Produtores abandonam produção de laranja e buscam renda em outras culturas em São Paulo

Endividados, citricultores não conseguem se recuperar mesmo com elevação do preço da fruta, que teve reajuste de quase 90% em um ano

Fonte: Pixabay/divulgação

Citricultores paulistas vêm abandonando a atividade em busca de renda em outras culturas. Em um ano, a cotação da laranja para a indústria subiu quase 90%. Mas a alta do preço não é suficiente para dar sustentação à atividade, que também sofre com doenças como o greening, que obriga a erradicar pés de laranja. Por razões como essa, a área de cultivo na principal região produtora do país caiu 6% em um ano. A expectativa é de que a safra seja 19% menor nesta temporada, com 244 milhões de caixas de 40 kg.

O produtor Joaquim Santo Delgado cuidou dos pomares desde os cinco anos de idade, mas, aos 65 anos, precisou parar. “Meu pai e eu fomos tocando até hoje, mas não deu mais. Os preços da indústria foram mais do que uma praga. Acabou com a turma da laranja e veio a zero”, diz. 

Com dívidas, a única saída encontrada foi arrendar a terra e trocar de cultura em Artur Nogueira, no interior de São Paulo. “Para mim foi uma tristeza. O que formamos, uma vida inteira de trabalho, ser perdido. Já vendi trator e caminhão para tentar melhorar a situação”, afirma Delgado. 

A área de pomares de laranja reduziu 6% no intervalo de um ano no cinturão citrícola de São Paulo e Minas Gerais. Atualmente, são cerca de 400 mil hectares, de acordo com o Fundecitrus. A queda no tamanho dos pomares e na produção são resultado de abandono ou erradicação de pés.

O produtor João Batista Fischer reduziu a área cultivada em sua propriedade de 25 para 8 hectares. E o tamanho do pomar ficará ainda menor. Os pés foram atacados pelo greening. As manchas amareladas nas folhas são um dos sintomas da doença, que é um dos principais problemas da cultura, fazendo com que as árvores deixem de produzir. 

“Só não arrancamos ainda porque vamos aguardar, mas, infelizmente, vai ter que arrancar mesmo. Todo ano tem que arrancar. Neste ano, inclusive, já arranquei uma quadra de 2 mil pés. Embora estivesse com um pouco mais de idade, mas tive que arrancar também porque não tinha condição de trabalhar por causa do greening, estava muito atacado”, conta Fischer. 

Com menor oferta, o preço vem apresentando alta nos últimos meses. De acordo com levantamento realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a cotação da caixa de laranja entregue na indústria em São Paulo subiu quase 90% em um ano, atingindo R$ 26, atualmente. Mas, para quem nunca viveu fase tão complicada no setor, o valor mais elevado não compensa as perdas.

“Eu tenho 50 anos de citricultura, e até hoje eu não tinha visto isso. Chegou-se a não vender o fruto, deixar no pé, mas não quebrar. Tivemos problemas de preço, que foram muito fracos nos últimos quatro anos e agora não temos a produção”, completa Fischer.