Mesmo com safra menor, preço do trigo não sobe como o esperado

Apesar da alta de 10% na cotação, o valor não atingiu maior patamar por causa da queda no consumo

Fonte: Antonio Costa/AENPr

A safra de trigo 2017 é 30% menor do que a do ano passado. A quebra da produção foi causada pelo clima, mas, apesar da oferta menos aquecida, os preços não estão reagindo como deveriam. O preço chega a R$ 650 a tonelada no Paraná e R$ 580 no Rio Grande do Sul, o que representa um valor 10% maior do que os que eram praticados no mesmo período do ano passado, uma elevação considerada modesta diante da quebra de 30% da safra, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), fechando o ano em 4 milhões de toneladas.

“Além de termos uma produção menor, nós tivemos vários problemas de qualidade tanto do paraná quanto no rio grande do sul. Esse fator faz com que a oferta do trigo nacional seja menor neste ano e a expectativa é de que essa redução fosse impactar bastante no preço, mas a queda do consumo pela crise, talvez, não fez com que impactasse tanto”, disse o consultor de risco de trigo da INTL FCStone, Roberto Sandoli.

O gerente de um moinho de São Paulo confirma que este é um ano difícil por causa da redução do      consumo. A empresa não consegue repassar o aumento dos custos para o consumidor. “O consumo não sobe e eu acho que nós, infelizmente, vamos fechar 2017 com uma ligeira redução de moagem no Brasil inteiro. Você não pode ficar muito animado em investir, porque o mercado está restrito e não te dá oportunidade de aumentar o volume de vendas”,  disse o gerente de suprimentos do moinho Anaconda, Nelson Montagna.

“Um ano atrás, 70% do trigo processado neste moinho era brasileiro. Agora, com a redução da oferta nacional, é preciso importar mais. Atualmente, 50% da matéria prima vem do brasil e 50%, da Argentina”, disse Montagna.

A importação de trigo argentino impede altas mais expressivas, segundo especialistas. Para Sandoli, o produto só deve se valorizar a partir do segundo trimestre do ano que vem, com a redução da oferta argentina. Para ele, as oscilações do câmbio em ano eleitoral podem mexer com o preço e uma possível redução da oferta de milho em 2017 também tende a valorizar o trigo, que é um substituto para a ração.

Já sobre a liberação da importação de trigo da Rússia, o consultor aposta em impactos pouco relevantes no mercado brasileiro. “Seria muito mais uma jogada política do governo por questões da carne, pois o trigo russo tem um preço que não é competitivo e tem diferencial de frete muito mais alto se comparado com argentino e americano, por exemplo. Para completar, o trigo russo não é considerado um trigo de qualidade superior.”