Proibição de fungicida na lavoura de arroz causa polêmica no RS

Tribunal de Justiça gaúcho determinou multa de R$ 1 milhão ao mês, caso produto continue a ser usado, mas produtores alegam que não há substituto registrado para a cultura

Fonte: Paulo Lanzetta/Embrapa

No Rio Grande do Sul o uso do fungicida Mertin 400 nas lavouras de arroz irrigado é motivo de polêmica. O Tribunal de Justiça do estado determinou na última sexta-feira, dia 10, que a Syngenta, empresa que fabrica o produto, pague multa de R$ 1 milhão ao mês, caso o defensivo continue a ser utilizado.

O fungicida é indicado pela fabricante somente para feijão e algodão. Mas ele também é eficiente para combater problemas nas lavouras irrigadas de arroz. A Justiça gaúcha entende que o produto, considerado tóxico para organismos aquáticos, possa contaminar o lençol freático da bacia hidrográfica do rio Jacuí, para onde correm águas utilizadas nas lavouras. 

O presidente da Câmara Setorial do Arroz, Daire Coutinho, explica que faltam defensivos no mercado para a cultura. Por ser um mercado pequeno, diz ele, nem sempre há interesse dos fabricantes em investir no registro. “Às vezes, um produtor, no desespero de salvar a sua lavoura, encontra como oportunidade um produto não registrado. Apesar de errado, é possível entender essa situação”, diz Coutinho.

O produtor de arroz Jailson da Rosa de Oliveira não sabe mais o que fazer para conter os caramujos em sua lavoura irrigada. Na última safra, a praga nem chegava perto da produção, combatida pelo fungicida agora proibido. “A gente tinha uma proteção na lavoura. Ninguém inventou uma coisa que substitua, que possa nos ajudar”, afirma Oliveira.

O agricultor também se queixa de um produto para combater outra praga que afeta a produtividade, o canevão. Esse capim compete com o arroz por Sol e nutrientes do solo.

Segundo Daire Coutinho, mais de 800 produtos aguardam liberação da Anvisa e do Ministério da Agricultura para serem utilizados no arroz. Ele argumenta que parte da solução seria liberar no Rio Grande do Sul defensivos que já são usados na produção de outros estados ou países, como é o caso do Mertin 400.  “Nós não somos a favor de que se utilize nenhum produto pirata ou de contrabando, mas nós precisamos, por outro lado, que as empresas e que o governo também cumpram a sua parte e façam isso de maneira célere, e com custos baixos para que o produtor obtenha os produtos com registro”, diz o presidente da Câmara do Arroz.

A Syngenta afirma que o fungicida Mertin 400 é registrado para o controle de doenças nas culturas de feijão e algodão, como estaria expresso na bula do produto. A empresa informou que não vai se manifestar com relação à ação judicial no Rio Grande do Sul, uma vez que ainda não foi notificada.