Mecanização da colheita revoluciona cana boliviana

Tendo o Brasil como referência na produção da cultura, o país vizinho importa variedades, profissionais e conhecimento para se desenvolver

Fonte: Pixabay

A produção de cana-de-açúcar tem se modernizado na Bolívia. Na entressafra, período dedicado a atualização de conhecimentos a serem aplicados na próxima colheita, trabalhadores recebem orientações sobre a operação de máquinas nas plantações.

Sandro Arana, que é gerente agrícola e acompanha a evolução do cultivo no país andino  há mais de duas décadas, conta que no começo todo o trabalho era manual e eles queimavam a cana. “O trato cultural era mínimo. Qualquer pessoa plantava cana. Hoje, está muito tecnificado. Realmente, hoje trabalham muitos engenheiros, pessoas preparadas, mas antes não era assim. Mudamos não somente a preparação do solo, como no controle de plantas daninhas, de pragas e doenças”, diz.

A propriedade em que Arana atua era dedicada à produção de soja até um ano atrás. Restam três meses para ser realizado o primeiro corte. No total, são 10 mil hectares. A produtividade esperada é de 140 toneladas por hectare, mas na média são produzidas 75 toneladas por hectare.

A colheita costuma ir de de maio a novembro, e as chuvas bem distribuídas durante o ano ajudam a explicar a longevidade dos canaviais bolivianos. “Está chovendo 1.500 milímetros por ano. No inverno, quando em outras regiões é muito seco, aqui chove. Não muito, mas chove. Não há um período marcado pela seca”, diz Arana.

A Bolívia tem cerca de 150 mil hectares de cana enquanto o Brasil tem mais de 10 milhões de hectares cultivados. Como a atividade é bem mais desenvolvida em terras brasileiras, o país é uma referência, por isso a nação vizinha importa variedades de cana, profissionais qualificados e conhecimento para desenvolver. “Inclusive, quando eu estava na universidade, a literatura que nós tínhamos que ler era brasileira, porque é a mais nova que existia sobre cana ou sobre agricultura em geral”, relembra Arana.

 

Açúcar ou etanol?

Até hoje, a maior parte da cana foi para a produção de açúcar destinado ao mercado interno. Segundo o gerente agrícola Jean Bodanesi, quando acontece uma queda na produção, as cotações acabam subindo um pouco, mas os valores não são muito diferentes do Brasil. “Aqui, tem outras vantagens que fazem com que seja mais atrativo a parte agrícola, por causa da fertilidade do solo”, explica.

Nos próximos anos, as usinas bolivianas vão produzir mais etanol que açúcar. Bodanesi afirma que a expectativa é de crescimento da demanda pelo combustível, mas não descarta a hipótese de no futuro vir a agregar à planta de álcool de cana uma de etanol de milho. “Otimizaria os equipamentos, caldeira, consumo de bagaço de cana, e estaria produzindo também o etanol”.