Especialistas defendem importação de café para exportar mais

Opinião é de que o Brasil precisa abrir o próprio mercado para conseguir negociar embarques de outros produtos

Fonte: Suelen Farias/Canal Rural

A decisão do governo federal de autorizar a importação de café conilon serviu para reacender o debate sobre uma maior abertura de mercado brasileiro para produtos vindos de outros países. Muitos produtores são contra trazer o grão do exterior, mas especialistas em comércio internacional alegam que o Brasil só vai conseguir exportar mais se também abrir o próprio mercado.

O comércio internacional de produtos agropecuários movimenta mais de US$ 1 trilhão por ano. Do total, as exportações brasileiras representam 6,9% do valor. Mas a meta do governo é audaciosa, quer chegar a 10% em cinco anos, podendo ultrapassar os US$ 30 milhões. Segundo o governo, esse objetivo só será alcançado se o Brasil abrir mais mercado para a importação. 

A afirmação foi feita pelo secretário de relações internacionais do governo, Odilson Ribeiro, em entrevista concedida ao programa Direto ao Ponto no último domingo, dia 12. 

“Nenhum grande exportador apenas exporta. Eles importam também. Não pode chegar em um parceiro comercial e querer apenas vender. Se você não consegue importar, nada você não consegue exportar. Então, para o Brasil crescer mais, ele também precisa importar e agregar valor aos seus produtos”, diz Ribeiro. 

Segundo especialistas do setor, a estratégia do governo é correta. Para o professor titular da Universidade de São Paulo (USP) Decio Zylbersztajn, o país que está em desvantagem vai tentar melhorar sua posição até mesmo em outros setores. 

“Um país pode falar: ‘olha, eu vou continuar a importar produtos agrícolas de você que eu não tenho condição de produzir, mas tenho aqui eletrônicos que acho que você poderia ter. Enfim, essa é a tônica das negociações internacionais. É sempre um fluxo, é sempre uma questão de duas vias”, destaca. 

No caso do café, de acordo com o presidente do Conselho Brasileiro dos Comerciais Importadores e Exportadores (Ceciex), Roberto Ticoulat, a importação é necessária para dar competitividade às indústrias e garantir mercado ao produtor.

“Se não pudermos compor blends no Brasil para poder exportar e participar do mercado internacional, nunca vamos poder agregar valor. Quando tenho as empresas internacionais produzindo no Brasil, nós estamos na verdade, beneficiando, protegendo o produtor nacional. A indústria é parceira da produção”, completa.