Projetos de lei visam garantir pagamento a quem prestar serviços ambientais

Ideal é aprovar projetos antes da Conferência Mundial do Clima, COP 21, que acontece em Paris, no fim do ano

Dois projetos que estão tramitando na Câmara dos Deputados pretendem criar uma Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). A ideia é que o produtor rural que tomar medidas para preservar áreas ou fazer recuperação ambiental na propriedade receba recompensa em dinheiro. Na prática, isso já acontece em parcerias público-privadas em pelo menos oito estados.

Tramitam na Câmara dos Deputados o PL 792, que está na Comissão de Finanças e Tributação, e o PL 312, atualmente na Comissão de Agricultura. Um deve complementar o outro para garantir uma legislação mais ampla, com o apoio do governo.

A estratégia é aprovar primeiro as linhas gerais, que garantam a regulamentação para definir o conceito de serviços ambientais prestados pelos produtores, para depois colocar em debate os temas mais polêmicos, como a criação de fundos e a forma que o governo pode destinar os recursos e adotar as políticas específicas. O apelo para acelerar a tramitação e aprovar no Congresso está na Conferência Mundial do Clima, a COP 21, que acontecerá em Paris no fim do ano. Tudo para que o Brasil possa apresentar o modelo durante o evento.

– É mais uma agenda positiva que nós vamos cumprir na data e no prazo, para permitir que o Brasil, na Conferência Mundial do Clima em Paris, no final do ano, possa entregar isso e mostrar ao mundo nosso gesto e comprometimento, não só do setor público, como também do setor privado brasileiro. E agora possamos construir um consenso com todos os segmentos envolvidos, um arcabouço legal para que possamos ter, assim, uma legislação guarda-chuva ampla, para que possa ter uma visão sistêmica desta importante entrega, deste gesto voluntário de todos nós de preservarmos um pouco mais do que aquilo que a legislação nos exige – declara o deputado federal Evair de Melo (PV/ES)
  
Exemplos 

Investir em preservação ambiental pode ser lucrativo. Renato Atanazio trabalha com estratégias de conservação de uma fundação privada. O primeiro projeto foi em 2006, em parceria com municípios e organizações não governamentais, no estado de São Paulo. Hoje, produtores de vários estados participam e chegam a receber entre R$ 300 e R$ 400 por hectare de área de floresta.

– Hoje, a gente tem mais ou menos 13 termos de cooperação assinados no Brasil todo e acho que já chegou a 220 propriedades contratadas. Parece um número não tão expressivo, mas eu considero um início, a gente está começando a trabalhar com PSA aqui no Brasil – conta o diretor de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Renato Atanazio.

Ricardo Novaes é diretor de Planejamento da Secretaria de Meio Ambiente de São José dos Campos, interior de São Paulo, e apresentou para os deputados o projeto do município, que pretende atingir 24.500 hectares ao longo da bacia do Rio do Peixe.

– Com a captação de um R$ 1,3 milhão de um edital do Comitê da Bacia Federal Paraíba do Sul, através da agência [Agência Nacional de Águas], que lançou edital contemplando projetos de PSA nas bacias de três estados: São Paulo, Rio e Minas, a Prefeitura de São Jóse foi contemplada e conseguimos (o recurso) para restaurar 60 hectares de APPs [áreas de preservação permanente] hídricas e remunerar os produtores por esses 60 hectares e pelas áreas preservadas na bacia – explica Novaes.

O coordenador de Implementação de Projetos Indutores da Ana-Brasília, Devanir Garcia dos Santos, diz que desde quando a agência começou a implementar a cobrança pelo uso da água foi idealizado um programa em que o produtor use o mesmo princípio do usuário pagador. 

– Só que aqui, no caso, quem usa a água, ou usa para alguma atividade, paga pelo uso desta água. Então, quando o produtor trabalha adequadamente sua área e gera benefícios para a bacia produzindo mais água ou melhorando a qualidade da água, nós entendemos que ele deve receber pelo mesmo princípio agora, provedor recebedor – demonstra Santos.