Os produtores brasileiros enfrentam decisões sobre o que e quanto plantar, com margens mais apertadas para o milho de inverno e soja em comparação com os anos anteriores.
A influência do El Niño nas produtividades das culturas varia por região, com potenciais efeitos positivos nos estados do Sul e impactos ligeiramente negativos nos estados do Centro e Norte. As constatações fazem parte do relatório da hEDGEpoint Global Markets, divulgado nesta terça-feira (29).
Assim, com um crescimento moderado na área e uma perspectiva de rendimento relativamente favorável, a empresa projeta a produção de soja na safra 2023/24 em cerca de 163 milhões de toneladas.
As perspectivas de produção de milho são menos favoráveis devido a fatores econômicos e menor otimismo em relação ao rendimento, com a produção total estimada em 133 milhões de toneladas.
“Este ano, temos custos mais baixos, porém preços também mais baixos. No entanto, os preços caíram mais do que os insumos e, portanto, as margens estão mais apertadas do que nos últimos três anos. Isso é verdade para ambos, mas as margens esperadas para o milho de inverno estão mais apertadas do que as da soja”, afirma o analista de Grãos e Oleaginosas da empresa, Pedro Schicchi.
Mas por quê?
Dois pontos decorrem desse fato, segundo o especialista. “Um deles é que margens mais apertadas exigem mais atenção à gestão de riscos, pois movimentos de mercado podem erodir os lucros com mais facilidade. O segundo é que devemos esperar um crescimento de área menor do que vimos nos últimos anos”.
As margens afetam a área, mas o que podemos dizer sobre a produtividade? Schicchi destaca que os rendimentos são difíceis de prever até mesmo enquanto a safra se desenvolve.
“Você pode imaginar o quão precisas são as estimativas pré-safra. Ainda assim, temos um ano de El Niño pela frente com muitos impactos nas safras”, ressalta.
O analista lembra que no verão brasileiro, o El Niño tende a ser positivo para os estados do Sul, pois traz bons níveis de chuva – o oposto do que tem acontecido nesses últimos anos de La Niña.
“Por outro lado, ele tende a ser ligeiramente negativo para os estados do Centro-Norte, pois traz temperaturas ligeiramente acima da média, o que, se combinado com baixa precipitação, pode resultar em perdas”, observa.
Perspectivas para o Sul
Schicchi explica que, no entanto, nem sempre é o caso, já que o El Niño não é fortemente correlacionado com a precipitação no Norte.
Rio Grande do Sul e Paraná normalmente produzem cerca de 40 milhões de toneladas em anos normais. O Matopiba alcançou cerca de 20 milhões de toneladas em 22/23. “Assim, as boas perspectivas para o Sul têm maior efeito no número final do Brasil”, diz.
Quanto ao milho de inverno, o cenário não é exatamente o mesmo, de acordo com o analista. As tendências gerais permanecem: positivas para o Sul e negativas para o Centro-Norte.
No entanto, o milho é mais sensível a temperaturas elevadas do que a soja e, além disso, o Rio Grande do Sul não produz milho de inverno.
“Assim, as perdas nos estados do Centro-Oeste e Norte podem ser maiores, enquanto o estado que mais se beneficia do fenômeno não está presente na equação para compensar esse efeito”, diz.
Estimativa produção de soja
Para a soja, há crescimento de área, embora não tão alto quanto em anos anteriores, e uma perspectiva de produtividade moderada a favorável:
De acordo coma hEDGEpoint Global Markets, a estimativa de produção em cerca de 163 milhões de toneladas pode ser facilmente aumentada se o Centro-Oeste e o Matopiba apresentarem bons rendimentos.
Projeção para o milho
Este ano foi economicamente ruim para os produtores de milho, segundo o analista. “Aliado ao que se supõe ser uma boa safra nos Estados Unidos, o incentivo para plantar milho no Brasil é menor do que para plantar soja, embora isso seja discutível. Por sua vez, o crescimento da área que esperamos é também menor”, diz.
Além disso, para Schicchi, não há perspectiva tão positiva para os rendimentos. “Os resultados de 22/23 foram espetaculares contra todas as probabilidades. Portanto, estimamos a produção em níveis similares a 22/23, mesmo com o crescimento da área, já que os resultados deste ano podem não se repetir”, afirma.