O ministro interino da Agricultura, Eumar Novacki, pilotou uma das colheitadeiras abrindo simbolicamente, os trabalhos pelo país
Daniel Popov, de São Paulo
Foi aberta oficialmente a colheita da maior safra de soja da história do país. A perspectiva da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de chegarmos a 103 milhões de toneladas, mesmo montante estimado pelas principais consultorias do país. Durante a Abertura Nacional da Colheita, promovida pelo Projeto Soja Brasil nesta quinta-feira, dia 26, na fazenda Jotabasso, em Ponta Porã (MS), palestrantes renomados e autoridades trouxeram ao público algumas alternativas para a comercialização desta safra. Além disso, também foi comentado sobre o importante papel do agronegócio para o país e a visão ainda retrógrada de parte da população, sobre o setor.
Teve chuva de soja, sim. Foi uma festa à altura da safra que será colhida, com direito a sete colheitadeiras no campo, muitas autoridades, incluindo o ministro interino da Agricultura, Eumar Novacki, a bordo da primeira máquina. Antes, ele discursou, afirmando o compromisso do Ministério da Agricultura em desburocratizar os processos internos para facilitar mudanças necessárias para atualizar algumas leis que regulamentam o setor. “Este setor é responsável por contribuir com 22% do Produto Interno Bruto (PIB), gerar 1 em cada 3 empregos no pais e contribuir com quase metade das exportações. Hoje, o ministério dá a atenção devida a este setor tão importante. Queremos estimular o crescimento desburocratizando e abrindo o acesso a este ministério”, diz Novacki.
Novaki reiterou que a meta do governo brasileiro é, em cinco anos, sair de 7% de participação no mercado internacional, para 10%, e assim gerar muitos empregos no Brasil. Afinal, com mais negócios, mais demanda por produtos e novas áreas surgirão. “Não queremos inventar a roda, mas, sim, que ela gire”, afirma o executivo. “Mesmo com todos esses problemas, logística, custos elevados, entre outros, conseguimos ser competitivos no mercado internacional. O produtor precisa ser defendido, e vamos fazer isso.”
Além do ministro, estavam presentes Rose Modesto, governadora em exercício do Mato Grosso do Sul, os senadores Waldemir Moka (PMDB-MS) e Pedro Chaves (PSC-MS), a deputada federal Teresa Cristina (PSB-MS) e o deputado estadual Júnior Mocchi (PMDB), além de toda a liderança da Aprosoja Brasil e Mato Grosso do Sul.
Na primeira palestra, Marcelo Gravina, do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), reiterou que 94% das lavouras brasileiras de soja fazem uso das biotecnologias, o que é bom. Entretanto, em uma pesquisa também realizada pelo conselho, destacou que 7 em cada 10 produtores acreditam que as biotecnologias estão perdendo suas eficiência. A razão? Falta de manejo adequado, responderam os próprios agricultores, que também confessaram não fazer nem o refúgio.“A biotecnologia não é mágica, não surge facilmente e temos que tomar cuidado com isso”, diz Gravina. “O que pode ser feito agora, para evitar a perda dessas tecnologias atuais é um conjunto de práticas recomendadas, como a dessecação antecipada, uso de sementes certificadas, tratamento de sementes, refúgio, controle de plantas daninhas e o monitoramento de pragas.”
O tema que não poderia faltar, e talvez tenha trazido mais informações importantes para o restante da safra, foi a comercialização com o consultor Flávio França Junior. Ele explicou que a política nacional e a internacional vivem um momento de mudanças e, junto a isso, a safra mundial de soja está maior, os estoques também e isso tudo traz instabilidades para o câmbio, que deve ser observado de perto. “Nos últimos anos, o câmbio garantiu a renda para os brasileiros, já que as cotações não eram as melhores. Este ano a coisa é diferente, o cambio está mais baixo, e os preços, em alta. Como não há perspectiva de queda nos valores da oleaginosa, o produtor tem de ficar de olho no câmbio e, ao menor sinal de alta, negociar e travar vendas”, diz França Junior.
Para ter uma ideia, nesta mesma época do ano passado, o preço da soja era de US$ 8 por bushel, enquanto o câmbio superava a casa dos R$ 4,20. Neste ano, os preços estão em patamares bem maiores, US$ 10,5 o bushel, enquanto o câmbio não ultrapassa os R$ 3,20. “O câmbio está muito volátil. Se o produtor monitorar de perto o mercado, conseguirá fechar boas negociações”, avisa o consultor de mercado.
Ele também deu dicas de como o produtor pode se dar bem na próxima safra de soja, 2017/2018. “Aproveitar que a safra atual será remuneradora e ter uma boa administração dos custos. Monitorar o mercado e travar vendas. Comprar insumos antecipadamente e buscar uma relação de troca vantajosa. Por fim, ter cuidado, atenção e informação sobre o mercado financeiro, para aproveitar momentos remuneradores”, finalizou.
Logo na sequência, uma discussão levantada nos últimos dias, a respeito do samba enredo escolhido pela escola de samba Imperatriz Leopoldinense, destacando a relação do Brasil com seus índios, fez com que a plateia fizesse uma enxurrada de perguntas ao palestrante Evaristo Miranda, coordenador do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite) da Embrapa. O tema abordado? O uso e a ocupação da terra no Brasil e a sustentabilidade agrícola do país, comparado a outros players agrícolas mundiais.
Evaristo explicou a diferença entre a atribuição de terras no Brasil e o uso pela agricultura. De acordo com o especialista, o país preserva 30% do território, número muito superior em comparação com outras nações, como Estados Unidos, China e Rússia, que protegem menos do que 10%.
Ele ainda afirmou que outras nações preservam apenas áreas sem potencial para utilização, situação contrária à que acontece no Brasil, que tem apenas 8% do território destinado à agricultura. “Mais da metade de Mato Grosso, o Brasil não vai usar. Ninguém preserva tanto quanto os agricultores do Brasil”, destacou.
Aproveitando o assunto, o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Brasil (Aprosoja Brasil), Marcos da Rosa, ressaltou a importância de valorizar a agricultura, já que esta é a atividade principal do país, responsável por manter a balança comercial no azul.
Para Da Rosa, se não começar a mudar a visão da população sobre o setor, no futuro não haverá sucessão familiar na atividade. “É preciso informar nossas crianças sobre a realidade do agronegócio, não o que andam ensinando nas escolas. Nós, do campo, temos de comunicar melhor a realidade do campo, e o Canal Rural está nos ajudando nisso”, afirma ele.
Por sua vez, o presidente do Canal Rural, Donário Lopes de Almeida, ressaltou a importância de fazer essa ponte entre o campo e a população, assim como levar conhecimento técnico aos agricultores, com projetos como o Soja Brasil. “Nosso objetivo é criar essas oportunidades para que o conhecimento possa chegar ao produtor e também à população”, definiu.
Para o diretor de marketing da Basf, Marcelo Batistela, quanto mais informação e conhecimento chegar diretamente ao produtor rural, mais rápido evoluirá o setor no país. “Projetos como este fazem um link direto entre o agricultor e a iniciativa publica, privada e também a pesquisa. Com isso, a agricultura evoluirá ainda mais”, garante, o executivo.