Chuvas irregulares e o menor uso de inseticidas no campo são responsáveis pela proliferação de pragas secundárias nas lavouras de soja em Mato Grosso, segundo o setor produtivo. Além da perda de produtividade, em algumas regiões, os agricultores relatam aumento de até 15% nos custos de manejo.
O sojicultor Ary José Ferrari, de Primavera do Leste (MT), semeou 2.200 hectares e esperava colher, em média, 60 sacas de soja por hectare, mas isso pode não se concretizar. “Está faltando chuva. Até garoa em uma parte, mas em outras, não. Está assim, só pancadas e depois passa dez dias sem chover. Sem falar nas pragas secundárias, que estão dando dor de cabeça esse ano, principalmente o torrãozinho”, afirma.
No ano passado o produtor perdeu 15% da lavoura para a praga. Nesta safra, o prejuízo pode ser ainda maior. “Ele derruba as folhas e corta o pé inteiro. Depois, na hora de colher, não tem soja nenhuma. A julgar por um só talhão de minha fazenda, devo perder 25%. Em outro, já fizemos cinco aplicações só para tentar segurar o torrãozinho e ainda não consegui matar tudo, ainda tem”, diz.
Problema afeta outros produtores
Ferrari não é o único a ter problemas com essa praga. Segundo o vice-presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste, Marcos Roberto Bravin, o problema atinge várias plantações do município. “Esse inseto está elevando os custos com defensivos, de 10% a 15%. Fora o dano que está deixando na lavoura, que podem girar de 5 a 15 sacas por hectare. Tem lavouras que podem perder até mais”, diz.
Em outros municípios
Em Diamantino (MT), também tem agricultor com lavouras comprometidas pelo torrãozinho. Alguns estão adotando, como estratégia de controle, o combate noturno.
“É uma praga de difícil alvo, totalmente diferente das outras. O nome já diz ‘torrãozinho’, porque é muito parecido com um torrão de barro e se esconde embaixo da palhada ou até mesmo dentro do solo. São poucas horas durante a noiteem que se consegue vê-lo. Isso está fazendo com que a gente tenha que rotacionar a equipe de aplicadores, e alguns trabalham a noite para poder controlar essa praga”, afirma o agricultor Rodrigo Konageski.
Na fazenda vizinha, outra praga secundária também causa danos: o cascudinho. O inseto possui as mesmas características e causa os mesmos danos que o torrãozinho.
“Como a chuva não era muito boa, eles foram saindo e atacando as lavouras. Por isso teve talhão com cinco aplicações de defensivos. Se deixar dá perda total, o inseto é bruto e esperto, pois deita de perna para o ar se fingindo de morto. O produtor passa o produto e pensa que está tudo morto, mas dali um pouco ele sai andando e se esconde embaixo da palhada”, diz o sojicultor Amarildo Christofolli.
Segundo o presidente da Aprosoja Mato Grosso, Antônio Galvan, o uso de soja tolerante a lagartas, fez com que o uso de inseticidas diminuísse, favorecendo o surgimento e propagação dos insetos. “Com certeza essas outras pragas, como torrãozinho, percevejo castanho e outros têm tendência a aumentar. Até pelo fato de se reduzir o uso de inseticida, então isso preocupa sempre, porque aumenta os custos”, diz.
O que fazer?
De acordo com a Embrapa, para que o controle das pragas secundárias seja mais eficiente, é preciso antecipar o manejo de palhadas e o monitoramento das áreas.
“O importante é o produtor e o consultor já começar o manejo desses insetos antes do estabelecimento da cultura, na palhada. Preferencialmente conseguir fazer uma dessecação bem com até 20 dias antes do plantio. É óbvio que não dá para fazer esse manejo para todos os talhões, então é importante monitorar, para ver se existe a presença da praga”, conta o pesquisador Rafael Major Pitta.
Segundo ele, comprovando a presença não só desses, mas de outros insetos, como as lagartas, o produtor deve optar pelo uso do inseticida junto com a dessecação. “Mas o que não pode é virar uma regra, porque quando já começa usando esses inseticidas sem necessidade, elimina-se muitos inimigos naturais a vai criando outros problemas. Por isso cada vez mais vemos o aumento incidências de pragas”, diz Pitta.