FPA quer criar comissão para esclarecer informações sobre a Carne Fraca

Entre as medidas, parlamentares defendem que o Brasil tenha uma autoridade nacional sanitária específica para momentos de crise

Fonte: Frente Parlamentar da Agropecuária/Divulgação

Enquanto parte do governo corre para tentar recuperar os mercados que recentemente se fecharam à carne brasileira, a Frente Parlamentar da Agropecuária quer formar comissões com deputados e técnicos de saúde humana e animal para esclarecer falsas informações falsas da operação Carne Fraca. Os parlamentares querem ainda que o Brasil tenha uma autoridade nacional sanitária específica para responder sobre o tema nesses momentos de crise.

A estratégia definida pelos parlamentares é esclarecer as informações erradas que foram divulgadas na operação Carne Fraca e que tem gerado problemas apara a imagem do Brasil no mercado internacional, com uma comissão formada por deputados, representantes do governo e técnicos de saúde humana e animal.

A intenção é que os deputados pessam ao presidente da câmara, Rodrigo Maia, a realização de comissões para discutir o assunto com profissionais e técnicos do setor. Outra ação é tranquilizar mercado internacional por meio de reuniões com a organização mundial da saúde animal. Além disso, a FPA quer que o governo estabeleça uma autoridade sanitária nacional para tratar da situação.

O objetivo é dar mais credibilidade às informações passadas aos consumidores internos e externos da carne. ““Bruxelas é o centro do debate da inspeção sanitária mundial. Precisamos reafirmar o nosso papel lá, mas essa é uma questão emblemática junto do governo federal, bancada e outros setores “, avaliou Nilson Leitão, presidente da FPA, reafirmando que outro debate é dentro do próprio Congresso Nacional.

Ele defende a criação de uma comissão geral para debater a nossa exportação e o sistema de vigilância sanitária do país. “Queremos debater nessa mesma comissão ou em uma paralela como funciona o setor sanitário, reafirmando que o episódio é um caso isolado com percentual baixíssimos comparando com o ambiente que se vive tanto na área do servidor público como na área das empresas”, diz o presidente.

Segundo ele, embora preocupante, o fato não merecia o destaque que foi dado. “Hoje temos muitos produtores com seus animais represados, sem vender, prejuízo é grande, quem sabe a repercussão disso vai ser desemprego e alguma coisa nos próximos dias”, sinaliza.

Retomada de modelo

Para o ex-ministro da agricultura, o deputado Reinhold Stephanes (PSD/PR) é retomar o sistema de ter uma autoridade nacional que trate de questões sanitárias. “Isso existia no período em que fui ministro. Só o secretário nacional de defesa sanitária e inspeção tratava desse assunto e todas as chefias a nível de estado, todos os fiscais do Brasil, eram subordinados a esta autoridade nacional. Hoje, eles são pulverizados por 27 superintendentes estaduais. É um erro que deve ser consertado”, disparou o deputado. “O impacto é que se tira a capacidade de superintendentes estaduais tratarem do assunto politicamente ou até promoverem uma promiscuidade, que é o que efetivamente aconteceu”.

O ex-ministro da agricultura, Reinhold Stephanes, criticou o governo por não ter publicado até hoje o novo regulamento da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal, o Riispoa, engavetado há quase cinco anos.

“Nós tivemos mais de 80 técnicos profissionais brasileiros trabalhando nisso ao longo de dois anos. Trata-se de um código com quase 500 artigos e tivemos dezenas de contratações de técnicos internacionais exatamente para que o Brasil modernizasse a sua legislação que é muito antiga, e que a colocasse dentro dos níveis das exigências internacionais. Esse código está pronto há quase cinco anos e até hoje não se sabe porque não se aderiu a ele”.

Minimizar os impactos

Os criadores de suínos de Santa Catarina estão preocupados com a repercussão do caso e cobram uma solução até o fim dessa semana para evitar prejuízos que podem ser incalculáveis. “Ainda não há um impacto direto porque houve apenas a suspensão temporária. Nós precisamos resolver essa questão logo para que o mercado volte à normalidade. Se a indústria não vender e o frigorífico não abater, o produtor não vai entregar a mercadoria. O prejuízo é imensurável”, avalia Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos.

Esse represamento no campo vai impactar num custo maior para o produtor e também para a indústria. Então, isso vai trazer transtorno muito grande pra todo mundo. Isso começa o efeito cascata que a gente não sabe mensurar até onde vai”, diz Lorenzi.

Quanto às retaliações de países importadores, o ex-secretário de defesa agropecuária, Maçao Tadano, afirmou que o ministro Blairo Maggi não precisa ser duro nas negociações, como ele mesmo sugeriu inicialmente. A orientação é fortalecer o diálogo para resolver os impasses.

“Devemos procurar as partes que tem dúvidas e esclarecer esses pontos. Naturalmente, cada região e cada país têm seus interesses e faltam respostas. Precisamos preparar respostas, mandar emissários e buscar uma alternativa o mais rápido possível”, diz Maçao.

Ele cita como exemplo ações do Serviço de Inspeção FEderal (SIF) que em menos de 12 horas foram solucionadas em casos de empresas que falsificavam leite Itambé e Nestle no Nordeste. “Em 11 meses levamos à prisão 11 empresários. Quando o governo quer, ele faz. Roberto Campos sempre me dizia, cada momento é um momento. Se a água está turva, deixe limpar a água; se precisar turvar a água, turve. Mas não é o caso de turvar agora, nós temos que esclarecer as coisas”.