Greve: caminhões são depredados em Santos

Os grevistas ainda cortaram as mangueiras de ar dos caminhões que integram os sistemas de freios e despejaram a soja no asfalto

Fonte: Carolina Guedes/Canal Rural

Quem estava a caminho do litoral de São Paulo nesta sexta-feira encontrou diversas barreiras criadas pelos participantes da greve geral que atingiu todo o Brasil. No porto de Santos, caminhões foram depredados e teve muita soja que foi parar no chão. De acordo com os sindicatos, a orientação era apenas de paralisação, mas não descartam mais dias de greve.

Antes das 8h, o trânsito de caminhões para carregar e descarregar no porto já estava completamente parado. Os grevistas cortaram as mangueiras de ar dos caminhões que integram os sistemas de freios, prejudicando a locomoção dos veículos.

“Chegaram 30 pessoas, pararam ali na frente e cortaram a mangueira. Soltaram a trava de carreta e foram embora”, disse o caminhoneiro Luiz Carlos Reis.

As polícias rodoviária e militar foram acionadas e abordaram suspeitos. Além disso, equipes da concessionária Ecovias foram chamadas para prestar auxilio aos caminhoneiros no conserto dos veículos.

O caminhoneiro Vitor Sérgio de Lima, queria o caminhão com farelo de trigo para levar até Descalvado, no interior paulista. A carga teria que ser entregue no fim de semana, mas com a greve acabou perdendo o prazo e só vai conseguir reagendar para semana que vem. “Agora não dá mais e vou perder uns três dias”, disse.

Alguns caminhões ainda foram apedrejados pelos manifestantes, provocando mais prejuízos. “Foi um susto muito grande, pois queriam colocar fogo no caminhão”, lamentou.

Segundo informações passadas na rodovia, mais de 100 veículos formaram uma fila de cerca de dois quilômetros. Na avenida portuária, grevistas colocaram fogo em pneus e despejaram pilhas de soja de quase 20 veículos que estavam prestes a entrar no porto.

Cerca de cinco toneladas foram descarregadas de cada caminhão e motoristas disseram que não tiveram nem tempo de reagir. “Acabou sobrando pra nós. Você dá uma olhada nesse prejuízo, queira ou não queira, sobra alguma coisa pra gente, pois teremos que fazer boletim de ocorrência e correr atrás do prejuízo”, falou o caminhoneiro José Nascimento Dias, que calculou um prejuízo de R$ 7 mil.

A soja só começou a ser retirada da pista depois que retroescavadeiras chegaram ao local. Segundo o presidente da Companhia de Docas do Estado de São Paulo (Codesp), José Alex Botelho, os responsáveis pelos atos criminosos serão identificados.

“Nós tomamos todas as providências, a guarda portuária foi acionada e as medidas legais foram tomadas. Isso é um ato de vandalismo que não corresponde à democracia do país e nós não precisamos desse tipo de violência. A manifestação tem que ser espontânea e livre, mas tem que se respeitar o direito de ir e vir de cada um e respeitar o patrimônio alheio”, falou.

Mas, apesar dos transtornos, Botelho afirma que o porto operou normalmente com a carga que já havia sido descarregada. “O porto está operando normalmente. Os caminhoneiros que tiveram esse transtorno são orientados a retornar. Um cronograma de chegada foi retomado, então a perda foi momentânea, o que não impacta no nosso dia a dia. Vamos ter uma pequena perda que não é representativa”, disse.

De acordo com Everandy dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Administrativos em Capatazia, nos Terminais Privativos e Retroportuários e na Administração em Geral dos Serviços Portuários do Estado de São Paulo (Sindaport), a orientação antes da greve era para que não houvesse vandalismo. “A orientação de paralisação era para preservar os direitos, evitando o choque. Por exemplo, no porto em si, não houve nenhum incidente. Os incidentes que ocorreram foram fora do porto e tivemos uma paralisação quase total.”

Apesar dos incidentes, os trabalhadores não descartam novas greves. “A gente vai continuar nossos protestos. Hoje foi só o começo e, se o governo continuar sendo intransigente, nós vamos parar todos os portos  e país também”, disse Miro Machado, presidente do Sindicato dos Operários e Trabalhadores Portuários (Sintraport).