Após embargo dos EUA, Brasil teme perder mais mercados

Suspensão das importações de carne bovina in natura pelos norte-americanos coloca em xeque credibilidade do país no cenário internacional

Fonte: Pixabay

O embargo dos Estados Unidos à carne bovina in natura do Brasil levanta discussões que envolvem toda a cadeia produtiva. Dentro da porteira, há dúvidas se o pecuarista está fazendo o manejo do gado de forma correta. Do lado de fora, a questão é a fragilidade da inspeção nos frigoríficos e a urgente avaliação sobre a vacina contra febre aftosa.

Além de diminuir a receita tão necessária neste momento de crise econômica, o embargo americano coloca em xeque a credibilidade do Brasil diante do mercado internacional. Além disso, a pecuária nacional, que já vive um momento delicado, tem um cenário encontra um cenário de incertezas por causa desse episódio.

O mercado norte-americano é relativamente pequeno para o Brasil: os EUA compram cerca de 3% da carne bovina in natura exportada pelo país. De janeiro a maio deste ano, foram quase 12 mil toneladas, o que gerou receita de US$ 49 milhões. Ainda assim, o embargo ao produto brasileiro pode trazer grandes consequências, como a queda do preço do boi.

Para o analista de mercado Maurício Nogueira, as exportações ao mercado americano representam 30 mil bois por mês, cuja carne terá que ser redirecionada para outros destinos. “Os frigoríficos têm que replanejar a estratégia, pois não podem exportar e isto evidentemente vai influenciar o mercado no curto prazo. A gente espera aí mais um fator de pressão no preço, não tão grande, mas é um fator baixista”, diz.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) admite que as empresas já haviam identificado abcessos no produto embarcado destinado aos EUA. “Nas últimas cargas, nós deixamos de mandar o dianteiro completo e passamos a fracioná-lo. Com isso, algumas empresas passaram a ter prejuízo diário de mais de uma tonelada por dia”, afirma o presidente da entidade, Antonio Jorge Camardelli.

Consultor em defesa agropecuária, Ênio Marques afirma que os americanos agiram de forma acertada ao suspender as compras do Brasil. “Tudo bem que uma lesão, uma cicatrização ou mesmo uma reação inflamatória não possa ser vista na peça a olho nu. Mas, se isto é um risco de não conformidade, os estabelecimentos têm que encontrar um meio de olhar isso”, diz Marques.

O problema que seria causado pela vacina da febre aftosa levanta a discussão sobre a necessidade de vacinar o rebanho do país. Atualmente, apenas o estado de Santa Catarina é livre da doença sem vacinação. De acordo com o presidente interno do Conselho Nacional da Pecuária de Corte, Sebastião Guedes, países vizinhos como Peru, Chile, Guiana e Guiana Francesa já deixaram de imunizar o gado contra a aftosa. “No Brasil, os casos mais recentes ocorreram há 11 anos. Então eu pergunto: temos valor epidemiológico, ou nós estamos sendo submetidos ao uso de um produto que já não é mais tão necessário?”, diz.

Depois de anos de negociação, em agosto de 2016 o Brasil conseguiu fechar acordo com os EUA para a exportação da carne bovina in natura. Para os especialistas, quanto mais tempo durar o embargo, menor pode ser a participação do Brasil no mercado norte-americano.

Para os pecuaristas, a recomendação é de cautela. O analista de mercado César Castro Alves reconhece que o cenário à frente não é bom, mas o mercado vai reagir de acordo com o desfecho dessa história e, portanto, não é hora de se apavorar. “O produtor neste ano está ligeiramente apoiado no clima, porque, como choveu bastante, ainda é possível esperar um pouco com o gado no pasto sem que tenha imediata perda de peso. Este é um ponto positivo, que permite segurar o gado no pasto na maior parte das regiões de pecuária”, diz Alves.