Invernada provoca lamaçal nas estradas e atraso de colheita em MT

Produtores rurais estão preocupados tanto com o escoamento da safra, como com o trabalho de campo em lavouras molhadas; veja fotos

MT-322
Foto: Apel/divulgação

Produtores rurais e caminhoneiros que estão na região norte de Mato Grosso enfrentam problemas tanto nas lavouras como nas estradas. Neste fim de semana, o Canal Rural mostrou que mais de 200 caminhões ficaram parados em um trecho de terra da rodovia MT-322, na região chamada de Norte Araguaia Xingu, por conta de um atoleiro. De acordo com agricultores do estado, a estrada, antiga BR-080, apresenta anualmente problemas de atoleiros há mais de 40 anos, prejudicando deslocamentos e o escoamento da produção local.

A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra) informou, por meio de nota,  que as  incessantes chuvas que atingiram a região de São José do Xingu prejudicaram o tráfego na rodovia. Em razão disso, uma equipe de manutenção desta secretaria foi enviada para o local.

A MT-322 corta uma área de reserva indígena e, por isso, não pode ser pavimentada sem anuência de órgãos como a Fundação Nacional do Índio (Funai).  Segundo a Sinfra, a rodovia já está com processo licitatório em andamento para a pavimentação de 68,96 quilômetros da MT-109, no trecho que vai do entroncamento da MT-322, em São Félix do Araguaia, até o entroncamento da MT-412, em Canabrava do Norte.  Essa obra vai interligar o Distrito do Espigão do Leste até a cidade vizinha de Canabrava do Norte e a BR-158, tornando-se uma rota alternativa à MT-322.

Atraso na colheita

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Foto: Pedro Silvestre

Com algumas janelas de tempo seco na semana passada, Mato Grosso passou de 11% das áreas colhidas de soja para 22%, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea). Mesmo com o avanço, os trabalhos continuam atrasados em relação à média dos últimos anos.

Nesta semana, esse cenário pode piorar com a formação de uma invernada.  Segundo o produtor rural Diego Dallasta, de Canarana (MT), a invernada na região atrasou a colheita em sua lavoura de soja. Até agora, o produtor colheu 15% da safra, mas já está há três dias sem conseguir fazer o trabalho de campo. “Está chovendo muito na região e a situação não está muito boa tanto nas estradas como no campo. A invernada atrasou nossa colheita em três dias e vamos aguardar para ver se o tempo melhora para tirar o resto da soja da lavoura”, contou.

Segundo a previsão do tempo, nos próximos dias a chuva mais intensa e abrangente vai permanecer sobre Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e boa parte das regiões Norte e Nordeste. Simulações mais conservadoras indicam até 250 milímetros em sete dias no litoral do Pará e do Maranhão, 150 milímetros no norte de Tocantins e 125 milímetros no Espírito Santo, Zona da Mata e noroeste de Minas Gerais, nordeste de Goiás, leste de Mato Grosso (Araguaia), oeste da Bahia e no Piauí. “Em Mato Grosso, espera-se chuva persistente e dificuldade para a colheita da soja e instalação da segunda safra até 22 de fevereiro”, diz Celso Oliveira, meteorologista da Somar.

Problema antigo

Em vídeo gravado nesta sexta-feira, 12, pela manhã, o presidente da Associação dos Produtores de Espigão do Leste (Apel), Alípio Portilho, mostrou um caminhão que atolou na MT-322 e trancou a rodovia. “Com o valor [arrecadado] do Fethab 1, Fethab 2 e Fethab do Diesel com certeza já teriam recursos para fazer o asfaltamento dessa rodovia que é a espinha dorsal para o escoamento da nossa produção”, diz ele, em referência a versões do Fundo Estadual de Transporte e Habitação, criado pelo governo de Mato Grosso e que deveria ser revertido em manutenção de rodovias.

 

“Quero que o recurso do Fethab recolhido aqui volte pra cá, para fazer o asfaltamento que é tão necessário”, completa Portilho.

A Apel foi criada no ano passado pelos produtores rurais de um distrito do município de São Félix do Araguaia (MT), no Vale do Araguaia, para tentar arrecadar fundos para recuperar as rodovias. A máquina que aparece no vídeo tentando desfazer o atoleiro teria sido locada pela associação. “Todo ano acontece isso [atoleiros] e pedimos auxílio ao governador, mas temos que tirar dinheiro do próprio bolso”, afirma o presidente da entidade.

“Todo ano é esse descaso do poder público. E todos os anos vêm promessas de que na seca vão arrumar, que daqui a uns dias vão arrumar, e nunca ninguém se move”, comenta em vídeo Volmar Mangione, produtor do distrito de Espigão do Leste.

“Precisamos do asfaltamento urgente nesta região, temos aí [a produção de grãos] de mais de 400 mil hectares que trafega por esta estrada”, afirma Mangione.