Governo deve fazer novos leilões de café por causa da falta de conilon

Queda na oferta da variedade já aumentou em 50% o custo das indústrias, que agora querem importar o grão

Fonte: Governo do Espírito Santo/divulgação

A falta de café conilon no mercado levou o governo a leiloar 45 mil toneladas dos estoques públicos em 2016. Por causa da escassez do produto, novos leilões podem acontecer até o fim do ano. A queda na oferta já aumentou em 50% os custos das indústrias, que querem importar o grão.

De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, algumas empresas já começam a dar férias coletivas por falta de matéria-prima. “Em média, as indústrias menores têm estoque para uma semana. Ou seja, a crise bate de frente com grande parte do nosso setor”, diz.

A ausência de conilon no mercado é resultado da seca no Espírito Santo, principal produtor da variedade, que reduziu a produção do grão. Neste ano, a quebra da safra de conilon foi de 25% em comparação com a de 2015, com colheita de pouco mais de 8 milhões de sacas. Essa quantidade não é suficiente para abastecer as indústrias que usam a mistura de conilon com arábica para fabricar o produto que chega à mesa do consumidor brasileiro.

“Se antes da crise o uso de café conilon era de mais ou menos 50% da demanda da indústria, hoje não chega em média a 15%”, calcula Herszkowicz.

O café conilon costuma ser mais barato que o arábica. Mas, neste ano, a cotação de ambos ficou elevada, na faixa de R$ 500 a saca. O aumento de custos para a indústria em 2016 é de 50%.

A recente entrada da safra de conilon do Vietnã no mercado começou a inverter a curva de preços. “O clima seco na colheita está aumentando muito a perspectiva de que eles vão ter (bastante) café. A bolsa já sentiu isso e pressionou (os preços) para baixo”, afirma o diretor da consultoria Pharos, Haroldo Bonfá.

Apesar da oferta restrita no mercado brasileiro, as chuvas no cinturão produtor de café também podem contribuir para a queda das cotações. Bonfá acredita que, se o clima se normalizar, os preços não devem atingir os patamares anteriores.

As 720 mil sacas que restam nos estoques públicos devem ser leiloadas nos próximos meses. O Ministério da Agricultura pretende realizar mais um leilão ainda em 2016. Ao longo do ano o governo vendeu 45 mil toneladas do produto. 

Além da realização de leilões, a indústria também quer que o governo libere a importação de grãos de café, o que é proibido no país. Enquanto segue a discussão sobre a liberação ou não da matéria-prima de fora, o diretor-executivo da Abic afirma a importação de café torrado e moído já ocorre no país, podendo ser encontrado em supermercados de grandes centros.

O diretor da Pharos lembra que o Brasil, assim como produz, também importa soja, arroz e feijão. “Não há justificativa na parte técnica para não se importar o café. Você tem limitações fitossanitárias que são importantíssimas e têm que ser reguladas, não tenha dúvida, porém tem que haver essa liberdade (de importar café).”