Projeto de reestruturação de armazéns da Conab não saiu da papel

Canal Rural retorna ao problema da armazenagem pública e verifica que burocracia e licenciamento ambiental seguem travando investimentosDez meses depois da série do Rural Notícias que mostrou a situação caótica dos armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em todo o país, nada mudou. O projeto que previa a reforma e a construção de novas unidades ainda está no papel.

Fonte: Canal Rural

A Conab aponta o licenciamento ambiental e a burocracia como os principais entraves, enquanto isso, a estrutura está sucateada, com mais de 30 anos sem investimento e os armazéns com capacidade estática de dois milhões de toneladas abandonados. A maioria opera com algum tipo de problema ou está parada, já que os imóveis estão muito defasados. 

Um exemplo é o armazém de Palmeiras de Goiás, inaugurado em 1975. A estrutura operou com capacidade total até meados de 1990. Os secadores que funcionavam a óleo diesel estão parados e hoje trabalha com 10% da capacidade. O milho que está estocado veio de Mato Grosso e foi colhido em 2007.

– Está fazendo muita falta, porque o produtor, principalmente o pequeno e o médio, colhe e aí vem para trazer o milho. São dois secadores pequenos que não conseguem atender o produtor. Ele tem que vender urgente, não tem lugar para armazenar – relata o presidente do Sindicato Rural de Palmeiras de Goiás, Cezar Savini.

Em junho de 2014, após a série de denúncias feitas pelo Canal Rural, o presidente da Conab anunciou que as reformas e construções de novos armazéns seriam agilizadas e que logo seriam vistos resultados. Mas, na prática, as licitações passaram para a coordenação do Banco do Brasil. As reformas foram divididas em quatro lotes, e as novas construções ainda aguardam os licenciamentos ambientais.

O armazém de Palmeiras de Goiás já esteve na lista para ser vendido e agora vai entrar no último lote para ser reformado. O presidente da cooperativa do município, Welber Macedo, afirma que só se aproveita o terreno e que seria inviável reformar.

– Não tem um sistema de descarga aqui, não tem um sistema de secagem, não tem aeração, não tem um sistema de armazenagem. Então, porque você vai reformar aqui? Pega o terreno e faz outro, pra fazer um armazém a partir do zero nós vamos precisar de uns R$ 10 a R$ 12 milhões para construir aqui. Tem um secador queimado de oito toneladas a hora, tem um outro queimado de 13 toneladas a hora, isso é a carga da minha caminhonete – desabafa acedo, presidente da Copal.

Pelo último levantamento da Conab, a atual estrutura conta com 90 complexos de armazéns em todo o país, 80 vão para reforma, seis que foram cedidos pelo patrimônio da União para uso da Companhia vão ser devolvidos e quatro vão a leilão.

– Nós vamos começar agora um processo de avaliação pela Caixa Econômica Federal do valor destes imóveis que pretendemos vender. Com essas avaliações em mãos faremos o edital de venda destes imóveis, para que possamos utilizar os recursos angariados desta venda na construção de novas unidades em áreas que, hoje, demandam muito mais do que estas que estamos dispondo agora – relata o diretor de Abastecimento da Conab, Marcelo Melo.

A Conab espera vencer os obstáculos do licenciamento e este ano iniciar as construções dos novos armazéns, com investimento previsto de R$ 350 milhões, começando no oeste catarinense, em Xanxerê, um projeto piloto com capacidade para 50 mil toneladas. No projeto consta ainda novas unidades em Anápolis (GO), Itaqui, no Maranhão e Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia.

– Com estas quatro unidades esperamos dar o pontapé inicial e a partir do ano que vem deslanchar as outras seis, mantendo o cronograma de reforma das 80. E dentro do futuro próximo, a construção de outras 10 unidades. Tinham apresentado 20, mas aí no primeiro momento foi cortado, devido às questões orçamentárias, mas eu entendo que agora não se tem mais volta neste assunto, porque o governo entendeu que é necessário investir – afirma Melo.

De acordo com Marcelo Melo, no caso da reforma dos 80 armazéns, foram selecionadas as primeiras sete unidades que precisam de menos investimento, onde é possível reformar com até um R$ 1 milhão, a prioridade é a região Nordeste. A Conab busca justificar os atrasos no cronograma.

– Primeiro, nós nos deparamos com alguns problemas com relação aos terrenos, a maioria desses terrenos foram doados por prefeituras nas cidades em que eles vão ser construídos, e houve alguns atrasos na doação desses terrenos e na sua transferência para o patrimônio da Conab. Resolvido, nós estamos com o segundo problema, que são as questões ambientais, que são bastante espinhosas no Brasil, e não poderia ser diferente. Acho que temos que ter o cuidado ambiental – diz Melo.

O presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) faz duras críticas à burocracia, que envolve o atraso na reestruturação dos armazéns da Conab.

– A gente costuma dizer que as coisas públicas são como amor entre os elefantes, que é um barulhão danado na hora de lançar, mas o resultado só aparece dali uns 30 meses. Então, as coisas são muito lentas e ficamos muito preocupados, porque esta lentidão não se tem mais, este tempo no mundo globalizado me preocupa, esta decisão tomada lá atrás de modernizar, recuperar e até investir em novos armazéns da Conab, mas no momento em que nós sabemos que a economia se retrai e que nós teremos dificuldade de liberação de créditos, se tivermos que tomar uma decisão se vai sair crédito para custeio e comercialização ou para investimento, como é que nós vamos ficar – pergunta Marcio Lopes de Freitas, da OCB.