Sindan quer ter acesso aos laudos da carne bovina exportada aos EUA

Para representante da indústria de produtos veterinários, problemas que originaram suspensão das importações podem ter ocorrido por contaminação da agulha, aplicação muscular ou outras causas

Fonte: Prefeitura de Rio Bonito (RJ)

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Elcio Inhe, quer ter acesso aos laudos que detectaram irregularidades na carne bovina in natura exportada aos Estados Unidos e que atribuem à vacinação contra aftosa o problema. 

“O que vimos até agora foram algumas fotos que não comprovam muita coisa. Não que não haja problema, que não aconteceu. Mas gostaríamos, de fato, de ter acesso ao laudo dos norte-americanos”, comentou Inhe, nos bastidores do Animal Health Innovation Latin America, em São Paulo. “Temos um problema, mas ele deve ser resolvido pela cadeia de carne bovina. Isso não é só um problema dos fabricantes de vacina, nem só dos frigoríficos, ou da fiscalização e dos pecuaristas”, adicionou. “Do produtor, menos ainda.”

Há várias hipóteses, segundo o representante do Sindan, que podem ter ocorrido, como contaminação da agulha, aplicação muscular em vez de subcutânea, adjuvantes, entre outros. “Por isso, antes de confirmar essas hipóteses, devemos ver o laudo dos Estados Unidos”, reforçou ele, que espera que as autoridades sanitárias do governo brasileiro encaminhem os relatórios à indústria veterinária. “Já fizemos este pedido e estamos aguardando.”

Inhe viu como uma iniciativa positiva o fato de uma missão técnica do Ministério da Agricultura ir aos Estados Unidos no início de julho para discutir o problema, conforme anunciado pelo secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luiz Rangel. “O ministério tem técnicos absolutamente competentes, especialistas no assunto e temos boas expectativas quanto à visita.” 

Para ele, o índice de 11% de inconformidade nos lotes de carne bovina enviados aos Estados Unidos é “alto”. Sobre isso, ele advertiu que desde que os norte-americanos abriram o seu mercado à carne brasileira houve resistência por parte de associações de pecuaristas dos EUA. 

“Imagino que qualquer coisinha que tivesse acontecido seria considerada uma coisa grave. De todo modo, acho que o que menos podemos fazer é ignorar que houve o problema. Primeiro temos de aceitar que há o problema e tentar resolver.”

O presidente do Sindan, também executivo da Zoetis, multinacional do setor veterinário, disse que a indústria está trabalhando para reduzir a dose da vacina – o que reduziria os riscos de efeitos colaterais. “E isso não vai demorar muito tempo”, assinalou. “Mas só isso não vai resolver o problema se a vacina for mal aplicada”, acrescentou. “Então, o que nós temos de fazer é ter certeza absoluta do que está acontecendo.”
 
Uma das dúvidas, por exemplo, é em relação ao que foi de fato encontrado na carne bovina exportada para os EUA. Abscessos podem ser irregularidades na carne provocadas por infecções bacterianas, comentou. E nódulos ou cistos, por reação alérgica à vacina. “Da parte da indústria, o rigor que se tem em relação à fabricação e à higiene em todos os processos é absoluto, sem possibilidade de contaminação”, garantiu. “Daí, novamente, a necessidade de ter acesso aos laudos.”

Ele disse que, embora não vá rebater as críticas da indústria frigorífica, em relação a reações nos bovinos provocadas pelas vacinas, os frigoríficos deveriam lembrar que, primeiro, a carne que vai para os Estados Unidos, um mercado extremamente exigente, deveria ter controle mais rigoroso de qualidade. “O próprio ministro (Blairo Maggi, da Agricultura), mencionou isso”, disse ele, acrescentando, porém, que agora é a hora de a cadeia se unir em vez de ficar “apontando o dedo”.  “Qualquer problema relacionado a exportação de carne bovina afeta a todos, não só aos frigoríficos.” 

A indústria veterinária vende por ano 350 milhões de doses de vacina contra aftosa no Brasil. Para outros países somam-se mais 50 milhões de doses. Com o contratempo envolvendo os Estados Unidos, o Sindan não prevê queda nas vendas de vacinas contra febre aftosa. “Somos um país com o status de livre de aftosa com vacinação. A vacina funciona muito bem. O último foco que tivemos faz mais de dez anos”, afirmou. Conforme o representante do Sindan, as vendas de vacinas de febre aftosa representam, para a indústria veterinária, 6% do total do faturamento do setor no País, com R$ 300 milhões por ano, ante o faturamento total de R$ 5 bilhões do segmento.