Venda a preço médio é indicada para cobrir custos

Com alta do dólar, insumos e equipamentos ficam mais caros, para cobrir custos, especialistas sugerem negócios antecipados

A alta do dólar beneficia a maior parte dos produtos agrícolas, a exemplo da soja. Mas insumos, como fertilizantes e defensivos, ficam mais caros. Por isso, especialistas aconselham ao produtor a venda de parte da produção por um preço médio, para cobrir os custos. Os impactos da alta do dólar no setor foram discutidos nesta segunda, dia 3, na abertura do Congresso Brasileiro do Agronegócio. 

Para Alexandre Mendonça, analista de mercado, apensar de a alta beneficiar algumas culturas, é muito mais prejudicial a outras, como a do açúcar.

– A maior parte das lavouras e, especialmente, a pecuária, se beneficiou dessa desvalorização do câmbio. Você pode falar isso do frango e do suíno. Se olharmos pra açúcar e café, não foi verdadeiro isso, toda a desvalorização foi acompanhada por uma queda proporcional no preço em dólar – avalia Mendonça.

O dólar chegou ao patamar de R$ 3,40. Diante disso, a Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas diz que a modernização da frota ou a aquisição de equipamentos, neste cenário, depende da rentabilidade do produtor

– O conteúdo importado das máquinas atuais não é tão grande, mas ele existe, depende muito da indústria, do tipo de produto que você faz, pode variar aí de 10% a 30%, e isso tem algum impacto no custo – afirma o presidente da Câmara, Pedro Bastos.

Insumos, como fertilizantes e defensivos, também ficam mais caros, por isso especialistas aconselham que o produtor venda parte da colheita por um preço médio, para cobrir os custos de produção.

– Está havendo uma protelação de compra de todos os insumos, semente, calcário, defensivos, fertilizantes. Talvez a dica, é o que os bancos nos ensinaram, do saldo médio. Se você estiver sempre no mercado, você vai criar um preço médio, seja na baixa, seja na alta, e você constrói um preço médio dos teus custos, como você também não deve esperar pra vender no melhor momento. Também vender sempre pra ter uma receita média –diz Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).

desaceleração do crescimento da China é outro assunto que tem preocupado o mercado. Em julho, a bolsa de Xangai teve o pior mês em quase seis anos. A queda foi de 30%. No primeiro semestre, a receita do Brasil em dólar, com a venda de produtos ao país asiático, caiu mais de 20% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

A China é o destino de 20% das exportações brasileiras. Minério de ferro, petróleo e soja são os principais produtos embarcados. E apesar do recuo nas vendas para o país asiático, a soja não deve ser muito afetada.

– Na medida em que essa crise, que por enquanto é do mercado financeiro, chegar ao cidadão comum e afetar a renda do consumidor chinês, é que traria alguma consequência para o Brasil, que é um grande exportador de commodities agrícolas para o mercado chinês. Preocupa, é uma crise de confiança, mas ainda não traz uma consequência imediata sobre os volumes que devem ser exportados, sobretudo de soja na próxima safra – indica o analista de mercado André Pessoa.

PIB do agronegócio

A agropecuária deve ser a principal fonte de riqueza do país em 2015 e 2016. Dados do boletim Focus, publicação semanal na qual o Banco Central reúne projeções dos principais analistas do mercado, mostram que enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria e o de serviços apresentam desempenhos negativos ou quase nulos, o do agronegócio segue em expansão. A expectativa dos analistas é de alta de 2,46% este ano e 2,37% no próximo para o setor.
 
Os números mostram que a agropecuária segue na contramão do restante do país. Enquanto o setor cresce, o PIB do país deve encolher 1,80% este ano e, em 2016, avançar apenas 0,20%. Segundo o boletim Focus, o Brasil voltaria a taxas mais expressivas de crescimento apenas a partir de 2017, para quando a previsão é de 1,70% de alta. Em 2018, o País registraria expansão de 2% e, no ano seguinte, de 2,50%.
 
A projeção para a agropecuária é de 3% em 2017 e 2018, e alta de 2,91% em 2019. O PIB industrial, o que mais tem pesado na economia do País, deve encolher 3,50% este ano. Em 2016, outra queda deve ser registrada, só que menor, de 0,10%. A partir de 2017 haveria retomada do crescimento, com expansão de 1,78%.
 
Para o setor de serviços, que já foi visto como o sustentáculo do país, sobretudo depois da crise de 2008, a expectativa é de queda de 1,21% este ano. No próximo, a previsão é de alta de 0,55%. De 2017 a 2019, o PIB do setor seria de 1,5% em cada ano.