Com tecnologia de semente limitada, bolivianos investem em manejo

Os desafios do país vizinho são muitos, mas com agricultura de precisão e determinação é possível conseguir produzir com qualidade

Fonte: Fábio Santos/Canal Rural

A soja Intacta, tecnologia mundialmente reconhecida, ainda não chegou à Bolívia porque o governo restringe a entrada de algumas variedades no país. Mesmo assim, produtores que investem em tecnologia conseguem bons resultados no país, onde é comum a soja safrinha e não existe vazio sanitário.

A repórter Roberta Silveira visitou lavouras do país vizinho e detalhou como os produtores rurais de lá lidam com os desafios e conseguem atingir boa produtividade. Em uma das fazendas visitadas, por exemplo, a lavoura de soja quase no ponto da colheita deve produzir nesta safra 70 sacas por hectare.

A propriedade é de um brasileiro que vive na região e que cultiva o grão em 20 mil hectares. “Aqui nós temos um produtor que vem investindo forte na prática agrícola. Em termos de tecnologia e de manejo, ele vem sempre buscando evoluir na lavoura e é por isso que temos esse resultado excelente”, analisou o engenheiro agrônomo Moretti Cravo.

A agricultura de precisão é um dos recursos utilizados para aumentar a produtividade, pois, apesar do solo fértil, a presença de nutrientes costuma variar muito. “Temos regiões dentro da própria fazenda ricas em fósforo ou enxofre no solo, mas em  outras áreas dentro de um mesmo talhão, os níveis podem ser mais baixos. Então, a taxa de aplicação é variável, com correção zonificada para tentar obter um equilíbrio do solo”, contou Osmarine.

Mas, equilibrar os componentes no solo não é tão fácil quanto parece e, em algumas lavouras, é possível encontrar manchas improdutivas em locais onde as plantas não se desenvolvem. “Nós enfrentamos um problema de salinização do solo, pois o lençol freático é muito superficial e a água é muito salina. Quando a água evapora, fica uma camada de sódio no solo”, comentou o engenheiro agrônomo Oscar Moretti Cravo.

Soja safrinha

Uma das características da Bolívia é o cultivo da soja segunda safra. A soja safrinha é feita na região que tem bons volumes de chuva durante todo o ano e que fica ao norte de Santa Cruz de La Sierra, mas soja seguida de soja costuma aumentar a incidência de doenças na lavoura e por lá não existe o vazio sanitário.

“A ferrugem é sempre um problema grave por causa da umidade. Nós temos condições ideais para o desenvolvimento da doença praticamente todos os dias do ano, como a mancha anilhada, que ataca mais as variedades de origem argentina, provocando folhas do terço médio inferior e comprometendo o enchimento dos grãos”, disse o produtor de soja Elmo Sanches Flumignan.

Boa parte das cultivares produzidas na Bolívia vem do Brasil e da Argentina, mas nem tudo que é usado nos vizinhos pode ser cultivado no país. Algumas tecnologias são proibidas na Bolívia, como a Intacta. Em uma das lavouras, por exemplo, é usada a soja RR, em que pode ser usado o herbicida glifosato.

Milho

Na parte do milho, é proibido também o uso da tecnologia BT e RR. Ou seja, o milho boliviano é o mais convencional possível, onde nós temos alguns problemas com lagartas”, disse Oscar.

O milho boliviano ainda tem baixa produtividade. Geralmente, não ultrapassa as 100 sacas por hectare nas lavouras comerciais, mas o cereal é importante para cobertura do solo, com o objetivo de beneficiar a próxima safra de soja.

“Alguns produtores optam por fazer só a braquiária, ou às vezes só o milho. Em uma fazenda, por exemplo, é feito um consórcio, quando a colheita do milho é feita e a braquiária vai se desenvolver e ficar até quatro meses, dependendo das condições do plantio de soja para formar uma massa e manter o solo protegido. Estamos falando da próxima safra de soja que vai ser plantada início de novembro, então teremos um largo período para formar esta cobertura de solo”, conto o engenheiro agrônomo Robson Osmarine.

Com isso,  a rotação de culturas também é indicada para tentar melhorar o escoamento da água nas lavouras planas da Bolívia. Esse é o diagnóstico do agrônomo paranaense Rafael Húngaro, que há nove anos trabalha para aumentar a produtividade das plantações bolivianas.

“Nós sofremos muito no começo pra se adaptar a essa realidade do solo da Bolívia, com pouca infiltração, que é totalmente diferente de onde eu trabalhava ou onde eu estudei. Então, a gente teve que se adaptar e, a cada ano, a gente vem desenvolvendo pesquisas trabalhando junto com o produtor, para buscar peculiaridades desse país e resolver os problemas específicos da bolívia.”