Chuvas fazem casos de ferrugem da soja dobrarem no início da safra do Brasil

Relatos da doença desde o início de junho até o momento totalizam 66 casos no país

Fonte: Deise Froelich/Emater-RS

Após um início de safra de soja 2015/2016 bastante chuvoso no Sul do país, os casos de ferrugem asiática, uma doença fúngica que ataca as plantas em condições úmidas, já são duas vezes mais numerosos que no ano passado, mostram dados do setor. Os relatos de ferrugem desde o início de junho até o momento totalizam 66 casos no Brasil, sendo 29 no Rio Grande do Sul e 17 no Paraná, segundo o Consórcio Antiferrugem, uma parceria público-privada criada há mais de uma década para monitorar a presença da doença, que já causou grandes prejuízos ao setor produtivo nos momentos em que não foi combatida adequadamente.

No mesmo período do ano passado, os casos de ferrugem da soja eram 36. “O El Niño tem maior média de chuvas na região Sul e isso favorece a ferrugem”, destaca a fitopatologista da Embrapa Soja Cláudia Godoy, referindo-se ao fenômeno climático que ocorre com forte intensidade nesta temporada e tende a elevar o volume de chuvas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e até sul de Mato Grosso do Sul e São Paulo.

El Niño deverá fortalecer-se antes do fim do ano e tornar-se o mais forte já registrado, disse na segunda, dia 16, a Organização Meteorológica Mundial, ligada à ONU. Segundo a Somar Meteorologia, a safra de grãos 2009/2010 foi última safra sob influência de El Niño no Brasil. No início daquela temporada, entre junho e meados de novembro, o Consórcio Antiferrugem havia registrado 30 casos.

“Há tendência altíssima de ferrugem para toda esta temporada”, disse o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar, apontando bons volumes de chuva mesmo no período de colheita.

Segundo a pesquisadora da Embrapa, o inverno com temperaturas mais amenas no Sul acabou não matando plantas de soja contaminadas remanescentes da safra 2014/2015, o que ajudou a elevar as estatísticas. Foram registrados casos de ferrugem em julho e agosto, período que deveria ser de ausência total de soja nos campos, justamente por questões sanitárias.

Alerta

A ferrugem neste estágio inicial da safra não traz grandes riscos à produtividade, uma vez que muitas lavouras ainda nem foram plantadas, e as que foram semeadas estão em fase de desenvolvimento, com fácil controle de infestações. “Para as áreas detectadas agora não há problema nenhum… mas isso serve para alertar o produtor”, disse Cláudia.

Ela destacou que os esporos do fungo causador da ferrugem deverão estar bastante presentes nas áreas produtoras ao longo de toda a temporada. Como este ano há um atraso no plantio, pode haver casos em que áreas estarão sendo colhidas – operação que ajuda a espalhar o inóculo da ferrugem, ao lado de lavouras ainda em fases suscetíveis a prejuízos, facilitando a proliferação de casos.

Nos últimos anos, a ferrugem tem causado poucos impactos à produtividade das lavouras no Brasil porque os produtores aprenderam a usar adequadamente os fungicidas. Contudo, a tendência em 2015/2016 é de custos mais elevados para o controle, devido à necessidade de mais aplicações, em um ano em que os preços dos defensivos subiram, puxados pela alta do dólar.

“O produtor pode querer desviar para um produto mais barato, com menor poder de controle. Mas isso não pode acontecer, ele tem que usar o que há de melhor”, destacou o coordenador técnico da cooperativa Coopavel, da região oeste do Paraná, Mário Lúcio Melo.