Agropecuária pode frear aumento do Efeito Estufa

Durante a cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em setembro deste ano, o Brasil se comprometeu a reduzir a emissão de gás carbono – principal causador do efeito estufa – em 37% até 2025 e 43% até 2030. A coordenadora da Iniciativa Clima e Agropecuária do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Marina Piatto, diz que o país é pioneiro ao desenvolver estratégias partindo da atividade agropecuária.

Na agropecuária a emissão de CO2 se dá principalmente nas pastagens degradadas, pela decomposição da matéria orgânica, e nos animais ruminantes, que liberam metano no processo de digestão chamado fermentação entérica. Para reduzir a emissão pelos ruminantes, Marina destaca que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indica a suplementação dos animais e uma boa pastagem, incluindo a presença de leguminosas. 

A solução mais promissora para reduzir as emissões é a integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF). Neste sistema, rebanho e plantação convivem e alternam de lugar conforme o tempo. Assim, preserva-se o solo e ainda se economiza com fertilizantes, já que o próprio esterco produzido pelos animais pode ser usado para adubar a terra. O Brasil assumiu metas de implementar cinco milhões de hectares de iLPF e recuperar de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas.

– Sabemos que a meta de 20 milhões de hectares é desafiadora, é muita terra. São tecnologias novas, de alto custo para o produtor rural, mas que têm potencial para contribuir em quase 30 pontos percentuais da meta firmada para 2030 – afirma Marina. 

As pesquisas preliminares apontam que uma pastagem em processo de degradação emite mais carbono que a bovinocultura e que uma pastagem bem manejada pode capturar mais do que uma floresta. 

– A diferença, na prática, é muito grande. Uma pastagem com uma baixa lotação, um solo em processo de degradação, além de não capturar, emite carbono, porque a matéria orgânica está em decomposição – explica. 

Iniciativas governamentais, como o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) tendem a se tornar cada vez mais comuns, já que a demanda mundial passará a cobrar o fornecimento de alimentos produzidos ou associados a baixa emissão de CO2. Na COP-21, a conferência do clima que será no início de dezembro em Paris, o programa ABC certamente será um cartão de visita do Brasil, por ser um poucos programas a nível mundial para reduzir as emissões na agropecuária.

Dois produtores aproveitaram os recursos disponibilizados através do Banco do Brasil e investiram em sustentabilidade. No Paraná, Gibran Thives de Araújo reveza o gado com a plantação de milho e soja. Já o Francisco Veloso, do Rio Grande do Norte, planta forrageiras que alimentam o gado. Ambos otimizaram a utilização da propriedade.

– São práticas “ganha-ganha”. O produtor ganha, a produtividade aumenta, a fazenda se valoriza com a recuperação da pastagem e a adoção dos sistemas de integração e, além disso, o clima também ganha, porque a gente reduz as emissões – conclui Marina.