banco Fibra, Cristiano Oliveira, em nota. Ele piorou suas estimativas para o PIB deste ano e do próximo, projetando agora quedas de 3,8% e de 3,1%, respectivamente.

Ainda segundo o IBGE, a indústria caiu 1,3% no terceiro trimestre sobre o imediatamente anterior, enquanto que serviços e agropecuária mostraram recuo de 1% e de 2,4%, respectivamente. O IBGE revisou ainda, e para pior, as contrações do PIB vistas nos segundo e primeiro trimestres deste ano, para quedas de 2,1% e de 0,8%, respectivamente, também sobre os três meses anteriores.

O desempenho pífio da economia acontece no momento em que as contas públicas estão em desordem, o que abala ainda mais a confiança, com redução de investimentos e consumo e, consequentemente, da arrecadação. O cenário ainda deve piorar, já que mais de um milhão de pessoas perderam o emprego formal nos últimos 12 meses, no início do que deve ser a recessão mais longa do Brasil desde a década dos anos 1930.

A pesquisa Focus do Banco Central mostra que a expectativa de economistas é de contração de 3,19% este ano e recuo de 2,04% em 2016.

“Não tem nenhum aspecto positivo para extrair dos dados (divulgados pelo IBGE), que refletem a situação delicada que o país vive hoje… A única coisa é que se vê algum reflexo nas exportações da forte desvalorização do real, mas ainda assim a balança comercial contribuiu positivamente muito mais pela forte queda das importações do que pelo crescimento das exportações”, afirmou o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno.

A disparada do dólar sobre o real – de cerca de 45% neste ano, levou à contribuição positiva externa ao PIB do terceiro trimestre.

Segundo a gerente de contas trimestrais do IBGE, Claudia Dionísio, a contribuição do setor externo é positiva à atividade a partir do primeiro trimestre deste ano. O instituto só informará dados detalhados da ajuda da valorização do dólar ao PIB brasileiro no resultado anual.

O cenário de contração econômica vem também em meio à inflação elevada, com perspectivas de que estoure a meta do governo – de 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos, tanto em 2015 quanto em 2016.

Diante disso, o Banco Central já deu sinais que deve elevar a taxa básica de juros do país, hoje em 14,25% ao ano, em breve para conter a escalada nos preços. Porém, ao limitar o consumo por meio do encarecimento do crédito, o movimento pode impactar ainda mais a atividade econômica.