Aliança da Soja

Índia e África serão os próximos grandes destinos da soja brasileira, diz coordenador do Insper

No evento, realizado no Centro de Desenvolvimento de Produtos da Bayer, em Petrolina (PE), especialistas enfatizaram os desafios que o Brasil tem pela frente para alimentar o mundo

Décadas atrás, o Brasil precisava importar grande parte dos alimentos que consumia. Hoje, o país é o responsável pela nutrição de mais de um bilhão de pessoas nos cinco continentes. Para destacar os fatores que levaram a essa grande virada e os desafios à frente, o Fórum Aliança da Soja – Inovação e o Futuro da Agricultura Tropical, realizado nesta terça-feira (7), em Petrolina, Pernambuco, reuniu entes da cadeia no Centro de Desenvolvimento de Produtos da Bayer.

O primeiro palestrante, o coordenador do Centro Insper Agro Global, Marcos Jank, ressaltou que o Brasil conseguiu transformar recursos naturais abundantes em produção competitiva e sustentável a partir de tecnologia que permitiu a tropicalização da agricultura. Para os próximos anos, o especialista enxerga a exploração de novas fronteiras agrícolas. “Diria que esta década será marcada pela expansão da integração lavoura-pecuária […]. Temos cerca de 80 milhões de hectares agrícolas no país e 160 milhões de hectares de pasto. É exatamente nesta área que a soja, o milho, algodão e outros vão crescer”, considera.

Para ele, a demanda da China, sudeste asiático e Oriente Médio por produtos brasileiros seguirão firmes, ainda que o país precise acessar mercados no que diz respeito à venda de carnes. “Amanhã teremos demanda de Índia e África que, atualmente, representam no máximo 4% do que o Brasil exporta em agro. Há um enorme potencial pela frente à medida que esses dois destinos forem aumentando renda per capita e se urbanizando”.

Jank também destacou que o cenário geopolítico atual, com a guerra travada entre Rússia e Ucrânia, fez os preços dos alimentos e fertilizantes aumentarem exponencialmente e que a solução para minimizar este problema é o aumento da produção, não taxas de exportação ou incremento de subsídios. “Não há nenhum outro país com capacidade de aumentar mais a sua produção do que o Brasil, exatamente pela integração lavoura-pecuária e pela tecnologia”.

Representatividade da soja

Da década de 1960 aos dias atuais, a produção agrícola brasileira passou da costa do território para o Centro-Oeste e Nordeste, chegando ao Matopiba, esta última região sendo a grande revolução no setor. “O principal produto desta revolução é a soja. A produtividade tem um grande destaque nisso porque o crescimento não foi horizontal, mas vertical. O Brasil lidera o mundo em ganhos de produtividade total, seja da terra, do capital e humana. Isso fez com que partíssemos de 21 bilhões de dólares em exportação em 2000 para 120,8 bilhões em 2021, aumento de 475%. De tudo o que a gente exporta, 40% é soja. De 2000 a 2021, as exportações de soja para a China cresceram 23% ao ano. Sobre o milho, ainda que hoje a China seja praticamente autossuficiente, ela vai precisar do grão e essa é uma grande oportunidade para o Brasil porque fazemos soja e milho na mesma área”, destaca.

Fórúm Aliança da Soja

O coordenador do Insper ainda destacou que milho, trigo e arroz representam 40% da ingestão de calorias da humanidade. “Destes três cereais, dois deles estão sendo afetados pela guerra, que são o milho e o trigo. Oitenta por cento da população mundial vive em países importadores líquidos de alimentos”, conta.

Presente no Fórum Aliança da Soja, o vice-presidente Comercial da Divisão Agrícola da Bayer, Márcio Santos, destacou que o espírito empreendedor do produtor rural brasileiro foi o primeiro ingrediente a impulsionar o país a ser uma potência na geração de comida para o planeta. “A segunda peça desse quebra-cabeça foi a formação de um ambiente de negócios que viabilizou investimentos em tecnologia, seja de maquinários, serviços financeiros, comercialização, transporte, nutrição de plantas, manejo de solo, plantio direto, controle de pragas e doenças, digital e, claro, também de genética de plantas”, enumera.

Já o presidente do Canal Rural, Júlio Cargnino, salientou que o Centro de Desenvolvimento da Bayer é o mais importante do mundo em tecnologias de agricultura tropical. “O agro do futuro está sendo gestado aqui dentro”. Para ele, a aliança firmada entre o veículo, empresas e entidades preocupadas em construir o futuro é que se constrói os pilares que manterão a agropecuária brasileira fortificada. “Temos um grande desafio pela frente: partir de 50 milhões de hectares cultivados com agricultura sustentável para 70 milhões em 2030“, enfatiza.

Por fim, a diretora de Segurança de Produtos da Bayer Latam, Márcia José, contou que a multinacional investe dois bilhões de euros por ano em Pesquisa e Desenvolvimento. “Já estamos trabalhando com a terceira geração de biotecnologia de soja com novos modos de ação para controle de lagartas”, adiantou.

A especialista também discorreu a respeito da variedade de milho de baixa estatura que apresenta maior resistência ao quebramento, ao tombamento e, ainda por cima, permite ao produtor maior flexibilidade na aplicação de defensivos e fertilizantes.

O município de Petrolina é reconhecido como o maior polo agroindustrial de Pernambuco e o Centro de Desenvolvimento de Produtos da Bayer está entre as quatro unidades de Pesquisa da Divisão Agrícola mais importantes da companhia no mundo, sendo responsável pela criação de novas variedades de soja, milho e novas linhagens.

Além de debates e discussões em alto nível, o Fórum contou com a presença ilustre do ex-ministro da Agricultura e indicado ao Prêmio Nobel da Paz, Alysson Paulinelli.