Preço do frete de grãos no Rio Grande do Sul dispara e gera preocupação

Logística virou um dos grandes problemas no estado, que é um grande produtor de grãos 

Fonte: Fernanda Farias/Canal Rural

O Rio Grande do Sul tem um dos quilômetros percorridos mais caros do país. Um levantamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que o valor do frete de grãos até o porto de Rio Grande aumentou 26% em março deste ano, em comparação ao mesmo período de 2016. E a logística já se tornou um dos mais altos custos de produção no estado. 

Quem paga pelo frete reclama. O levantamento do Cepea mostra que, em Santo Ângelo, uma das cidades com maior produção do estado, o frete custava R$ 65 por tonelada em março de 2016. Agora, chega a R$ 80. Já em Ijuí, o preço beira R$ 125. 

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, destaca que o produtor perde muito com a situação. 

“O valor da soja, milho e arroz é o preço no porto menos o custo de se levar até lá. Quanto mais caro o frete, mais barato será o preço na praça, quanto mais barato o frete, mais alto será o preço na praça. Então o produtor está perdendo muito”, conta. 

O presidente do Sindicato de Transporte de Cargas diz que a tendência é o preço subir ainda mais, pelo menos 25%. A base é um estudo técnico da Associação Nacional do Transporte de cargas e logística do estado (Setcergs), que fala em defasagem de 11% no frete em cargas fracionadas, e em 24% em cargas de lotação. 

“Tenho a impressão que no nosso setor as empresas já chegaram ao fundo do poço, elas não têm pra onde descer mais, nós precisamos ir corrigindo os nossos custos. Nós temos as condições da estrada, que estão muito ruins, a questão do roubo, do pedágio e esquema do óleo diesel, que também é um dos preços mais caros do mundo. Então, isso faz com que o frete fique mais caro”, conta o presidente da Setcergs, Afrânio Kieling. 

O setor produtivo defende um investimento bem maior em transporte hidroviário. Os portos de municípios do interior do estado estão em condições tão precárias que não embarcam mais cargas de grãos. Para mudar, a sugestão é privatizar o serviço.

O sistema ferroviário, mesmo privatizado, também é motivo de críticas no estado. De acordo com Antônio da Luz, a concessionária, que tem contrato até 2027, abandonou o serviço. 

“Uma malha lenta, sem investimentos, com vagões muitíssimos velhos. Também tem a falta de transparência nos preços.

Simplesmente eles olham para o preço do ferroviário, rodoviário, e a partir dele botam outro valor. Ou seja, não há competição e nem interesse de competição. Logística não é um desafio, ela é um gargalo. Ela foi um desafio, hoje ela é um gargalo, que precisa ser revisado de maneira urgente”, critica. 

Estradas ruins? 

Se o estado fosse um país, seria o terceiro maior exportador de soja. Em 2016, foram mais de nove milhões de toneladas. No período foram mais de 300 mil viagens de caminhões levando a produção até o porto. As condições precárias das estradas preocupam os caminhoneiros. 

Josemar da Silva Lanes crê que não há condições de andar nas estradas de forma segura. 

“Estrada está ruim também. A pouca sinalização tem causado mais acidentes”, conta. Lanes acredita que o estado cobra caro pelo pedágio e investe pouco. Em um trecho de 300 km, o caminhoneiro paga quatro tarifas. 

“Antigamente, se eu perdesse até 90 kg, não pagava nada. Agora, as transportadoras já descontam de nós”, completa. 

Nossa equipe procurou a concessionária Rumo, responsável pela ferrovia do Rio Grande do Sul citada na reportagem. A empresa afirma que, como o modal ferroviário exige investimentos elevados, a concessionária busca constantemente contratos que possam garantir a sustentabilidade de seus serviços e a competitividade da logística brasileira no longo prazo.