Agronegócio

Suinocultura brasileira se ‘fecha’ para evitar a entrada do vírus da PSA no país

Após recentes casos na República Dominicana e Haiti, ações de prevenção estão sendo tomadas  

A suinocultura brasileira está em apreensão para evitar a entrada do vírus da Peste Suína Africana (PSA). Em julho deste ano, a República Dominicana, relatou a ocorrência da doença e em setembro último, o Haiti  confirmou a incidência da enfermidade em seu território. 

Segundo a Embrapa Suínos e Aves, a Peste Suína Africana (PSA) é uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus pertencente à família Asfarviridae. A doença não acomete o homem, sendo exclusiva de suídeos domésticos e asselvajados (javalis e cruzamentos com suínos domésticos).

A PSA tem sido observada desde o início do século 20 no sul e leste africanos e inicialmente era caracterizada pelos aspectos clínico-patológicos semelhantes à peste suína clássica (PSC). No entanto, posteriormente foi observado que as duas enfermidades são distintas. A suspeita inicial da enfermidade baseia-se principalmente na observação dos sinais clínicos de doença hemorrágica, porém o uso de técnicas laboratoriais, como as moleculares, é imprescindível para a confirmação do diagnóstico.

Na década de 1960, o vírus da PSA chegou à Península Ibérica (Portugal e Espanha), permanecendo endêmico até os anos 1990 no oeste europeu. Nos anos 1970, o vírus foi detectado em suínos domésticos em alguns países na América Latina (Cuba, Brasil, República Dominicana e Haiti), mas os surtos logo foram contidos e a doença erradicada.

Em 2007, a doença foi identificada na Geórgia (Eurásia), com disseminação do vírus para a Rússia, Bielorrússia e Ucrânia. Em 2014, a PSA alcançou a Europa (Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia); em 2016, a Moldávia; e, em 2017, a República Tcheca e a Romênia. Em setembro de 2018, o vírus da PSA foi detectado em suínos de subsistência na China e na Romênia e em javalis na Bélgica. Nestes surtos, a fonte de infecção não foi identificada.

A PSA é uma doença de notificação obrigatória aos órgãos oficiais nacionais e internacionais de controle de saúde animal, com potencial para rápida disseminação e com significativas consequências socioeconômicas.

Prejuízos à suinocultura brasileira podem chegar a US$ 6 bilhões

Os casos recentes de PSA acima citados, segundo Diego Torres Severo, diretor de Defesa Agropecuária da Companhia Integrada de Desenvolvimento de Santa Catarina, a Cidasc, representam um risco muito grande, principalmente pela disseminação da doença por meio de alimentos de origem animal, de suínos contaminados que poderiam ser dados aos suínos como alimentação contaminando novos rebanhos. “Em 1978, o último ano de ocorrência da doença no Brasil, a entrada se deu por conta de alimentos vindos na Península Ibérica, em Portugal e Espanha, e que acabaram  sendo dados aos suínos e foi disseminando o vírus por todo país”, disse. “A preocupação se torna de toda a cadeia e também da sociedade, pois o vírus pode vir por meio de turistas que tragam alimentos”, disse.

De acordo com informações da Embrapa, o javali-europeu é um animal exótico à fauna brasileira. Ele foi introduzido no país há algumas décadas para exploração comercial, mas a atividade não se desenvolveu, e os animais ficaram soltos na natureza. Os javalis e seus cruzamentos com suínos domésticos, os chamados javaporcos, quando em vida livre são invasores que causam danos ambientais, sociais, econômicos, e representam riscos sanitários diversos. 

Para promover o controle dessa espécie exótica invasora, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama, emitiu uma instrução normativa que regulamenta o manejo do javali asselvajado em todo território nacional. 

Os javalis asselvajados podem albergar patógenos causadores de doenças aos seres humanos e animais, apresentando risco à saúde pública e à pecuária. Uma das principais preocupações com javalis de vida livre é a introdução de enfermidades controladas ou erradicadas nos rebanhos brasileiros, representando grande impacto na produção e podendo resultar em barreiras ao comércio internacional de produtos cárneos.

Diego Severo destacou a necessidade das granjas em evitar o contato de javalis com os suínos comerciais. “Felizmente o vírus não  está circulando no Brasil e os produtores, com certeza, devem evitar o contato dos javalis com os animais comerciais. Isso é importante não somente para a PSA, mas também para outras enfermidades”, disse.

Segundo Severo, são 50 os países no mundo que já registraram a doença. “A Cidasc está fazendo uma grande fiscalização  e mantendo um diálogo permanente com o governo do estado e também com a iniciativa privada para evitar a entrada do vírus, pois o prejuízo seria devastador. Lembro que a suinocultura do estado de Santa Catarina já exportou em 2021 US$ 1 bilhão”. Segundo cálculos da Embrapa, o prejuízo seria de até US$ 6 bilhões com a entrada do vírus no Brasil.

Contra a Peste Suína Africana não há tratamento nem vacina. “Por isso cabe a todos tomar as medidas necessárias para diminuir os riscos enquanto não tiver o ingresso desse vírus no país”, afirmou Severo.