Milho segunda safra: produtores de Mato Grosso já calculam perda de 40%

Plantio realizado fora da janela ideal e clima seco comprometem lavouras do estado

Fonte: Pixabay

A falta de chuva compromete a segunda safra de milho em boa parte do Brasil. Em Mato Grosso, produtores já calculam perdas de até 40%. Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a situação é reflexo do plantio realizado fora da janela ideal – uma realidade em cerca de 15% dos milharais do estado.
 
Até agora, a produção em Mato Grosso está prevista em 25,9 milhões de toneladas do grão, queda de 14,9% em relação à segunda safra do ano passado. Mas os números devem ser revisados na próxima estimativa do Imea, que deve ser divulgada na próxima semana.
 
A lavoura de milho plantada por Murilo Degasperi Fritsch, em Jaciara (MT), sente as consequências da alta temperatura e da falta d’água. Na região, não chove bem há quase um mês. Ele conta que a propriedade recebeu pancadas em áreas isoladas e que o cereal plantado mais tardiamente, que estaria na fase de pendoamento, já está há 25 dias sem chuva. 
 
“Ao olhar um milho desse jeito, pode calcular uma perda de 30% a 40% nesse talhão; no geral, você pode calcular uma perda de uns 20%”, diz Fritsch.
 
A situação é mais crítica em talhões de solo arenoso, que foram semeados em março, portanto fora do período ideal de plantio. O produtor de Jaciara afirma que o prejuízo só não vai ser maior porque, no restante da lavoura, as plantas se desenvolveram bem. Mesmo assim, o resultado deve ficar abaixo do esperado.
 
A média de produtividade esperada por Fritsch é acima de 120 sacas por hectare, mas os investimentos na lavoura foram feitos com objetivo de alcançar de 130 a 135 sacas. “Com essa seca, bastante talhão vai ter perda grande, e alguns que estão na fase final de enchimento de grãos vão perder um pouco de peso por causa da estiagem”, avalia.

Cenário desolador
 
Em outras fazendas no município, o cenário é desolador. A seca castigou áreas inteiras, que hoje estão praticamente perdidas, sem recuperação. Egídio Narciso Bervanger já contabiliza perdas em quase metade da lavoura.
 
Uma área da propriedade, ele conta, recebeu chuva em excesso na fase de emergência do pendão e depois enfrentou a seca repentinamente. “A quebra é de 40% na certa, porque já plantamos uma parte um pouquinho mais tarde, fora da janela também, pois não choveu cedo para plantar”, diz Bervanger. Ele não espera alcançar o rendimento médio obtido na safra passada, de 112 sacas por hectare.
 
A incerteza sobre o total a ser colhido acaba gerando cautela na hora de negociar a produção. “Primeiro, (é preciso) ver o que vai produzir para não vender o que não tem, porque aí complica mais, depois que você faz um contrato ainda tem que pagar uma multa pior ainda”, diz o produtor, que estima o custo de produção em 80 sacas por hectare.

Contratos
 
Produtores do norte e do oeste do estado que puderam respeitar o período ideal de plantio terão safra cheia, acredita o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antônio Galvan. Já agricultores do sul e  do leste mato-grossense terão problemas maiores, inclusive para honrar contratos futuros, dificuldade que teria afetado produtores do estado duas safras atrás.
 
“Foi um problema sério que pegou inclusive a nossa região, uma ‘novidade’ em 30 anos de mato grosso em que tivemos período de seca entre plantio de soja e plantio de milho”, afirma Galvan, relatando que o número de produtores que terão problemas nessas duas regiões não é pequeno.